
Disputa pela audiência - Globo deposita valores em juízo após ação do Flamengo (Foto/Arquivo)
A disputa entre Flamengo e os demais integrantes da Libra chegou ao ponto mais delicado nesta temporada do Brasileirão. O clube carioca obteve na Justiça do Rio de Janeiro, na noite de quarta-feira (24), uma liminar que impede a Rede Globo de efetuar o repasse de R$ 77,1 milhões diretamente aos cofres da liga. O montante deverá ser depositado em juízo até que o impasse sobre a divisão das cotas seja resolvido.
A decisão abre um novo capítulo em um conflito que se arrasta desde o início de 2025, quando o Flamengo passou a contestar a forma de cálculo do repasse vinculado à audiência. O estatuto da Libra estabelece que 40% dos valores são repartidos de maneira igualitária, 30% segundo a posição dos clubes na tabela e 30% conforme a audiência das transmissões.
É justamente este último critério que gera discórdia. Para a direção rubro-negra, a regra atual não detalha o peso de cada plataforma, especialmente do pay-per-view, principal fonte de receita de muitos torcedores. Na visão do clube, sem essa definição, a divisão é imprecisa e fere a necessidade de unanimidade prevista no estatuto.
No papel, a fórmula assinada em 2024 pelo então presidente Rodolfo Landim define que a audiência é medida pela soma de espectadores em jogos de mandante e visitante, dividida pelo total de público do campeonato. Mas o atual presidente, Luiz Eduardo Baptista (Bap), contratou o executivo Marcelo Campos Pinto para defender outra leitura: a distribuição deveria considerar o percentual de assinantes do Premiere, serviço de pay-per-view da Globo.
Se essa regra fosse aceita, o Flamengo teria direito a R$ 18,8 milhões na parcela paga em 25 de setembro, contra os R$ 17,4 milhões estabelecidos pelo modelo vigente. A diferença de R$ 1,35 milhão se repetiria em cada repasse até 2029, quando se encerra o contrato de R$ 1,17 bilhão por temporada.
A Libra rejeitou a proposta em votação de 26 de agosto, quando apenas o Volta Redonda apoiou o Flamengo. O Paysandu preferiu se abster e todos os demais clubes votaram contra. Sem apoio político, o clube da Gávea levou o tema ao Judiciário.
A desembargadora Lúcia Helena do Passo concedeu a liminar ao entender que há risco de prejuízo caso os pagamentos sejam feitos sob critérios contestados. Enquanto isso, a Libra prepara um recurso ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro na tentativa de liberar os valores.
A Globo, citada na ação, informou que não comenta casos que tramitam sob sigilo judicial.
O resultado é um cenário de incerteza. De um lado, o Flamengo busca garantir maior fatia do bolo da audiência; de outro, os clubes da Libra tentam preservar as regras aprovadas coletivamente. Até que a Justiça decida em definitivo, o dinheiro do Brasileirão ficará parado em juízo, simbolizando a queda de braço entre os dois lados.