Proteção. Essa é a ordem para a família do gerente de construtora Reny dos Reis Borges, 35 anos, localizado no dia 29 de janeiro. A irmã do gerente, Regina Maria Borges, a esposa Carmem Lúcia Silva e a psicóloga e perita criminal Ana Paula França, que acompanha o caso, falaram sobre o atual estado de saúde dele. Elas aceitaram conversar com a reportagem do Jornal da Manhã com intuito de esclarecer o que aconteceu com Reny, sequestrado no dia 13 de janeiro e encontrado 16 dias depois.
A perita criminal explicou que está trabalhando para trazer Reny à realidade e que o estado dele é muito grave. Ela disse que o gerente se expressa muito pouco e não tem condições de falar com a imprensa ou de dar declarações à polícia. Ana Paula relatou que ele não consegue se lembrar do que aconteceu durante o período em que esteve desaparecido e nem de quem foi o autor do sequestro. Mas ela garantiu que fizeram ameaças a ele e a seus familiares.
Ana Paula revela que Reny passou por torturas psicológicas graves, emocional e física, mas não entrou em detalhes sobre o que foi feito com ele. “O que fizeram não chega a ser desumano, é inumano! Não se faz nem com um animal!”, afirmou.
Ela explica que o diagnóstico dele é de estresse pós-traumático e com amnésia seletiva, consequência do trauma que viveu. “Tem dias em que ele possui um discurso coerente, outro dia ele apresenta apenas lapsos. Se ele fosse se lembrar de tudo que aconteceu, das pessoas e vivenciar de novo, teria um surto psicótico”, afirmou Ana Paula. Ela ressalta que também é resultado de uma reação pelo uso de drogas, como “Boa-noite, Cinderela!”, e bebidas alcoólicas com comprimidos.
Ana Paula ressaltou que inclusive o IML acompanha o processo para que o exame de corpo de delito seja realizado. Segunda ela, o exame não pode ser feito ainda porque o gerente não consegue se levantar da cama. Além da psicóloga, Reny passa por tratamento com médicos que estão cuidando da parte fisiológica. “Estamos começando do básico, desde alimentação até a forma de se comunicar. Não estamos com pressa em relação ao depoimento dele, pois podemos perdê-lo caso ele tenha um surto. O trabalho tem que ser feito dentro do que ele está conseguindo. Vai ser no tempo dele”, diz Ana Paula.
A esposa de Reny, Carmem Lúcia Silva, afirma que a família quer proteger o gerente, o que justifica o fato de não estar tão expostos na mídia. Para Carmem, a proteção de informações que podem comprometer o processo de recuperação de Reny é fundamental no momento. Ela ressalta que tamanho cuidado também é uma recomendação até para os familiares, pois, segundo Carmem, não são todos que ele pode receber. “Ele [Reny] está sofrendo muito ainda. Pela segurança dele e orientações da psicóloga e dos médicos, preferimos resguardá-lo”, declarou a esposa.
Uma das manifestações de Reny é o medo de que os autores do assalto voltem para fazer algo com ele ou com a família. Carmem afirmou que ele fica o tempo inteiro em alerta. “Quando passa um carro perto, toca o telefone, alguém conversa e não reconhece, ele fica assustado”, revela.
A esposa ressalta que em nenhum momento, durante o desaparecimento de Reny, ela ou familiares receberam ligações com pedidos de resgate. A única ligação realizada foi na noite anterior ao dia que Reny foi encontrado no trevo de acesso a Almeida Campos. “Nós achamos que fariam o assalto e deixariam o Reny em uma estrada no mesmo dia. Mas foram passando os dias, não entraram em contato e chegamos a pensar até no pior”, relembra Carmem.
A psicóloga reforçou o discurso de Carmem, afirmando que Reny precisa do tempo dele para se recuperar. Para a esposa de Reny, o momento agora é de muita calma. “No tempo certo ele vai falar, mas agora precisamos resgatá-lo”, finaliza Carmem.
Recuperação. Ana Paula é otimista em relação à recuperação de Reny, afirmando que o prognóstico é bom. A psicóloga ressalta que ele tem reagido aos estímulos que fornece. Explica que receitou uma medicação em longo prazo que, dentro de dez dias, saberá se os remédios vão ajudar para que ele se recupere mais rápido. Ana Paula disse que o fato de ele estar muito debilitado também atrapalha no processo.
A psicóloga garante que, ao contrário do que foi especulado, ele não inventou o sequestro em benefício próprio. “Eu coloco meu carimbo de profissional embaix em momento algum ele camuflou, inventou, manipulou qualquer situação. É impossível ele fingir no estado em que se encontra. O que o Reny está vivendo é realmente dramático!”, finaliza Ana Paula.
A polícia mantém em sigilo a investigação para tentar descobrir os autores do sequestro.