COMPORTAMENTO

Brasileiros seguem apertados com dívidas, e 13º salário não traz alívio financeiro

Renda do final de ano traz desafios e possibilidades e especialista alerta que é preciso se organizar e controlar o ímpeto de gastar o dinheiro

O Tempo/Raphael Vidigal Aroeira
Publicado em 13/11/2024 às 11:52Atualizado em 13/11/2024 às 14:34
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O cerco policial elevou a tensão no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo no Natal de 1961, quando mais de 1.300 pessoas foram presas. No ano seguinte, o movimento sindical voltou à carga e convocou uma nova greve geral, que culminou com o que hoje conhecemos como 13º salário, sancionado pelo então presidente João Goulart (1919-1976), filiado ao Partido Trabalhista Brasileiro, e que seria deposto pelo golpe militar dois anos depois.

Na época dessa conquista histórica, o jornal O Globo estampou em suas páginas a seguinte manchete: “Considerado desastroso para o país um 13º mês de salário”. Todavia, o que a realidade brasileira revela é que, mesmo esse direito garantido desde então, não tem suprido as necessidades básicas da população.

“O dinheiro do 13º não dá pra investir em nada, é só pra comer mesmo. Pra sobreviver e mal. É tão pouco que não dá pra fazer nada”, afirma o motorista Jorge Cosme, de 68 anos, para quem a solução seria “aumentar o salário mínimo e baixar a inflação”. “Tudo dobrou de preço, falam que a inflação baixou, mas a gente não consegue ver isso”, reclama. A percepção é semelhante à do açougueiro Eduardo da Silva, de 48 anos. 

“O salário é muito pouco. Falta salário e sobra conta. Pelo andar da carruagem, está difícil a gente ter alguma melhora de vida”, opina Eduardo. Motoqueiro, Wellington Silva, de 38 anos, vai na mesma linha e cobra os políticos. “Meu 13º vai ser só pra pagar dívida e ainda vai faltar. O salário é só pra pagar conta, não dá pra nada. Com esses políticos que entram só para roubar, é daí para pior mesmo”, desabafa. 

A gerente administrativa Carla Andréia, de 58 anos, goza de uma situação financeira mais confortável que a maioria da população. Ela promete usar o 13º salário para “programar uma viagem de final de ano”. “Na idade que tenho, eu quero é viver o hoje, já trabalhei muito na minha vida para conquistar meus sonhos. Comigo não tem essa de guardar dinheiro não, a gente tem que viver o hoje”, reforça. 

Administradora, Clélia Rocha pretende guardar o dinheiro para “pagar os impostos do início do ano e realizar uma revisão” em seu carro. Ela, no entanto, faz uma avaliação para além de seu universo. “O momento está difícil para todos, o dinheiro está sumindo do mercado. É difícil, hoje em dia, guardar dinheiro. As pessoas estão utilizando para situações adversas, e o valor monetário do dinheiro está baixo”, salienta. Clélia ainda manda um recado para nossos governantes. “O importante é que eles saibam administrar de forma consciente nossos recursos. As áreas de saúde, educação, estão todas necessitando de socorro”, alerta.

Planejamento

A economista Cecília Perini apresenta um cenário na contramão das declarações colhidas na rua. Segundo ela, “o 13º é uma renda extra que traz um valor considerável para o orçamento das famílias”. “Utilizando-o de forma consciente, seja para o pagamento de dívidas que têm uma maior incidência de juros, investindo em produtos com renda fixa e liquidez diária, que te dão mais segurança para iniciar uma reserva de emergência, ou mesmo poupando para realizar um sonho maior, você poderá conquistar um equilíbrio financeiro e entrará o ano que vem mais tranquilo”, orienta. Atualmente, a taxa de juros básica do Brasil está em 11,25% ao ano, a terceira maior do mundo, atrás apenas de Turquia e Rússia. 

Cecília garante que, “independentemente da situação atual de cada um, se a pessoa começar a olhar para as próprias finanças e planejar os gastos de forma estratégica, a partir de agora, ela poderá ter um cenário mais confortável no próximo ano, e, quem sabe, dar uma outra destinação para o seu 13º”. “Todo mundo pode investir hoje em dia, existem produtos e oportunidade para todos os tipos de renda”, sustenta. Ela pondera que essa época do ano, marcada por festividades e por “um grande apelo do comércio, com liquidações como a Black Friday e mensagens emocionais” pode induzir a erros comprometedores. 

“Queremos agradecer quem amamos, mas não podemos nos empolgar e gastar tudo”, diz. Cecília recomenda “definir um valor máximo para comprar todos os presentes, e, se possível, destinar o restante do valor para o pagamento de dívidas, despesas mais onerosas de início de ano, formando e fortalecendo sua reserva de emergência”. Ao mesmo tempo, o final do ano também pode ser uma oportunidade para “refletir sobre nossas finanças e objetivos financeiros”. “Ter consciência da sua vida financeira te permite tomar melhores decisões de consumo e isso te ajudará a ficar mais tranquilo”, sublinha a especialista. 

Ela ressalta que é “comum acontecerem os feirões de oportunidade para liquidar as dívidas” nos últimos meses do ano. “Algumas instituições financeiras permitem que você faça amortizações, reduzindo, de forma significativa, o valor da parcela. Considere essa opção, pois ela te livrará das dívidas, trará mais saúde para o seu ‘caixa’, e, consequentemente, aumentará o seu poder de compra com o valor, já que pagará menos juros”, delineia Cecília.

Opções

A economista Cecília Perini oferece algumas opções de utilização do 13º salário para quem tem a sorte e conveniência de estar com as contas em dia. “Se programe para festas e despesas extras de final de ano e também para os compromissos de janeiro, como IPTU, IPVA, matrícula de escola, seguros, etc.”, enumera ela, que também incentiva o investimento. “Pensar em ter uma reserva é importante para conseguir atingir seus objetivos e também se programar para ter um futuro com mais tranquilidade”, avalia a especialista.

Entre os erros mais comuns entre aqueles que acabam se complicando com o 13º salário, Cecília cita o hábito de “gastar antes de receber”. “Muitas pessoas já comprometem o 13º com o cartão de crédito, e, quando recebem, não conseguem sentir a sensação de ‘alívio’ que o recurso extra poderia proporcionar”, pontua.

Ela afirma que já existem diversas planilhas e aplicativos gratuitos na internet que auxiliam as pessoas a lidarem com sua vida financeira, e acredita que esse assunto deve ser “prioridade para as pessoas e famílias”. “Podemos e devemos, inclusive, começar a conversar sobre dinheiro com as crianças desde cedo, de forma adequada ao universo delas, é claro, para criar essa mentalidade de educação financeira”, finaliza Cecília. 

Fonte: O Tempo

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