ALUGUÉIS PODEM AUMENTAR

Após Caixa mudar regras de financiamento, juros de bancos sobem e mercado teme desaquecimento

Clientes precisarão dar pelo menos 30% do valor do imóvel de entrada pelo sistema de amortização SAC e 50% pelo sistema Price

O Tempo/Rodrigo Oliveira
Publicado em 24/10/2024 às 11:21
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Mercado prevê desaquecimento do setor da construção civil após mudanças anunciadas pela Caixa (Foto/João Godinho/O Tempo)

Mercado prevê desaquecimento do setor da construção civil após mudanças anunciadas pela Caixa (Foto/João Godinho/O Tempo)

O anúncio da Caixa Econômica Federal sobre a mudança nas regras de financiamento de imóveis com recursos da Poupança (SBPE), que passam a valer a partir de 1º de novembro, deve afetar não apenas o bolso do consumidor - que vai pagar uma entrada maior na hora de comprar um imóvel - mas também já provoca o aumento dos juros  em outros bancos. O Itaú Unibanco subiu sua taxa média de 10,49% para 10,79% ao ano + TR (Taxa Referencial), no início deste mês. O motivo disso é que as instituições privadas devem atrair parte dos consumidores que vão perder acesso ao crédito imobiliário pela Caixa.

Já o Bradesco, que oferece taxas de juros de crédito imobiliário a partir de TR + 10,49% a.a., afirma que avalia reajustes de olho no cenário atual, enquanto o Santander, com taxas a partir de 10,99% ao ano + TR, diz que a alta dos juros está prevista para ocorrer "em curtíssimo prazo". “Se o contexto e demanda atual se mantiverem, haverá alta de juros", afirma Sandro Gamba, diretor de negócios imobiliários do banco.

Além da mudança nos valores das cotas, a Caixa também anunciou que passará a financiar a compra ou a construção individual de imóveis que tenham valor de avaliação ou de compra e venda limitado a R$ 1,5 milhão. No modelo atual não existe limite na modalidade. O cliente também não poderá ter outro financiamento habitacional ativo com o banco. 

Além da alta de juros, entidades do mercado já temem o desaquecimento na construção civil. Raphael Lafetá, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG), classifica a medida como “abrupta” e aponta que poderá haver desaquecimento do mercado. Segundo ele, as construtoras vão precisar absorver o valor que antes era abarcado pelo financiamento, o que pode enfraquecer o caixa das empresas. 

“Isso pode levar à diminuição de empregos e da oferta de imóveis no mercado, uma vez que o setor estará mais inseguro diante das novas regras. Uma das consequências da baixa oferta é inflacionar ainda mais os preços dos imóveis, tornando o sonho da casa própria ainda mais distante”, analisa. 

De acordo com a Caixa, a redução do financiamento foi motivada pela crescente demanda por imóveis no mercado brasileiro e pelo maior volume de saques da caderneta de poupança - origem dos recursos utilizados para os empréstimos via SBPE. Segundo o Banco Central do Brasil (BC), a poupança registrou o maior volume de saques líquidos do ano em setembro: R$ 7,1 bilhões. Esse também foi o terceiro mês seguido de retiradas.

Em relação às contratações com recursos da Poupança (SBPE), a Caixa informa que é responsável por 48,3% das contratações dos financiamentos no país, correspondendo a R$ 63,5 bilhões das operações realizadas pelo banco até setembro deste ano. 

Leonardo Matos, diretor da Câmara do Mercado Imobiliário e Sindicato da Habitação de Minas Gerais (CMI/Secovi-MG), aponta que “o pagamento de dívidas” e a “baixa rentabilidade” da poupança motivam o alto número de retiradas. Segundo ele, a medida afetará principalmente a classe média, que financia imóveis entre R$ 300 mil e R$ 500 mil, e também poderá pressionar o mercado da locação. 

“Com a mudança nas regras, pode ser que as pessoas precisem morar por mais tempo de aluguel para economizar o valor da entrada. Assim, vai inflacionar ainda mais um mercado que já anda aquecido, podendo levar a um aumento dos preços.”

Considerando todos os tipos de financiamento da Caixa, já foram disponibilizados R$ 175 bilhões de crédito imobiliário até setembro deste ano, o que representa um aumento de 28,6% em relação ao mesmo período de 2023. 

Quais as soluções?

Os especialistas também apontam que não é de hoje que os recursos para o financiamento estão se tornando mais escassos. Segundo dados recentes do Banco Central do Brasil (BC), a caderneta de poupança registrou o maior volume de saques líquidos do ano em setembro, totalizando R$ 7,1 bilhões. Esse também foi o terceiro mês seguido de retiradas. 

Em 2023, a caderneta de poupança já havia encerrado com saldo negativo de R$ 87,8 bilhões. Foi o segundo maior resgate em um ano da série histórica, iniciada em 1995. Em 2022, a retirada recorde da poupança somou R$ 103,2 bilhões. “Fica o questionamento para o futuro, o que a Caixa vai fazer já que os recursos da poupança e do FGTS já não estão dando mais conta?”, questiona Matos. 

Já o presidente do Sinduscon-MG critica as alterações nas regras das Letras de Crédito Imobiliário (LCIs), cujo prazo mínimo de vencimento foi ampliado de 90 dias para 12 meses. “O governo poderia ajudar reduzindo esse prazo, o que aumentaria a liquidez, e liberando parte do compulsório de bancos para crédito imobiliário”, argumenta Lafetá.

Fonte: O Tempo

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