As competições dos atletas argentinos na Olimpíada de Paris-2024 não está fácil. Sempre que esportistas do país entram em complexos esportivos parisienses para disputar uma modalidade, eles são vaiados. O coro negativo tomou conta de estádios e arenas nos dois primeiros dias dos Jogos Olímpicos e não parece fazer distinção de esporte, atleta ou fama.
A reação do país-sede ocorre após o polêmico incidente envolvendo as seleções argentina e francesa de futebol. Durante a festa do título da Copa América, jogadores da Argentina foram flagrados cantando uma música racista e transfóbica que atacava os atletas da França.
O vídeo da canção viralizou nas redes sociais e se tornou um incidente diplomático. O governo argentino se recusou a pedir desculpas; a Federação Francesa de Futebol denunciou o caso à Fifa. A postura dos jogadores argentinos foi passiva e somente Enzo Fernández, que gravou o vídeo, se desculpou.
Em Paris, as primeiras vaias ocorreram durante a partida entre as seleções masculinas de futebol de Argentina e Marrocos. No jogo desta quarta-feira, o hino argentino foi vaiado. Em uma partida marcada por invasão de gramado e adiamento por 1h30, Marrocos acabou derrotando os sul-americanos.
As vaias se repetiram na partida de rúgbi seven entre Argentina e o Quênia, com novas vaias ao hino sul-americano. Qualquer ponto da seleção queniana era comemorado como se a equipe estivesse jogando em casa. No mesmo dia, a equipe enfrentou a Samoa e, mais uma vez, foi vaiada.
"Fiquei surpreso quando saímos para jogar contra o Quênia e a torcida começou a vaiar. Eu pensei: ‘Uau, o que está acontecendo?’, afirmou Gastón Revol, capitão do time argentino de rúgbi. "Mas tudo bem. Eu entendo que é por causa do futebol ou algo do tipo. Eles nos odeiam, mas eu posso lidar com isso. Ficaremos bem", finalizou.
Por ironia do destino, a seleção francesa de rúgbi se classificou para as quartas de final e enfrentou a própria equipe argentina no mata-mata da competição. Os sul-americanos eram favoritos, mas foram derrotados pelos franceses. Além das vaias ao hino e durante o jogo, a comemoração da arquibancada após a vitória foi ainda mais furiosa do que o comum.
ENTENDA A ACUSAÇÃO DE RACISMO NA COPA AMÉRICA
Na madrugada do dia 15 de julho, um vídeo viralizou com jogadores da seleção argentina cantando uma música racista e transfóbica contra a seleção francesa. O momento foi capturado pelo jogador Enzo Fernández, que fazia uma live no Instagram após a conquista da Copa América.
"Eles jogam pela França/mas são de Angola/que bom que eles vão correr/se relacionam com travestis/a mãe deles é nigeriana/o pai deles cambojano/mas no passaporte: francês", afirma a música. Ao perceber o que estava sendo cantado, o jogador do Chelsea alertou os colegas de que estava ao vivo e fechou a live na rede social.
O grito faz referência à ascendência dos jogadores franceses - muitos são filhos de imigrantes. Também se refere ao relacionamento não confirmado do atacante Kylian Mbappé com uma mulher trans, a modelo Inès Rau.
Enzo Fernández pediu desculpas pelo ocorrido. Em seus stories, Fernández reconheceu que a canção transmitida "contém linguagem ofensiva" e que não há justificativa para a cantoria argentina.
"Eu sou contra a discriminação em todas as formas e peço perdão por ter me entregado a euforia da nossa comemoração da Copa América. O vídeo, o momento e as palavras não refletem meus valores e meu caráter. Eu estou verdadeiramente arrependido", disse o volante.