Pessoas com deficiência, idade mais avançada ou grupos de irmãos são mais difíceis de serem adotados (Foto/Ilustrativa)
Os desafios da adoção em Uberaba têm diferentes camadas. Apesar de serem, atualmente, 80 famílias à espera de um filho (a), há nove crianças aptos à adoção. O número revela um descompasso entre o perfil buscado pelos pretendentes e as características dos menores disponíveis, situação que se repete em todo o país. Pessoas com deficiência, idade mais avançada ou grupos de irmãos são mais difíceis de serem adotados.
Militante da causa, a vereadora Rochelle Gutierrez (PDT) trouxe os números de Uberaba à tona durante sessão plenária Legislativo autoriza concessão de área a Grupo de Apoio à Adoção, chamando a atenção sobre a quantidade de jovens institucionalizados, uma vez que, além dos nove menores aptos à adoção, há outros em processo de reintegração com as próprias famílias.
Na avaliação do juiz Marcelo Lemos, titular da Vara de Infância e Juventude da Comarca de Uberaba, a escolha do perfil é o principal entrave à adoção. “O cenário nacional retrata, não sendo diferente na Comarca de Uberaba, que o número de pretendentes à adoção é aproximadamente 10 vezes o número de crianças e adolescentes na condição de adotabilidade. Isto decorre porque o perfil escolhido por mais de 80% dos pretendentes não corresponde às características das crianças e adolescentes que, no momento, disponíveis”, explica o magistrado.
Ainda que não haja números locais específicos, o juiz confirma que crianças com deficiência, idade mais avançada ou inseridas em grupos de irmãos têm muito mais dificuldade de encontrar uma família. Essas barreiras são trabalhadas com sensibilização dos pretendentes e da sociedade como um todo a fim de possibilitar uma família para essas crianças ou adolescentes. "Temos uma ferramenta de busca ativa, que não observa o perfil anteriormente escolhido e nem a posição cronológica do pretendente, mas o pretendente tem que demonstrar interesse em conhecer a criança ou adolescente apta à adoção”, acrescenta o juiz.
Além disso, nem todos os menores acolhidos podem ser adotados. De acordo com Lemos, o processo legal exige que todas as tentativas de reintegração com a família de origem sejam esgotadas antes da adoção. Só depois disso é que o jovem se torna oficialmente apto à adoção. Por isso que, de 50 menores acolhidos, apenas nove estão aptos à adoção imediata em Uberaba.
“A situação envolve relações humanas, com escolhas afetivas e pessoais. Mas precisamos trabalhar a sensibilização de pretendentes e da sociedade para garantir o direito dessas crianças a viverem em família”, ressalta.
Quando a adoção não se concretiza até a maioridade, esses jovens recebem apoio com inserção no mercado de trabalho. No entanto, ele reconhece que as políticas públicas de acompanhamento a esses egressos ainda precisam avançar. “Os adolescentes aptos à adoção em que há dificuldade de integrar uma família são inseridos em trabalhos, visando sua autonomia e independência, para quando chegarem à maioridade e poderem conduzir a própria vida, mas as políticas de apoio a egressos de medidas de acolhimento necessitam melhorar e avançar bastante”, finaliza o magistrado.