Preço pago ao produtor cai a R$ 2,70 e crise ameaça atividade no Triângulo e Alto Paranaíba
Jônadan Ma, presidente da Comissão de Pecuária de Leite do Sistema Faemg/Senar, alerta para concorrência predatória e margens negativas no setor (Foto/Divulgação)
Minas Gerais é o maior estado produtor de leite do Brasil, com cerca de 9,3 bilhões de litros por ano, o que representa mais de 27% da produção nacional, segundo a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa). Cidades do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, como Patos de Minas e Patrocínio, estão entre os principais polos do setor. Mesmo com esse peso, os produtores mineiros vivem um momento crítico: o preço pago pelo litro de leite caiu para R$ 2,70 em agosto, referente à produção de julho, marcando a quarta redução consecutiva de acordo com levantamento do Cepea/Esalq-USP.
A queda ocorre em plena entressafra, quando o normal seria haver valorização, e tem deixado os pecuaristas sem margem. “Hoje o produtor mal cobre os custos. Não sobra para investir nem para recuperar prejuízos dos últimos anos”, afirmou Jônadan Ma, presidente da Comissão de Pecuária de Leite do Sistema Faemg/Senar.
Segundo ele, a desvalorização resulta da soma de dois fatores: um aumento de cerca de 9% na produção nacional no último trimestre e a entrada de derivados lácteos importados, como leite em pó e muçarela, da Argentina e do Uruguai. “É como se seis milhões de litros entrassem por dia no país. Essa concorrência desleal tira a competitividade do produtor brasileiro”, avaliou.
Jônadan Ma também denuncia uma distorção no setor: o consumidor não sente a queda no bolso. “Quando o leite desvaloriza, a indústria e o varejo não repassam o alívio para o supermercado. Mas quando há qualquer alta no campo, ela aparece imediatamente na gôndola. A fatia maior sempre fica com o atacado e o varejo, e isso é injusto”, criticou.
O dirigente ressalta que a atividade leiteira, embora estratégica, tem afastado produtores diante da dificuldade de se manter no negócio. “O leite é um bom negócio, mas só quando é bem conduzido e quando não sofre concorrência predatória. A cada crise, muitos produtores deixam a atividade”, disse.
Para tentar reverter a situação, a Faemg e a CNA pressionam o governo federal pela adoção de medidas contra importações predatórias da Argentina e do Uruguai. Paralelamente, oferecem capacitação e assistência técnica gratuita aos pecuaristas mineiros, para ajudar na gestão dos custos. “Se o produtor não consegue mexer no preço, pelo menos pode reduzir despesas e se tornar mais competitivo”, acrescentou Jônadan.
Mesmo em meio às dificuldades, há expectativa de recuperação nos preços com a chegada da safra. Mas o alerta é claro: se a desvalorização se prolongar, inclusive nos meses de maior produção, muitos produtores de regiões como o Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba não terão condições de permanecer na atividade.