ESTADO DE ATENÇÃO

Barragem em Ouro Preto entra em nível de alerta após vistoria encontrar rachaduras

A Agência Nacional de Mineração (ANM) está avaliando se há tendência de trinca progredir; plano de ação está em andamento

O Tempo
Publicado em 07/08/2024 às 17:58
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Barragem Forquilha V, em Ouro Preto (Foto/Reprodução/Google Earth)

Barragem Forquilha V, em Ouro Preto (Foto/Reprodução/Google Earth)

A barragem Forquilha V, localizada na mina de Fábrica, em Ouro Preto, na região Central de Minas Gerais, entrou em situação de alerta. Uma vistoria da Agência Nacional de Mineração (ANM), realizada nesta segunda-feira (5), identificou fendas na estrutura de rejeitos de minério de ferro. Conforme o acompanhamento da agência, a Forquilha V tem risco potencial alto, isto é, vidas humanas podem ser atingidas em caso de incidente ou rompimento. 

A causa das fissuras ainda não foi identificada. Em estado de alerta, a responsável pela barragem, a mineradora Vale, é obrigada a realizar inspeções diárias e encaminhar um relatório semanal com atualizações sobre o comportamento das fendas, além de tomar medidas corretivas. Caso, após 60 dias, os ajustes não sejam tomados ou forem eficientes, a ANM poderá elevar a barragem ao nível 1 de emergência.

De acordo com a mineradora, a estrutura "não sofreu alterações nas suas condições de estabilidade", mantendo as declarações de conformidade e operacionalidade positivas. A Vale informou que a própria equipe técnica da empresa identificou e comunicou a ocorrência à ANM. 

A estrutura da Forquilha V está sem operar desde 2023 e, conforme a mineradora, "é monitorada 24 horas por dia, 7 dias por semana pelo Centro de Monitoramento Geotécnico (CMG)".

Plano de ação 

A Agência Nacional de Mineração informou que foi exigida a limpeza das fissuras e o acompanhamento das fendas por extensômetros – os aparelhos medem se há tendência de progressão das rachaduras. 

Além disso, a instituição pediu um estudo de tensão-deformação "para auxiliar na determinação das causas prováveis e permitir o acompanhamento futuro de eventuais deformações na estrutura".

"A Vale reforça que a barragem Forquilha V não tem influência sobre outras barragens do complexo e não há comunidade e estruturas operacionais na sua Zona de Autossalvamento (ZAS)", acrescentou a mineradora. De toda forma, a ANM elenca que existem pessoas ocupando permanentemente a área afetada a jusante da barragem, além da "concentração de instalações residenciais, agrícolas, industriais ou de infraestrutura de relevância sócio-econômico-cultural". 

Impacto ambiental 

Ainda conforme a agência, o impacto ambiental relacionado à barragem Forquilha V é significativo. "Área afetada a jusante da barragem apresenta área de interesse ambiental relevante ou áreas protegidas em legislação específica (excluidas APPs)", descreve. 

A barragem Forquilha V

É uma barragem de rejeitos de minério de ferro em Ouro Preto, na região Central do Estado. Conforme a ANM, o volume atual do reservatório é de 2.680.000 m³. A estrutura possui uma contenção própria, capaz de segurar 67.719.070 m³ de rejeitos.

Estrutura Forquilha III também apresentou anomalia este ano 

A barragem Forquilha III, da Vale, também em Ouro Preto, está desde 2019 em nível 3 de emergência, que indica para o risco iminente de seu rompimento. Em abril, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) emitiu uma recomendação à mineradora cobrando maior transparência de seus atos, após a estrutura apresentar uma anomalia de pontuação 10 (a mais grave existente). A correção da trinca aconteceu no mesmo mês. 

Ouro Preto é a cidade com maior número de barragens de rejeitos em risco do país

Um levantamento feito por O TEMPO no Sistema de Gestão de Segurança de Barragem de Mineração (SIGBM), da Agência Nacional de Mineração (ANM), indicou que, em dezembro de 2023, existiam 51 barragens com algum nível de alerta em Minas Gerais, sendo que 26 delas sequer têm a estabilidade comprovada pelas empresas. Em todo o Brasil são 88 barragens sob algum alerta, ou seja, Minas tem quase 60% de todas as barragens que demandam alguma atenção do país.

As barragens com algum nível de risco estão distribuídas em 16 municípios mineiros, porém Ouro Preto é a cidade que aparece no topo do ranking negativo, com dez barragens sob risco, sendo cinco delas nos dois níveis de emergência mais altos (2 e 3). Além disso, seis destas barragens não tiveram a estabilidade comprovada pelas empresas. (com José Vitor Camilo)

O que diz a ANM? 

"As fissuras identificadas foram inspecionadas visualmente pelos fiscais da ANM, assim como os dados da instrumentação. Como resultado, foi exigida a realização de limpeza e acompanhamento com instalação de extensômetros, para verificar se há tendência de progressão ou estabilização.  Adicionalmente, exigiu-se a elaboração de um estudo de tensão-deformação para auxiliar na determinação das causas prováveis e permitir o acompanhamento futuro de eventuais deformações na estrutura. Foi instaurada situação de alerta para a estrutura, sendo obrigatório que a VALE S. A. realize inspeções diárias e encaminhe um relatório semanalmente, detalhando o comportamento das fissuras identificadas e elencando as medidas tomadas para a garantia da segurança do barramento."

O que diz a Vale? 

"A Vale esclarece que a barragem Forquilha V, localizada na mina de Fábrica, em Ouro Preto (MG), não sofreu alterações nas suas condições de estabilidade e permanece com Declaração de Condição de Estabilidade (DCE) e Declaração de Conformidade e Operacionalidade (DCO) positivas vigentes. Nesta segunda-feira (5/08), a Agência Nacional de Mineração (ANM) vistoriou a estrutura, após a equipe técnica da Vale identificar e comunicar a ocorrência de fissuras, sendo determinado pelo órgão a Situação de Alerta, o que não representa uma situação que altera as condições de estabilidade da barragem. Um plano de ação já está em andamento para diagnóstico e tratamento. A Vale reforça que a barragem Forquilha V não tem influência sobre outras barragens do complexo e não há comunidade e estruturas operacionais na sua Zona de Autossalvamento (ZAS). A estrutura está sem operar desde 2023 e é monitorada 24 horas por dia, 7 dias por semana pelo Centro de Monitoramento Geotécnico (CMG) da empresa."

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