EM UBERABA

Pesquisas realizadas na UFTM estimam o desperdício na aplicação de doses de vacinas

Publicado em 21/11/2023 às 06:08
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Análise da quantidade estimada de doses desperdiçadas devido ao RV nos anos de 2017 a 2021 no sistema de saúde brasileiro. A escala de cinza representa os anos e o número de doses estimadas desperdiçadas a cada ano, e a linha vermelha sólida representa o (Foto/Carlo Oliveira/UFTM)

O Laboratório de Imunologia e Bioinformática (LIB) da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), em colaboração com a Secretaria Municipal de Saúde de Uberaba, conduziu pesquisas abrangentes sobre o desperdício de doses de vacinas contra o Sars-CoV-2, o vírus responsável pela pandemia de COVID-19. Além disso, investigou as questões relacionadas aos desperdícios de doses de vacinas do Programa Nacional de Imunização (PNI). Ana Lucia Gonçalves de Jesus, profissional de vigilância epidemiológica em Uberaba, desempenhou papel essencial na linha de frente do combate à COVID-19. Ela observou que a cada aplicação da vacina contra o Sars-CoV-2, uma quantidade do imunizante permanecia retida dentro da seringa/agulha após a administração. Ana Lucia destaca: "Ao perceber essa quantidade de imunizante dentro da seringa/agulha, imaginei a oportunidade de aplicar mais vacinas, especialmente em um contexto de escassez de doses, como enfrentamos no início da pandemia. Busquei meios, como o LIB, para quantificar e disseminar informações sobre esse desperdício." 

O desperdício ocorre devido às limitações técnicas nas seringas/agulhas, conhecidas como espaço morto (EM), que impedem a completa expulsão do conteúdo imunizante durante a aplicação gerando uma sobra denominada Volume Residual (VR). Esse fenômeno é reconhecido por órgãos reguladores como a ABNT NBR ISO 7886-1, que estabelece que para seringas com volume igual ou inferior a 5 mL, o espaço morto pode atingir até 0,07 mL. Atualmente os suprimentos vacinais são classificados em dois grupos: aqueles com alto EM (AEM) e aqueles com baixo EM (BEM). Essa diferenciação de equipamentos influencia diretamente na quantidade de VR, resultando em um maior desperdício vacinal. 

O artigo publicado na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, intitulado "Understanding the Relationship between Vaccine Supply Dead Space and Wasted COVID-19 Vaccine Doses", conduziu uma série de testes utilizando diferentes combinações de seringa/agulha utilizadas durante a imunização na pandemia do COVID-19 no território brasileiro. A pesquisa estimou um desperdício de aproximadamente 62 milhões de doses de vacinas contra a COVID-19 ao utilizar a combinação com o menor EM, enquanto a combinação com o maior EM apresentou desperdício de aproximadamente 176 milhões de doses. Para Chamberttan Souza Desidério, pós-doutorando no LIB, "a diferença de 114 milhões de doses é atribuída à variação entre o EM dos suprimentos com AEM e BEM, sendo que os suprimentos BEM demonstram uma capacidade superior de expulsar o imunizante e, por conseguinte, resultam em menor desperdício de doses". Os achados desta pesquisa ressaltam que, mesmo ao utilizar os melhores suprimentos disponíveis no mercado brasileiro, o desperdício de doses de vacina contra a COVID-19 foi significativamente elevado. Este dado enfatiza a necessidade de atenção e melhorias na seleção e utilização de equipamentos para a administração eficiente de vacinas. 

Além disso, Yago Marcos Pessoa-Gonçalves, discente do curso de Medicina da UFTM e pesquisador principal, acrescentou que "as indústrias farmacêuticas, ao realizarem o envase da ampola vacinal, necessitam preencher parte dela com conteúdo destinado à imunização e adicionar outra parte devido o conteúdo que será desperdiçado, técnica denominada overfill, devido ao EM. Nossa crítica se concentra na regulação atual, que permite a produção de suprimentos vacinais com alto EM, elevando consideravelmente a necessidade de overfill. Isso resulta em menos produto imunizante disponível para envase, uma menor quantidade de ampolas envasadas, aumento nos gastos públicos e uma desaceleração no processo de cobertura vacinal." 

Os pesquisadores prosseguiram com a análise desse desperdício vacinal investigando como o Volume Residual (VR) impacta no PNI, responsável pela administração das vacinas do calendário vacinal do Ministério da Saúde. O artigo intitulado "Estimated quantification of residual volume in vaccines supplies and its impact on the Brazilian health system", e aceito para publicação nos Anais da Academia Brasileira de Ciências, examinou a aplicação de 11 imunizantes de 2017 a 2021, comparando diferentes agulhas, seringas e fabricantes, além de investigar combinações que resultam em menor desperdício. Os resultados indicaram um total de 32 milhões de doses desperdiçadas entre os imunizantes estudados. Para injeções intramusculares, o uso da agulha 20x5,5 mm, em comparação com a 25x6 mm, mostrou um VR significativamente menor. Ao comparar seringas de uso subcutâneo, uma Alto Espaço Morto (AEM) e outra Baixo Espaço Morto (BEM), observou-se uma diferença de 10% na taxa de desperdício. Para Henrique Champs Porfírio Carvalho, discente de Medicina e membro do grupo de pesquisa, "os dados destacam a urgência de otimizar a disponibilização de equipamentos com BEM, possibilitando assim um menor overfill, consequentemente maior envase de doses e redução de custos pelo PNI. Neste estudo, conseguimos demonstrar que a escolha da combinação seringa/agulha em detrimento de outra pode efetivamente economizar 10 doses de imunizante a cada 100 aplicações”. 

 Para o coordenador da pesquisa, professor Carlo Oliveira, “o aspecto intrigante reside no fato de que a iniciativa partiu diretamente da comunidade. Uma profissional de saúde do município procurou-nos para debater as necessidades da sociedade, uma questão que se tornou extremamente delicada nas fases iniciais da pandemia, dada a escassez de doses de vacinas contra a COVID-19, as quais estavam inicialmente destinadas a grupos restritos da população. Isso evidencia a relevância da ciência na compreensão das demandas populacionais e na formulação de soluções para situações futuras, como é o caso de pandemias”. 

As investigações do grupo não param por aqui. Atualmente estão sendo exploradas maneiras de aplicar essas descobertas no Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (HC-UFTM) para aprimorar os processos de saúde. O discente Yago Marcos Pessoa-Gonçalves, bolsista do Programa de Iniciação Tecnológica (PIT) Ebserh/CNPq (Processo 105348/2023-6), conduz o projeto "Análise do volume residual em seringas utilizadas no HC-UFTM e seu impacto orçamentário", sob orientação do professor Carlo Oliveira. Seu objetivo é investigar os custos associados ao VR no HC-UFTM, identificar os medicamentos com maior impacto financeiro, analisar em quais setores ocorre esse fenômeno e buscar estratégias para reduzir o desperdício. Paralelamente, o estudante do curso de Engenharia Mecânica da UFTM, Arthur Louzada, também bolsista do PIT Ebserh/CNPq (Processo 105303/2023-2), está dedicado ao projeto "Desenvolvimento de uma seringa com volume morto reduzido" sob orientação do professor Marcos Shimano. Seu trabalho visa criar uma seringa BEM que minimize o desperdício dos agentes aplicados. 

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