NAS RUAS

Uberaba avança no controle de cães e gatos, mas ainda enfrenta desafios com abandono e doenças

Joanna Prata
Publicado em 11/11/2025 às 10:52
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Uberaba tem se destacado no cenário mineiro pelas ações de controle populacional de cães e gatos, mas o desafio de reduzir o número de animais nas ruas continua. De acordo com o médico-veterinário Cláudio Yudi, especialista em saúde pública e docente da Universidade de Uberaba (Uniube), o trabalho de castração e conscientização precisa ser permanente, já que a reprodução felina é muito mais acelerada que a canina. “A gata entra no cio mensalmente e pode ter até quatro ninhadas por ano. Sem o controle, a população de felinos cresce exponencialmente”, explica. 

O município realiza mutirões de castração e ações educativas, mas o especialista reforça que o problema não será resolvido apenas com campanhas esporádicas. “É preciso continuidade e envolvimento da comunidade. As ONGs e protetores fazem um papel fundamental, mas o tutor também deve ser responsável, mantendo seu animal castrado e vacinado”, acrescenta. Segundo ele, muitos dos cães e gatos encontrados nas ruas são, na verdade, animais abandonados ou semidomiciliados — que têm casa, mas circulam livremente pela cidade. 

O abandono segue como uma das principais causas do aumento da população de rua. “Grande parte desses animais teve um lar. O tutor muitas vezes permite que o cão ou o gato ‘passeie sozinho’ e não entende que isso é uma forma de negligência”, afirma Yudi. Além do sofrimento animal, o abandono está diretamente ligado a problemas de saúde pública, como a disseminação de doenças e acidentes envolvendo animais em vias públicas. 

Entre as doenças que preocupam os veterinários está a esporotricose, micose causada por fungos do gênero Sporothrix, que pode ser transmitida dos gatos para os humanos por meio de arranhões e ferimentos. A enfermidade, que surgiu no Rio de Janeiro e se espalhou por várias regiões do país, já tem casos confirmados em Uberaba. “A esporotricose é uma zoonose, mas tem tratamento. O importante é diagnosticar e tratar corretamente o animal, sem recorrer à eutanásia, que não é necessária”, explica o veterinário, lembrando que o Hospital Veterinário da Uniube tem atendido casos da doença.

Outro ponto em destaque é a figura do cão e do gato comunitário, reconhecida pela legislação municipal. Esses animais vivem em espaços públicos, mas sob o cuidado de um ou mais tutores responsáveis. “A lei permite o acolhimento comunitário, mas ele precisa ser responsável: o cuidador deve garantir alimentação, troca de água, castração e acompanhamento veterinário”, orienta Yudi. O modelo, segundo ele, ajuda a reduzir o abandono e melhorar o bem-estar dos animais que não têm um lar fixo. 

Apesar dos desafios, Uberaba é considerada uma das cidades mais organizadas em políticas de manejo populacional. “O município tem uma estrutura consolidada, com superintendência atuante, parcerias com universidades e apoio do Estado. Minas Gerais, inclusive, é referência nacional nessa área”, afirma Yudi. Ele lembra que o conceito de “Medicina Veterinária do Coletivo” — que integra saúde animal, humana e ambiental — vem ganhando força e pode futuramente sustentar políticas públicas de atendimento gratuito aos animais, nos moldes de um “SUS Animal”. 

Para o veterinário, o avanço depende da continuidade das políticas públicas e da mudança de comportamento da sociedade. “A responsabilidade é compartilhada. O poder público precisa ofertar os programas de controle, mas o tutor deve fazer sua parte, cuidando do seu animal, evitando o abandono e contribuindo para uma cidade mais saudável”, conclui.

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