Nesta segunda-feira (14), o dólar começou o dia em alta, refletindo a apreensão dos investidores diante das recentes declarações do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, sobre possíveis novas tarifas contra a União Europeia, Brasil e outros países parceiros. Às 9h03, a moeda americana subia 0,36%, sendo negociada a R$ 5,5678.
Na sexta-feira anterior (11), o câmbio encerrou o pregão com leve variação positiva de 0,09%, a R$ 5,546. A movimentação ocorreu após rumores de um possível entendimento tarifário entre Brasil e Estados Unidos. Na semana, a valorização acumulada do dólar frente ao real foi de 2,24%, embora no acumulado do ano a moeda ainda registre queda de 10,24%.
A Bolsa de Valores, por outro lado, encerrou o pregão da sexta-feira com baixa de 0,40%, aos 136.187 pontos. O desempenho refletiu as incertezas relacionadas à política comercial norte-americana, que continuaram influenciando negativamente o mercado financeiro. As ações da Localiza, com queda de 4,15%, figuraram entre os destaques negativos. Durante a semana, o Ibovespa apresentou queda em todos os pregões, totalizando retração de 3,64%. Em julho, já acumula perda de 1,96%, após quatro meses consecutivos de valorização, período em que avançou 13%.
A elevação de 50% nas tarifas americanas sobre produtos brasileiros, anunciada por Trump na quarta-feira (9), ainda repercutia nos mercados na sexta-feira. O presidente Lula criticou a decisão e afirmou que o Brasil buscará dialogar com os EUA. No entanto, destacou que poderá recorrer à legislação de reciprocidade para adotar medidas temporárias de retaliação, se necessário.
"Queremos negociar, não brigar. Mas o Brasil exige respeito. Se começarem a brincar com tarifas, isso não terá fim. O que não aceitamos é interferência nas nossas decisões", afirmou Lula em entrevista ao Jornal Nacional, na quinta-feira (10).
Logo após a fala de Lula, Trump reforçou que poderá intensificar a retaliação caso o Brasil reaja com novas tarifas. Investidores, preocupados com o risco de escalada nas tensões, viram o dólar atingir R$ 5,591 às 10h55, sua cotação máxima do dia.
No entanto, o cenário arrefeceu à tarde após Trump declarar, ao deixar a Casa Branca rumo ao Texas, que poderá conversar com Lula "em algum momento", o que foi interpretado como um possível sinal de trégua. Às 16h19, o dólar chegou à mínima do dia, sendo cotado a R$ 5,540 — mesmo valor de fechamento da véspera.
Especialistas apontam que um conflito comercial entre os dois países pode pressionar o câmbio, elevar a inflação e reduzir o apetite de investidores estrangeiros, afetando setores-chave da economia brasileira.
“É provável que o dólar continue em alta nos próximos dias”, avaliou Danilo Coelho, economista e especialista em investimentos. Segundo ele, as alegações de Trump sobre insegurança jurídica e ativismo judicial no Brasil podem assustar ainda mais os investidores externos, afastando recursos do país.
Jeff Patzlaff, planejador financeiro, alerta para impactos mais severos em indústrias de base, empresas de bens manufaturados e de commodities. Ele destaca que a taxação pode pressionar os preços e levar o Banco Central a manter ou até elevar os juros.
Mesmo assim, o Ministério da Fazenda avaliou que os efeitos diretos das tarifas anunciadas devem se concentrar em alguns setores e ter impacto limitado sobre a projeção de crescimento para 2025, segundo a Secretaria de Política Econômica (SPE).
A China também criticou a postura dos Estados Unidos. Em comunicado, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Mao Ning, declarou que tarifas não devem ser usadas como forma de coerção ou intromissão em assuntos internos de outros países. Ela reforçou que os princípios da igualdade entre nações e da não intervenção são fundamentais para as relações internacionais, conforme a Carta das Nações Unidas.
Além do Brasil, Trump ameaçou impor tarifas de 35% sobre produtos canadenses a partir de 1º de agosto, alegando insatisfação com a entrada de fentanil nos EUA vindo do Canadá. A decisão surpreendeu os mercados, já que Canadá e EUA estavam em tratativas comerciais que poderiam evitar esse desfecho.
Trump também indicou a possibilidade de aumentar a tarifa geral aplicada a países que não tenham medidas específicas, atualmente em 10%, para 15% ou até 20%. Essas declarações renovaram temores de uma guerra comercial mais ampla, o que resultou em fuga de ativos de risco.
"A crescente tensão em torno das tarifas de Trump elevou a volatilidade nos mercados de câmbio e capitais", afirmou Marcio Riauba, executivo da StoneX Banco de Câmbio. Segundo ele, os comentários do ex-presidente sugerem um endurecimento nas relações comerciais com vários países.
O índice VIX — conhecido como o “índice do medo” — subiu 3,93%, atingindo 16,40 pontos, sinalizando aumento na volatilidade e na aversão ao risco entre investidores.
No cenário doméstico, o IBGE divulgou que o setor de serviços cresceu 0,1% em maio, registrando o quarto avanço consecutivo, embora abaixo da expectativa de 0,2%. Ainda assim, o dado reforça a resiliência da economia brasileira.
O Ministério da Fazenda também revisou para cima a projeção de crescimento do PIB em 2024, elevando-a de 2,4% para 2,5%. Para 2026, a estimativa foi levemente ajustada para baixo, de 2,5% para 2,4%.