IMPACTOS

Entenda por que seca em Manaus pode afetar entrega e custo de produtos da Black Friday

Alguns dos itens mais vendidos na data vêm e são transportados por rios da região, como o Negro, que atingiu o nível mais baixo em 122 anos

O Tempo/Nubya Oliveira
Publicado em 07/10/2024 às 14:25
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Na seca, barcos não conseguem navegar pelo rio Negro (Foto/MICHAEL DANTAS/AFP)

O movimento de uma das melhores datas comerciais - a Black Friday, que neste ano será no dia 29 de novembro - está ameaçado por uma questão natural: a seca mais severa dos últimos tempos. Nesse domingo (6/10), o rio Negro atingiu 12,40 m de profundidade, seu nível mais baixo em 122 anos de medição em Manaus (AM). Desde a última quinta-feira (3/10), a marca recuou 28 cm e diminuiu ainda mais, por causa da falta de previsão de chuva para a região amazônica. A estiagem prejudica diretamente o escoamento da produção da Zona Franca de Manaus, onde 95% do transporte de produtos é fluvial.

Conforme a Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros) estima que 100% da produção nacional de ar-condicionado, televisores, lavadoras de louça e micro-ondas - alguns dos itens mais vendidos na Black Friday -  venha da Zona Franca. No entanto, a seca dos rios atrapalha a logística de mercadorias, uma vez que as águas baixam de nível, obrigando as embarcações a navegarem mais leves, ou seja, com menos carga, o que também acaba encarecendo o frete. 

O professor de Estratégia de Mercado e Visão Sistêmica e Dinâmica dos Negócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Eduardo Maróstica explica que os reflexos poderão ser para além da data comercial de novembro. “A seca vai impactar de maneira significativa. E como não há previsão em curto prazo para uma melhora dos índices do rio Negro, o Natal e a Cyber Monday - na segunda-feira seguinte a Black Friday - também vão ser comprometidas de forma considerável pela ausência de chuvas na região.” 

Sobrecusto 

O período de seca na Amazônia, normalmente entre maio e setembro, prejudica a logística de mercadorias na região. No ano passado, segundo o Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam), a crise gerou um sobrecusto de R$ 1,4 bilhão para a indústria em relação a logística e transporte. 

Para este ano, a expectativa também não é positiva, conforme explica o coordenador da comissão de logística do Cieam Augusto Cesar Rocha."Neste ano, a gente já tem uma estimativa de sobrecusto da ordem de R$ 500 milhões por causa da seca na região. Isso porque os grandes armadores internacionais estão cobrando uma taxa da seca desde o início de agosto, que é um aditivo para cada contêiner”.

Mitigação de efeitos 

Segundo o Cieam, algumas medidas estão sendo tomadas para minimizar os efeitos da seca. As duas maiores estações portuárias que atuam em Manaus, o Porto Chibatão e o Super Terminais, gastaram cada uma mais de R$ 20 milhões para montar emergencialmente dois píeres flutuantes, que funcionarão como balsas para carregar os contêineres dos navios com calados incompatíveis com a profundidade do rio nesta época.

O diretor-executivo da Associação Brasileira de Armadores de Cabotagem (Abac) Luis Resano enfatiza que outra opção para mandar cargas para Manaus, e também retirar outras cargas da cidade, é o Porto de Vila do Conde, no Pará. A distância, contudo, é um obstáculo. "O trânsito de barcaças entre Vila do Conde até Manaus significa quase dez dias de viagem. Então atrasa muito a logística", ressalta.

Outras medidas adotadas para minimizar os efeitos da seca e evitar o desabastecimento de Manaus foram repassar parte das cargas a outros modais, como o rodoviário e o aéreo.

Fonte: O Tempo

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