Para especialista, o uso constante de aparelhos em sala de aula e até no recreio prejudica o desenvolvimento socioemocional e a aprendizagem dos estudantes
O uso constante em sala de aula e até mesmo nos intervalos compromete o desenvolvimento das crianças e adolescentes (Foto/Divulgação)
A coordenadora do programa de monitoramento da Universidade de Uberaba (Uniube), Renata Junqueira, defendeu a restrição do uso de celulares nas escolas, apontando prejuízos na convivência e no aprendizado dos alunos. Para ela, embora o celular possa ser útil em atividades pedagógicas, o uso constante em sala de aula e até mesmo nos intervalos compromete o desenvolvimento das crianças e adolescentes.
Renata destacou que a convivência escolar foi diretamente afetada pela presença dos aparelhos. Segundo ela, momentos como o recreio perderam sua função de interação social, já que muitos estudantes passaram a se isolar em seus dispositivos. “Essa questão impacta não só o tempo da criança, mas também o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, como lidar com frustração, limites e opiniões diferentes”, afirmou.
A educadora lembrou que países como Suécia e Finlândia, que antes apostaram fortemente na tecnologia em sala de aula, agora têm retomado práticas tradicionais, como o uso de livros, cadernos e espaços de convivência. Para Renata, o equilíbrio é fundamental: “A tecnologia tem benefícios, isso é indiscutível, mas precisa ser dosada”.
No Brasil, uma mudança legal recente já incorpora essas ideias. A Lei nº 15.100/2025, sancionada em janeiro de 2025, proíbe que estudantes utilizem celulares e outros aparelhos eletrônicos portáteis durante aulas, recreios ou intervalos em escolas públicas e privadas de educação básica.
Segundo a lei, há exceções: uso para fins pedagógicos com autorização, situações de necessidade, perigo ou força maior, inclusão, acessibilidade ou condições de saúde dos estudantes.
Renata sugere que esta lei encontra respaldo no que ela percebe no cotidiano escolar. A medida, embora não seja “simpática” para todos — alunos ou famílias —, é “necessária”, conforme sua avaliação.
Outro ponto levantado por ela é a necessidade de envolver também as famílias nesse processo. A professora citou situações em que pais e filhos, mesmo em restaurantes, deixam de dialogar por estarem cada um em seu celular. “Isso precisa ser alinhado dentro de casa e com a escola. Não pode ser apenas uma decisão isolada, mas um esforço coletivo”, pontuou.
Renata também avaliou que o Brasil ainda não está plenamente preparado para o uso intenso das tecnologias, apesar de ser um dos países que mais consome celulares. Ela defende a criação de disciplinas que orientem o uso responsável das ferramentas digitais e discutam temas como inteligência artificial, sempre em paralelo com a formação crítica e leitora dos estudantes.
Por fim, a coordenadora lamentou a perda de espaços tradicionais de estudo, como bibliotecas, que aos poucos têm sido deixadas de lado em razão da informatização. “Era muito bom passar horas em uma biblioteca, mas hoje até para doações de acervos está difícil encontrar quem queira receber”, comentou. Para ela, o desafio atual da educação é conciliar a tecnologia com a convivência e a formação integral dos jovens.