Recuperar os 5,5 km de ferrovias a partir do DI II é fundamental para a logística do transporte de gãos (Foto/Jairo Chagas)
Agência Nacional do Transporte Ferroviário (ANTF), em 2019 o número de cargas movimentadas no setor ferroviário brasileiro foi 95% maior do que em 1997, quando houve a principal mudança legislativa no trato da administração ferroviária. Em 2019, foram movimentadas 493,8 milhões de toneladas. O principal produto transportado no ano passado foi o minério de ferro.
Ainda que o maior modal de transporte do Brasil seja o rodoviário, importantes itens de produção e exportação têm as ferrovias como as principais vias de escoamento. Dados da ANTF apontam que 40% dos produtos agrícolas, 50% do transporte de açúcar e 92% da movimentação de minérios de ferro usam a ferrovia.
A ANTF, que é a principal agência reguladora e que realiza diversas pesquisas e apontamentos acerca do setor ferroviário brasileiro, apresenta ainda uma série de dados importantes acerca do transporte de cargas nos últimos anos. Ela aponta, por exemplo, que o setor ferroviário brasileiro ainda está muito atrás do setor rodoviário brasileiro, que se estabeleceu como o principal setor de transporte de cargas do país. A estimativa da agência é de que apenas 20% das cargas transportadas atualmente sejam movimentadas nas ferrovias, enquanto que as rodovias transportam cerca de 65% de todos os insumos do país.
Porém, o desenvolvimento de um país está intimamente ligado à sua infraestrutura, seja ela na área do abastecimento, seja na logística que envolve o transporte e outros mais. Enquanto ao longo dos anos os países mais desenvolvidos do mundo investiram pesado na construção de ferrovias para transporte de passageiros e cargas, o Brasil optou por investir na malha rodoviária.
Ferrovia no Distrito Industrial 2 (Foto/Jairo Chagas)
Segundo observa o engenheiro uberabense Renato Ulhôa Barbosa, expert em infraestrutura com ênfase no modal ferroviário e há décadas radicado em Brasília, o grande gargalo do Brasil está justamente na falta de uma infraestrutura robusta para transporte de mercadorias, levando a produção industrial e sobretudo do agro a recorrer ao transporte rodoviário.
A ferrovia que liga os estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo é responsável pelo transporte de 20% de tudo que é exportado no Brasil. Mas esse percentual poderia ser infinitamente maior se houvesse investimento na construção de linhas tronco e respectivos ramais ferroviários, ligando os centros produtores de grãos aos portos da região Sudeste.
É importante destacar o baixo custo associado ao frete por meio de ferrovias. Com isso, o produto final, seja ele para exportação ou consumo no mercado interno, acaba tendo preço mais competitivo e impactos positivos para a economia do país. Mas, por que o Brasil não investe na construção de ferrovias? Por causa do seu “alto custo” será a resposta. No entanto, Renato Barbosa salienta que esse custo inicial mais elevado acaba sendo diluído e compensado com a cobrança pelo transporte das cargas e — por que não? — de passageiros. Paralelamente, as ferrovias não demandam altos custos de manutenção, ao contrário das rodovias, sempre esburacadas e carentes de recapeamento e repintura de sinalização.
Em Uberaba, Renato Barbosa chama a atenção para a necessidade de recuperação de 5,5 km de ferrovias ligando o Distrito Industrial 2 ao Terminal da VLi, localizado às margens da rodovia BR-050. Esse ramal já foi usado no passado, mas, desde a privatização das ferrovias brasileiras, foi abandonado, tendo parte de seus trilhos e dormentes furtada. Renato defende que esse ramal seja reativado, com os trilhos fazendo uma “pera” na área do Porto Seco, para desembaraço de mercadorias visando à exportação pelo Porto de Santos. Mas essa recuperação dos 5,5 km de ramal ferroviário depende frontalmente de ação política para sensibilizar o governo federal, de modo a exigir o cumprimento de cláusula contratual pela concessionária VLi. Essa obrigação de manutenção do ramal — frisa Renato — consta expressamente no contrato de concessão da linha férrea à VLi (sucessora da FCA), mas não foi observada. A concessão, por sua vez, está em fase de renovação. “A hora é esta para buscarmos uma solução” — ressalta.
Ele conta que esteve recentemente com a prefeita Elisa, a quem explicou detalhadamente a situação. Na reunião, a prefeita teria se comprometido a agendar reunião em Brasília com o ministro Renan Filho, para as tratativas sobre o assunto.
Hoje a produção segue por estrada, em caminhões. Não raro, formam fi las nas rodovias, à espera do momento para descarregar a carga que será transportada até o porto por linha férrea. É assim em Uberaba, onde existe um terminal intermodal da VLi. A oportunidade de mudar esse quadro é esta – reforça Renato, lembrando que a ferrovia poderá impulsionar o desenvolvimento do Distrito Industrial 2 e a própria economia do município, na medida que a produção de grãos do município poderá ser desembaraçada no Porto Seco e embarcada ali rumo ao Porto de Santos, com frete mais barato, tornando nossas commodities (em especial soja e milho) mais competitivas.