ESPECIAL GEOPARQUE

De tese de Doutorado ao sonho de chancela da Unesco

Daniela Miranda
Publicado em 28/07/2023 às 06:49Atualizado em 28/07/2023 às 09:11
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Luiz Carlos Borges Ribeiro apresenta os fósseis encontrados em Peirópolis ao avaliador da Unesco (Foto/Divulgação PMU)

Luiz Carlos Borges Ribeiro apresenta os fósseis encontrados em Peirópolis ao avaliador da Unesco (Foto/Divulgação PMU)

Há quase uma década, o geólogo Luiz Carlos Borges Ribeiro vislumbrou a possibilidade de transformar Uberaba em um geoparque e decidiu dedicar sua tese de doutorado a esse ambicioso projeto. A pesquisa, apresentada em 2014 com o título de "Projeto Geoparque Uberaba - Terra dos Dinossauros do Brasil", abriu caminho para o sonho de conquistar a cobiçada chancela da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Ao longo dos anos, esse sonho tem se fortalecido, e agora está mais próximo de se tornar realidade, com a visita de avaliadores da Unesco à cidade nesta semana.

A tese de doutorado de Luiz Carlos Borges Ribeiro, com extensas 231 páginas, foi apresentada na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “No trabalho foram apresentados dados paleontológicos, desde os primeiros fósseis descobertos ao acaso, no ano de 1945, durante a construção de um trecho ferroviário próximo à estação de Mangabeira. De lá para cá, Uberaba foi palco de achados únicos no Brasil, com destaque para o maior dinossauro [Uberabatitan ribeiroi], o maior número de espécies encontradas e a primeira descoberta de ovo de dinossauro”, conta Luiz Carlos ao Jornal da Manhã.

Após a pesquisa, Luiz Carlos Ribeiro passou a participar de reuniões de geoparques ao redor do mundo, onde teve a oportunidade de apresentar seu trabalho ao renomado geólogo francês Guy Martine, membro da Rede Europeia de Geoparques. Martine, com sua vasta experiência no assunto, sugeriu que o nome do projeto fosse alterado, já que limitá-lo a ser apenas "Terra dos Dinossauros do Brasil" seria ignorar todos os outros aspectos geológicos, culturais e históricos que Uberaba poderia oferecer.

A riqueza paleontológica de Peirópolis pôde ser constatada no museu pelos visitantes (Foto/Divulgação PMU)

A riqueza paleontológica de Peirópolis pôde ser constatada no museu pelos visitantes (Foto/Divulgação PMU)

Em 2017, Luiz Carlos Ribeiro e representantes da Prefeitura Municipal de Uberaba (PMU), da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) e da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) se reuniram para discutir a possibilidade de tornar o Projeto Geoparque Uberaba uma realidade. “Nessa época, o nome foi alterado para 'Terra de Gigantes', pois a mudança de nome reflete a importância da espiritualidade, representada por Chico Xavier, a relevância da pecuária associada ao gado Zebu e, é claro, a riqueza geológica do local, incluindo os fascinantes dinossauros”, explica.

Em um importante marco, no mesmo ano de 2017, os representantes assinaram o Protocolo de Intenções para a criação do “Projeto Geoparque Uberaba - Terra de Gigantes”, com a participação do SEBRAE, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas, como a quarta instituição consignatária. A inclusão do SEBRAE visa impulsionar as ações de desenvolvimento econômico do projeto.

Prefeita Elisa e o secretário Rui Ramos acolheram os avaliadores da Unesco na segunda-feira, no Centro Administrativo da Prefeitura (Foto/Divulgação PMU)

Prefeita Elisa e o secretário Rui Ramos acolheram os avaliadores da Unesco na segunda-feira, no Centro Administrativo da Prefeitura (Foto/Divulgação PMU)

Para se tornar um geoparque oficializado pela Unesco, Uberaba precisa passar por três fases cruciais: Projeto, Aspirante e Selo Geoparque. A primeira fase, liderada por Luiz Carlos Ribeiro, coletou informações importantes, mas ainda sem um contato direto com a Unesco. Na segunda fase, conhecida como Aspirante, o projeto foi enviado pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil (Itamaraty) à Unesco, tornando-se Aspirante a Geoparque.

O Geoparque de Uberaba se encontra na terceira fase, a do Selo Geoparque. A presidente do Conselho Municipal de Turismo, Paula Cusinato, explica que foi elaborado e enviado um dossiê de candidatura acompanhado por uma carta de manifestação de interesse em 2022. “Agora recebemos os avaliadores para realizar uma missão de avaliação em campo”, afirma Cusinato.

O Geoparque de Uberaba se encontra na avaliação da terceira fase, que é a Selo Geoparque. A presidente da Associação Geoparque de Uberaba e do Conselho Municipal de Turismo (Comtur), Paula Cusinato, explica que foi elaborado e enviado um dossiê de candidatura acompanhado por uma carta de manifestação de interesse em 2022. “Nós escolhemos alguns pontos mais importantes do território para mostrá-los para os avaliadores. Não conseguimos visitar todos os locais e atrativos que existem em Uberaba. Fomos obrigatoriamente aos geossítios de relevância internacional, pois isso era uma visita obrigatória e tenho que validar que tem sido muito positivo, a visita tem sido muito bem avaliada, alguns lugares têm chamado muita atenção dos avaliadores”, destaca Cusinato.

A decisão final sobre a chancela do Geoparque Uberaba como geoparque global certificado pela Unesco está prevista para ser anunciada no início do próximo ano. “Eles dão várias recomendações e dicas muito importantes para os próximos trabalhos que vamos executar. O direcionamento vem muito da avaliação que eles vão fazendo ao longo do território. Então, vai criando novos atrativos, as pessoas vão entendendo o que é o geoparque e quais são seus benefícios. Investimentos podem ser atraídos, gerando renda e emprego, tudo isso é muito importante. E o trabalho não termina com a chancela. A cada quatro anos, o geoparque é reavaliado, e novos projetos têm que estar em andamento, novos atrativos sendo criados para dar continuidade a um projeto de gerações”, acrescenta Paula Cusinato.

“Se esse sonho se tornar realidade, Uberaba se consolidará como um destino turístico, de pesquisa e negócios, onde a história geológica, cultural e espiritual do local será apreciada e preservada para as futuras gerações”, finaliza Paula Cusinato. É o que todos queremos!

Presidente da Associação Geoparque, Paula Cusinato, recebe o avaliador Arthur (Foto/Acervo Pessoal)

Presidente da Associação Geoparque, Paula Cusinato, recebe o avaliador Arthur (Foto/Acervo Pessoal)

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