
Brasil sedia a COP pela primeira vez (Foto/Tânia Rego/Agência Brasil)
A 30ª edição da Conferência do Clima da ONU começa nesta segunda-feira (10/11) em Belém e marca a estreia do Brasil como anfitrião do evento mundial. Veja abaixo quais as origens do evento, os objetivos do encontro, as polêmicas envolvendo a COP30 e se o país que vai sediar o próximo encontro já foi definido.
O que é a COP?
A Conferência das Partes (COP) é o principal fórum global sobre mudanças climáticas, reunindo governos, empresas, cientistas, juventudes e comunidades tradicionais para construir caminhos coletivos diante da emergência climática.
Qual a origem do evento?
A COP teve sua origem na Conferência Rio-92, onde foi firmada a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. Esse tratado internacional estabeleceu o compromisso de diversos países em controlar e reduzir as emissões de gases de efeito estufa, servindo como fundamento institucional para a criação das COPs. A primeira COP foi realizada em Berlim, na Alemanha, em 1995.
Quais os objetivos do encontro?
Durante o encontro são definidas metas, tratados e mecanismos para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e enfrentar os impactos da crise climática. De acordo com Fábio Marques, professor do Centro AgroAmbiental da Fundação Dom Cabral (FDC), a mudança do clima é um problema reconhecido por muitos como o maior problema da história de ação coletiva da humanidade e para isso tem que ter uma coordenação multilateral.
“Se os países não se coordenarem é muito difícil resolver um problema. Então, o objetivo geral é avançar nas negociações multilaterais que envolvem todos os países que assinaram o tratado (são mais de 190) no enfrentamento da mudança do clima”, explica.
Quais serão os principais temas em discussão neste ano?
De acordo com Marques, mais de 20 temas são negociados anualmente entre os países. Neste ano, o professor aposta em pautas como o financiamento do mercado de carbono, fundo para indenizar perdas e danos, questões relacionadas à transparência, como verificar as reduções de emissões e o monitoramento dos países.
“Além de discutir como atacar a causa dos problemas, também deve ser debatido como a humanidade pode se adaptar à mudança do clima que já vai ocorrer independentemente dos esforços que vão ser feitos para resolver o problema”, avalia.
Quais resultados concretos são esperados?
O especialista afirma que uma das principais expectativas para a COP 30 é o aumento da pressão para que países ricos elevem o financiamento climático, estimado em US$ 1,3 trilhão/ano, muito acima dos US$ 300 bilhões acordados na COP 29 em Baku, no Azerbaijão, no ano passado.
“Existe um esforço para que nessa COP haja algum avanço nesse sentido. Não sei se necessariamente os países vão cravar um novo número, mas a expectativa é que haja um avanço de alguma forma nessa área”, aponta.
O Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês), em que os rendimentos serão repassados a países com florestas tropicais que cumprirem metas de desmatamento, também é outra expectativa.
Algum país importante deixará de comparecer ao evento?
Principal emissor histórico de gases do efeito estufa, os Estados Unidos passaram a ignorar a agenda climática desde que o presidente Donald Trump assumiu o poder, em janeiro deste ano. O governo americano não enviou nenhum representante à COP30 e, em discursos recentes, Trump tem negado a transição energética e defendido o carvão mineral, um dos principais combustíveis fósseis.
Como se deu a escolha do Brasil para sediar a COP?
A movimentação para que a conferência fosse realizada no Brasil começou em 2022, durante a COP27 no Egito. Em discurso na conferência, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pediu para sediar o evento, destacando a importância da Amazônia para o mundo.
Em janeiro de 2023, o Itamaraty formalizou a candidatura de Belém junto à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), e o Brasil conseguiu apoio unânime dos países latino-americanos para indicação.
A escolha de Belém foi feita em consenso durante sessão plenária da COP 28, realizada em Dubai, em dezembro de 2023.
Qual a importância de o Brasil sediar uma COP?
Para Marques, é uma oportunidade de fato muito relevante para o país exercer um potencial de protagonismo no cenário mundial. “É uma chance para que o mundo veja com mais proximidade a realidade de países em desenvolvimento e conhecer os desafios em relação ao combate à pobreza, a conciliar progresso econômico e conservação e proteção ao clima. É uma oportunidade importante para o país”, garante.
Quais as principais polêmicas em relação ao evento no Brasil?
A cidade tinha metade dos leitos necessários para hospedagem quando foi anunciada para sediar o evento. Em 2023, como parte do esforço de ampliar os leitos em Belém, o governo do Pará determinou isenção do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) a empreendimentos de hospedagem que quisessem comprar mobiliário novo. Isso levou várias hospedagens, incluindo motéis, a adaptar suas instalações para receber participantes do evento.
Anúncios de suítes custando R$ 15 mil a diária e de apartamentos anunciados por quase R$ 1 milhão para 11 noites viralizaram e causaram até uma crise internacional para a organização da COP. Representantes de 25 países chegaram a assinar uma carta na qual sugeriam que o evento fosse realizado em outra cidade, caso os preços não se adequassem. Já a ONU chegou a pedir ao Brasil para subsidiar hospedagens de países mais pobres.
Além disso, participantes da COP30 em Belém enfrentam preços exorbitantes para alimentação dentro do centro de eventos, com um simples café custando R$ 30 e refeições típicas paraenses chegando a R$ 110. Delegações de países em desenvolvimento são particularmente afetadas pelos valores inflacionados.
As polêmicas podem afetar o resultado do evento?
O professor da FCD admite que Belém não tem a mesma estrutura que outras cidades que tradicionalmente recebem a COP tem e isso trouxe desafios para o governo e para a sociedade. Porém, ele aponta que possíveis impactos só poderão ser avaliados após o final do evento.
“Quando tudo terminar é que vamos avaliar até que ponto esses desafios operacionais e logísticos resultaram em algum impacto substantivo que tenha comprometido a credibilidade do evento. O governo tentou manejar isso na medida possível, mas certamente não é algo fácil”, diz.
Onde será a próxima COP?
O país que vai sediar a próxima edição do evento ainda não foi definido. “Mas, as informações informais que a gente tem é que a Austrália tem interesse em sediar, assim como a Turquia parece ter interesse também. Ao que tudo indica, no final do evento saberemos onde será a COP31”, aposta Marques.
Fonte: O Tempo