Igor Paixão apontou o quanto o racismo está presente de forma sutil na sociedade (Foto/Twitter)
O atacante Igor Paixão se posicionou de maneira firme, em texto compartilhado nas redes sociais nesta quarta-feira, sobre a matéria publicada pelo jornal espanhol "AS", um dia antes, sob o título "Igor Paixão, o descendente de escravos que ameaça o Atlético de Madrid". Jogador do holandês Feyenoord, que perdeu por 3 a 1 para o Atlético na terça-feira, horas após a publicação ir ao ar, o brasileiro de 23 anos falou sobre o racismo na forma como a chamada foi escrita.
O jogador apontou o quanto o problema está presente de forma sutil na sociedade, mas classificou o caso do qual foi vítima como um exemplo explícito de comportamento racista. Também citou Vinícius Júnior, do Real Madrid, que sofre ataques constantes na Espanha e se tornou uma voz potente de combate ao preconceito nos últimos anos.
"Eles são sutis. Nem sempre deixam a mostra todo o preconceito que carregam por gerações e gerações. Eles são espertos. Porque na maioria das vezes se safam ao cometerem um dos mais hediondos crimes da história: o racismo. Nem sempre eles disfarçam, nem sempre são sutis e nem sempre são espertos. Às vezes são explícitos e descarados, resultado de anos e anos de impunidade. E esperam o momento certo para destilar o preconceito que carregam dentro de si", escreveu Igor.
"Nesta semana, foi a vez do Jornal AS, do país onde joga meu companheiro de profissão, de vida e de cor, Vinicius Junior, que sofre diariamente com o ódio de quem simplesmente não aprendeu a superar um mal que jamais deveria ter existido, mas que há tanto tempo é criminoso", afirmou Ao falar de minha trajetória, logo no título, o racismo "não-tão-velado": o descendente de escravos Fosse por minha realidade humilde, a mesma de muitos dos meus companheiros. Fosse por minha cor, a mesma de grande parte do mundo. Fosse por minha forma de ser ou a 'ameaça' que trago a eles. Fosse pelo que fosse, só há uma palavra para descrever isso: racismo", completou.
Igor Paixão foi criado em Macapá, no Curiaú, uma comunidade quilombola, como é chamado o grupo étnico composto por famílias remanescentes dos espaços de resistência criados por escravos fugitivos no Brasil Colônia, conhecidos como quilombos. O texto do "As" conta a história do jogador, diante do contexto do embate entre Feyenoord e Atlético de Madrid que aconteceria no mesmo dia., pela Liga dos Campeões. Além do título racista, a publicação escreveu, no subtítulo, que "o atacante provém de uma família de escravos". Depois da repercussão negativa, o termo foi alterado pelo jornal.
"Se somos descendentes de escravos, o somos porque fomos escravizados", escreveu Igor. "Nos roubaram de nossas casas, de nossas famílias, de nosso livre arbítrio e de nossas vidas. Mas hoje não somos mais. Somos livres para pensar, falar e ser o que queremos, e isso ninguém irá roubar de nós. Sutis, como são, dirão que "entendi errado o contexto", e irão disfarçar "tirando o texto do ar", e de forma esperta continuarão fazendo, com outros, e me tornarão um alvo. Mas tudo bem. Porque juntos somos mais fortes. Sempre seremos mais fortes. E nunca, nunca mais, caminharemos sozinhos. Racistas jamais passarão", completou.
O Coritiba, clube pelo qual o atacante foi revelado, respondeu o desabafo com uma mensagem: "Força sempre, Paixão! O Coritiba sempre estará com você'. Jogadores como o zagueiro Robert Renan, ex-Corinthians e hoje no Zenit, e Marinho, do Fortaleza, também demonstraram apoio.