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De celebridades como Anitta a anônimos: por que o OnlyFans faz tanto sucesso?

Plataforma criada em 2016 já ultrapassa os 100 milhões de usuários e distribui anualmente US$ 5 bilhões a criadores de conteúdo

O Tempo
Publicado em 03/04/2023 às 07:26
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Anitta, em divulgação da série "Elite" (Foto/Divulgação/Redes Sociais)

Depois de anos trabalhando em multinacionais como a Ambev e a Nestlé, Natali Conti decidiu que era o momento de se reinventar. “Eu estava cansada porque, no final das contas, era sempre a mesma coisa, e eu queria fazer algo que tivesse mais a minha cara. Queria ter mais liberdade”, conta. O ano era 2020, e Natali havia decidido montar um restaurante junto com a família. A pandemia da Covid-19 não demorou a chegar, e, com isso, tornou-se difícil manter o novo negócio. “Um ano depois a gente acabou fechando. Mas, alguns meses antes, uma foto minha acabou viralizando e ganhei muitos seguidores, principalmente de outros países”. Diante da necessidade de ganhar dinheiro, principalmente em meio à crise econômica instalada durante o período pandêmico, Natali viu a chance de monetizar a nova leva de pessoas que começavam a acompanhá-la nas redes sociais.  

“No início, eu fiquei me questionando, porque era uma quebra de barreira com a família, com os amigos. Também pensava sobre quem ia querer pagar para me ver, já que eu tenho um corpo que não está dentro dos padrões”, lembra. Mesmo diante de questionamentos, Natali decidiu dar uma chance à produção de conteúdo e abriu uma conta no OnlyFans. Quando se preparava para iniciar o trabalho, ela teve o perfil do Instagram – principal meio de divulgação para o serviço utilizado por ela – hackeado. Anúncios de eletrodomésticos falsos, venda de espaços no “close friends” – ferramenta que permite que o conteúdo seja entregue a apenas uma parte dos consumidores. Tudo isso foi feito sem o consentimento da produtora, que, com a conta recuperada, notou que havia, sim, uma oportunidade financeira vendendo suas fotos.  

O trabalho teve início, e Natali decidiu que não produziria um conteúdo explícito – embora o OnlyFans tenha uma imagem fortemente ligada à pornografia e à nudez, o site não se resume a isso. “Procurei me aprofundar mais e comecei a trabalhar com a plataforma. Deu muito resultado. Logo no primeiro dia, eu tinha ganhado muito mais que com meus outros empregos, até mesmo com os bônus”, recorda. O sucesso inicial, porém, não subiu à cabeça, e a produtora de conteúdo pensou que teria o número de seguidores diminuído após os primeiros meses, principalmente porque não oferecia fotos de nudez explícita. “Mas eu me enganei. Teve recorrência, fui postando mais fotos e meu perfil cresceu para mais de 100 mil seguidores em um mês. Hoje, já vivo com o que ganho com criação de conteúdo”, conta Natali. Ela, que chegou a trabalhar como sommelier na Ambev, diz que atualmente ganha de quatro a cinco vezes mais que nas multinacionais que trabalhou.  

A história do sucesso alcançado pela produtora no OnlyFans, porém, não é a única. Não por acaso, a plataforma acumula mais de 1,5 milhão de criadores de conteúdo ao redor do mundo e já paga cerca de US$ 5 bilhões anualmente a eles, conforme dados disponibilizados pela própria empresa. De fato, a plataforma pode ser considerada um fenômeno. Tanto que chega a atrair também famosos, como Anitta, a ex-chacrete Rita Cadillac, a jornalista Regina Volpato e até mesmo atletas, como a ex-BBB e jogadora de vôlei Key Alves, o lutador brasileiro Charles do Bronx e o ex-jogador de futebol Fábio Braz.  

Segundo Victor Hugo de Souza Barreto, doutor em antropologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF), todo esse fenômeno pode ser explicado por vários fatores. “Acho que tem um pouco desse momento de a gente viver em uma sociedade meio exibicionista em que as pessoas vivem nessa coisa de se colocarem nas redes sociais”, pontua. Barreto observa que esse é um movimento que começa pelo êxito das redes sociais. “O apelo pela imagem e pelo vídeo começa a ser cada vez maior. Há algo que é chamado de pornificação de si, que diz sobre a gente se vender de uma forma pornográfica, mas não necessariamente em uma relação com o sexo e a nudez. É mais sobre a exibição tão nua e crua da gente, do que pensamentos, de quem a gente é e do uso diário que fazemos das redes”, explica.  

A oportunidade de ganhar dinheiro também não fica de lado como um atrativo para o uso do OnlyFans. “Já existe esse hábito de se mostrar, então, quando as pessoas percebem que há uma possibilidade de gerar uma renda através disso, acaba sendo também um grande atrativo. Não é à toa que o momento em que a plataforma explode no Brasil é durante a pandemia, um período em que as pessoas estavam com dificuldade de dinheiro e viram ali uma possibilidade de lucrar”, explica. 
O crescimento durante a pandemia, aliás, não foi exclusivo no país. Conforme dados do OnlyFans, a plataforma atinge um pico de 50 milhões de usuários em 2020 e, em janeiro de 2021, ultrapassa os 100 milhões – número dez vezes maior que o registrado em 2019, quando a plataforma, criada em 2016, chegou aos 10 milhões de usuários.  

Com tanta importância no cenário virtual, não é de se estranhar que exista também um apelo para que figuras já conhecidas criem contas na plataforma. Conforme Barreto, esse é um movimento que pode significar, além da busca por renda, também uma chance de que artistas que já caíram no esquecimento, ganhem uma nova oportunidade de voltarem aos holofotes. “Isso não é novo, já aconteceu, por exemplo, com o Alexandre Frota, quando ele começou a fazer pornografia”, exemplifica.  

Para além desses fatores, o OnlyFans também surge como uma forma de que artistas e celebridades se aproximem do público. “Junto dessa dinâmica de sociedade exibicionista, há essa forma influencer de se relacionar com os fãs, algo que exige que as celebridades criem um relacionamento mais próximo. Não é mais aquela coisa distante, aquela pessoa em um palco, em um show, que você não consegue se aproximar. A forma de estrelato hoje exige uma proximidade maior com as pessoas, e vejo a plataforma como uma maneira de criar isso, principalmente pela ideia de conteúdo exclusivo, de ter acesso a algo que não é todo mundo que vai ter”.

Fonte: O Tempo

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