SEM CONCLUSÃO

Em Minas Gerais, mais da metade dos assassinatos não são resolvidos

No primeiro semestre de 2023 foram 1.434 mortes; 671 foram resolvidas

O Tempo/Aline Diniz/José Vítor Camilo
Publicado em 16/09/2024 às 10:48
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Pouco antes de ver a terra cobrir o caixão da filha de 11 anos, Márcia Santos Fonseca, 42, prometeu que não se mudaria de Santa Luzia, na Grande BH, enquanto não soubesse quem tirou a vida de Bianca dos Santos Faria. No próximo dia 6 de novembro, a menina faria 24 anos e a promessa segue sem ser cumprida. “Ela era só uma criança inocente. Vivo essa mágoa há 12 anos, e nada foi feito. Não se sabe quem matou, nem porque matou”, lamenta Márcia. O martírio da família de Bianca se repete em mais da metade (52,3%) dos casos de mortes violentas em Minas.

No primeiro semestre de 2023, foram registrados 1.434 homicídios, sendo que 671 foram elucidados, com taxa de eficiência de 47,7%, segundo a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp-MG). Para servidores da Polícia Civil, a não elucidação dos casos se deve, principalmente, a dois fatores: falta de pessoal e pouco investimento. 

Um investigador contou em anonimato que a escassez de pessoal é realidade da delegacia onde atua. Por mês, chegam até eles de 25 a 30 assassinatos. Cada equipe de investigação é composta de três investigadores.

“Como você coloca uma equipe de três pessoas para investigar dez homicídios? É pouca gente. O crime de homicídio precisa ser investigado no momento. Depois de cinco dias, as testemunhas já não querem se envolver. Às vezes, o investigador consegue autorização para analisar um celular e, em uma semana, ele não consegue ver tudo. Os casos ‘pequenos’ vão ficando de lado e a prioridade é dada àqueles que têm repercussão”, diz.

Wemerson Oliveira, presidente do Sindicato da Polícia Civil do Estado de Minas Gerais (Sindpol), lembra que, em 2008, um estudo indicou a necessidade de 17,5 mil policiais pra suprir a demanda do Estado. Conforme a PCMG são 11,3 mil servidores ativos divididos em várias funções – um déficit de 35%. Segundo Oliveira, desse total, apenas 6.000 são investigadores. “Temos mil policiais aptos a se aposentarem, e o governo abriu um concurso com poucas vagas”. 

Caso foi arquivado

Para a mãe de Bianca, as respostas sobre o assassinato de sua menina estão distantes. A PCMG informou que o inquérito que apura o crime, ocorrido em 2012, foi inconclusivo e remetido à Justiça. O principal suspeito foi apontado por Márcia. Porém, ele não foi indiciado porque morreu. 

Arquivado mais uma vez até o surgimento de novas provas, segundo nota da Polícia Civil, o inquérito da morte de Bianca tinha sido reaberto em 2022, após a morte de outra criança de forma semelhante: Bárbara Victória, de 10 anos. A menina, que saiu para comprar pão e desapareceu, foi achada morta três dias depois em um matagal em Ribeirão das Neves. 

Vizinha da família, Josiane de Sousa Medina, 42, era chamada de “tia” e “madrinha” por Bárbara. O último fim de semana da menina foi em sua casa, ocasião em que ela prometeu que a levaria a um jogo do Atlético, um sonho da pequena.

“Para mim a polícia falhou. O suspeito que foi preso, que aparecia nas imagens, foi solto por eles e cometeu suicídio. Para a gente (família), ele tinha que pagar na cadeia. A mãe dela ainda sofre muito com isso”, lamenta a mulher. Sem um desfecho da polícia, as duas famílias continuam tendo muito em comum: a saudade e a sensação de impunidade.

Sem respostas, luto é ainda mais doído

As perguntas sem respostas de pessoas que perderam alguém assassinado tornam o processo do luto ainda mais complexo. A análise é da psicóloga Mirian Anjos, especialista em terapia cognitivo-comportamental e psicopatologia.

"Quando a família não sabe quem foi o responsável, além da dor da perda, que é natural, eles têm que lidar também com essa incerteza constante, com a falta de respostas. Isso cria um sofrimento adicional a este luto. É como se eles ficassem presos em uma busca por respostas que não vêm, e isso torna o processo do luto muito mais complexo e longo”, explica. 

Márcia Santos Fonseca, 42, vive esse processo desde 2012, quando o corpo de sua filha Bianca dos Santos Faria, 11, foi achado em uma mata. A garotinha desapareceu em um sábado, por volta de meio-dia. O corpo foi encontrado na segunda, pela manhã. “Meu sentimento é de indignação. Pra mim, colocaram o caso em uma gaveta. Deus me dá forças”.

Fonte: O Tempo

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