Mercado financeiro está de olho na Super Quarta, nas eleições dos EUA e nas promessas de Fernando Haddad
Depois de um encerramento complicado na semana passada, com o dólar cotado a R$ 5,87 - o maior valor no terceiro governo Lula -, o mercado financeiro demonstrou estar um pouco menos “tumultuado” nesta segunda-feira (4). Após um anúncio feito pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de que o Governo vai apresentar proposta de corte nos gastos, a moeda americana passou por uma forte queda nas primeiras horas do dia, chegando a R$ 5,769 no início da tarde.
O anúncio agradou aos investidores porque, para estes, o governo precisa ajustar as despesas para garantir a longevidade do arcabouço fiscal. O ministro viajaria para a Europa esta semana, mas cancelou após pedido do presidente da República. "Minha ida [à Europa] estava dependendo dessa definição, se esta semana ou semana que vem seriam feitos os anúncios. Como o presidente [Lula] pediu para eu ficar e como as coisas estão muito adiantadas do ponto de vista técnico, acredito que estejamos prontos esta semana para anunciar [o pacote]", afirmou Haddad.
Mas a queda do dólar nesta segunda-feira não garante uma semana mais tranquila no mercado financeiro. Está todo mundo de olho não somente nos planos do Governo Federal para 2025, como também nas eleições presidenciais dos Estados Unidos e na Super Quarta - nome dado para as divulgações das decisões sobre juros do Comitê de Política Monetária (Copom) e do Federal Reserve (Fed), o banco central norte-americano. Tudo isso pode interferir na cotação do dólar nos próximos dias.
De acordo com Paulo Casaca, economista da Associação Comercial e Empresarial de Minas Gerais (ACMinas), o mercado já conta com uma elevação de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros brasileira nesta quarta-feira. A previsão é que a Selic suba de 10,75% ao ano para 11,25%.
“Isso se deve ao tom duro do Copom por conta da desvalorização cambial, do aumento de projeção da inflação que o Boletim Focus capta acima do limite da meta. Sobre isso não há muita dúvida”, explica o economista. O mercado conta ainda com uma redução na taxa de juros nos Estados Unidos pelo Fed.
A grande incerteza, na verdade, é sobre a política norte-americana. Kamala Harris e Donald Trump estão tecnicamente empatados segundo diversas pesquisas e não se sabe como o mercado vai reagir conforme a decisão dos eleitores norte-americanos.
“O mercado não tem um favorito. Muita gente elogia a política do Trump de oferecer uma possibilidade de redução de juros para os empresários americanos, enquanto muita gente acha um risco uma elevação na alíquota de exportação para produtos estrangeiros, caso ele vença”, explica o economista.
Embora haja incerteza sobre o processo democrático nos Estados Unidos, possivelmente isso não vá impactar tão intensamente o valor do dólar por muitos dias. “O mercado já sabe o que fazer se um ou o outro ganhar, por isso não vejo mudanças num curto prazo”, explica Casaca.
O que pode, sim, afetar o câmbio é o pacote de cortes nos gastos que o Governo promete fazer esta semana. Esta notícia animou muitos investidores, mas pode ter efeito contrário, a depender de seu conteúdo. “A notícia desta segunda-feira é uma compensação positiva em cima das incertezas. Mas a gente precisa saber a extensão desse ajuste no orçamento. Se for insuficiente, o mercado pode tratar como uma notícia ruim”, argumenta.
Fonte: O Tempo.