No Brasil, entre 5% e 10% das doações são perdidas por problemas no transporte (Foto/Divulgação/HCUfmg)
Nesta sexta-feira, 27 de setembro, o Brasil comemora o Dia Nacional da Doação de Órgãos, um tema urgente para mais de 40 mil pessoas que aguardam na fila de transplantes, segundo o Ministério da Saúde. Embora o foco normalmente esteja nos doadores, outro ponto crítico tem impacto direto no sucesso dos transplantes: o transporte dos órgãos. Um dispositivo inovador, criado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), promete resolver parte desse desafio logístico, contribuindo para reduzir as perdas de órgãos durante o processo de transferência.
Conforme a Organização Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), entre 5% e 10% das doações são perdidas por problemas no transporte, que muitas vezes é inadequado para garantir a integridade dos órgãos. Essa situação pode ser agravada pela falta de infraestrutura e capacitação, além de processos logísticos complexos. Para ajudar a enfrentar esse problema, a UFMG desenvolveu um novo dispositivo projetado para oferecer mais segurança e eficiência no transporte de órgãos para transplantes.
O dispositivo, que teve seu pedido de patente depositado pela UFMG em julho deste ano junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), foi idealizado pelo ex-aluno de Design da universidade, Wallace Terra. A solução surgiu como parte de seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e foi desenvolvida em parceria com a equipe do Hospital das Clínicas da UFMG.
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"Durante minha graduação, sempre pensei em como usar meu conhecimento em logística, e ao ver os problemas no transporte de órgãos, vi uma oportunidade de melhorar esse processo", comenta Terra. A tecnologia é feita de polipropileno, um termoplástico que oferece leveza e resistência, além de ser de fácil manuseio pelas equipes médicas.
Vantagens do dispositivo
O grande diferencial do novo dispositivo está na forma como ele minimiza os impactos físicos ao órgão durante o transporte. A parte interna conta com uma bolsa de silicone que suspende o órgão em meio a uma solução aquosa, evitando que ele sofra choques. “Nos modelos atuais, há risco de o órgão congelar ou ser danificado por falta de monitoramento adequado da temperatura”, explica Marcelo Sanches, professor da Faculdade de Medicina da UFMG e um dos colaboradores do projeto.
Além disso, o dispositivo possui uma alça adaptada que facilita o transporte em diferentes posições, seja em deslocamentos horizontais ou verticais, como ao subir escadas ou carregar a caixa no porta-malas de um carro. Com essa inovação, a equipe médica pode realizar o transporte de forma mais eficiente e com menos riscos de danificar o órgão.
A professora Laura Cota, orientadora do projeto, e Luan Moura, coorientador do Centro Universitário Teresa D’Ávila (Unifatea), também contribuíram para o desenvolvimento da tecnologia, que foi aprimorada ao longo de um ano de trabalho colaborativo com os profissionais do Hospital das Clínicas.
Perspectivas para o futuro
O Núcleo de Inovação da UFMG já está em busca de parceiros do setor privado para produzir o dispositivo em larga escala. A expectativa é que ele possa ser utilizado em um projeto piloto no Hospital das Clínicas da UFMG, facilitando o transporte de órgãos com mais segurança e maior chance de sucesso nos transplantes.
Nathan Giovanni, redator de patentes da UFMG, ressalta que a tecnologia criada pela universidade é única no mercado global. “Não encontramos dispositivos similares que ofereçam um design tão simples e ao mesmo tempo eficaz, facilitando sua fabricação e incorporação ao sistema de transplantes do Brasil”, destaca.
Campanha no Hospital das Clínicas
O Hospital das Clínicas da UFMG, um dos principais centros de transplante de Minas Gerais, realizará um evento na próxima sexta-feira (27), Dia Nacional da Doação de Órgãos, com o objetivo de conscientizar a sociedade sobre a importância desse ato. A programação inclui depoimentos de pacientes transplantados, conversa com especialistas e atividades educativas. O evento, chamado “Caminhantes”, acontece no Campus Saúde da UFMG e celebra as centenas de vidas salvas por meio da doação de órgãos e tecidos.
Em 2024, o hospital já realizou mais de 136 transplantes, incluindo procedimentos de fígado, coração, rim, córnea e medula óssea. O HC-UFMG também está se preparando para retomar os transplantes de pulmão, que estão suspensos desde 2015. A instituição é referência em Minas Gerais e acumula mais de 18 mil transplantes desde seu primeiro procedimento em 1969, consolidando-se como um pioneiro em várias técnicas de transplante.
Organizado pelo enfermeiro Ronaldo Rodrigues, o evento também contará com blitz educativa, apresentação musical e distribuição de materiais informativos. A expectativa é de reunir cerca de 150 participantes fixos e até 500 pessoas ao longo do dia. A iniciativa visa ampliar a conscientização sobre a doação de órgãos, destacando o impacto positivo na vida dos pacientes e suas famílias.
Fonte: O Tempo