ERRO MÉDICO

Cirurgião-dentista é indiciado por morte e erros em procedimentos e pode ficar 104 anos preso

O investigado está impedido de exercer a profissão de cirurgião-dentista ou executar procedimentos estéticos até decisão de sentença penal

O Tempo/Luana Queiroz
Publicado em 23/08/2024 às 15:17
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Anestésico que só poderia ser utilizado por médicos em ambientes hospitalares foram encontrados na casa do dentista. Carimbos e blocos de médicos que prescrevem receitas para pacientes também foram apreendidos (Foto/PCMG/Divulgação)

Anestésico que só poderia ser utilizado por médicos em ambientes hospitalares foram encontrados na casa do dentista. Carimbos e blocos de médicos que prescrevem receitas para pacientes também foram apreendidos (Foto/PCMG/Divulgação)

O cirurgião-dentista investigado pela Polícia Civil por nove lesões corporais, homicídio doloso - quando há a intenção de matar - e uma violação sexual está impedido de exercer atividades profissionais. Na casa dele foram encontrados anestésicos de uso exclusivo de médicos em ambientes hospitalares, a mesma substância que matou Michael Jackson, e carimbos e blocos usados somente por médicos para prescrição de receitas a pacientes, supostamente furtados, também foram apreendidos. As informações são da Polícia Civil e foram divulgadas em coletiva nesta sexta-feira (23).

Segundo a corporação, ao menos nove vítimas sofreram lesão corporal devido à negligência do dentista. Conforme a investigação da PC, o grau desses erros médicos variam entre leve e gravíssimos. Algumas pacientes tiveram partes da face paralisadas e complicações no olho, boca e mandíbula. 

Uma das vítimas do cirurgião-dentista morreu no dia 13 de abril e segundo os investigadores, o anestésico propofol, que só poderia ser administrado por anestesiologistas, foi encontrado no corpo da vítima durante a biópsia. A mulher tinha 63 anos e fez vários procedimentos no rosto retocando a sobrancelha, bochecha, olhos e nariz.

Ainda de acordo com a investigação, a parada cardiorrespiratória sofrida pela vítima teria sido provocada por administração imprópria do anestésico durante a realização do procedimento em consultório. Esse tipo de tratamento só pode ocorrer em ambiente hospitalar. A mulher foi liberada para casa e sem explicações do ocorrido, mesmo tendo sido reanimada com a ajuda de adrenalina, segundo os policiais. Ela morreu depois de ter uma segunda parada e ter sido internada. 

“Ele sabia que não poderia realizar procedimentos estéticos, pois já tinha sido negado duas vezes pelo Conselho Federal e ele continuou fazendo isso nas pacientes. (...) Até a enfermeira dele disse que a vítima teve parada cardiorrespiratória. Tiveram que usar adrenalina para ela voltar”, afirmou a delegada responsável pela investigação Andrea Pochmann. 

No ano passado, o dentista solicitou à Justiça a anulação da decisão do Conselho Federal de Odontologia (CFO)  que impedia dentistas de realizarem procedimentos estéticos, para que ele continuasse em exercício. Mesmo com duas instâncias negadas pelo órgão regulador federal, o profissional continuou se promovendo e exercendo a profissão. 

Durante a liminar federal, os conselheiros do Conselho Regional de Odontologia de Minas Gerais (CRO-MG) teriam garantido que bucomaxilofaciais (especialistas responsáveis por procedimentos e intervenções cirúrgicas em áreas que envolvem a boca, o maxilar, o pescoço e o nariz) poderiam executar procedimentos estéticos faciais. Em função disso, profissionais de outros Estados estariam atuando em Minas, mesmo contrariando as determinações do órgão federal. Porém, a PC entendeu que a liminar federal está acima dessa decisão. Por essa razão, alguns conselheiros com atuação em Minas foram substituídos e não poderão voltar para os cargos, em nenhum outro momento, por terem sido omissos diante do trabalho do cirurgião-dentista. O órgão regulador estadual vai contar com novos conselheiros que estarão no exercício por 180 dias até uma nova votação interna.

O dentista está sendo investigado por homicídio doloso qualificado - quando tem a intenção de matar -, lesão corporal, de leve a gravíssima podendo ficar recluso de dois a oito anos por cada vítima, e exercício ilegal da profissão odontológica. Ele pode cumprir pena prisional que varia de 24 anos e seis meses a 104 anos. A investigação de violação sexual denunciada por uma das vítimas está sendo investigada pela Delegacia da Mulher. 

Fonte: O Tempo

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