UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

Incêndio em parques consumiram o equivalente a 54,4 mil campos de futebol em MG

Para reduzir os incêndios florestais, brigadistas e técnicos do Instituto Estadual de Florestas (IEF) estão apostando justamente no fogo, em técnica conhecida como "queima controlada"

O Tempo
Publicado em 30/04/2024 às 14:39
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Especialistas apostam no manejo integrado do fogo para evitar incêndios no período de seca (Foto/Rodrigo Hetch Zeller/Imagens cedidas)

Especialistas apostam no manejo integrado do fogo para evitar incêndios no período de seca (Foto/Rodrigo Hetch Zeller/Imagens cedidas)

Em onze anos, Minas perdeu em média o equivalente a 54,4 mil campos de futebol em áreas de unidades de conservação estaduais para o fogo. Somente em 2023, foram 666 ocorrências, que resultaram em mais de 20 mil hectares consumidos por incêndios. Para reduzir os incêndios florestais em parques estaduais do Estado, brigadistas e técnicos do Instituto Estadual de Florestas (IEF) estão apostando justamente no uso do fogo, em prática popularmente conhecida como “queima controlada". Os trabalhos já foram iniciados e ocorrem até julho, mês que antecede o período crítico da seca - que acontece entre agosto e outubro. O objetivo é minimizar o risco de incêndios graves, sobretudo, no Sul do Estado onde as chuvas estão abaixo da média. 

“Esse ano não temos ainda nenhum indicativo mais crítico, de incêndios fora da normalidade. Mas nos baseamos nos índices climáticos, então o Sul do Estado estimamos que pode sofrer mais com os incêndios devido às chuvas abaixo da média. Mas é imprevisível. Dependemos do clima e ele tem feito grandes surpresas”, alerta o gerente de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais do IEF, Rodrigo Bueno Belo. 

O uso intencional de fogo é uma prática regulamentada no interior e no entorno das áreas de preservação estaduais desde 2020. Segundo o especialista, para evitar incêndios graves durante o período de estiagem, mais de 30 das 94 unidades de conservação do Estado têm apostado na prática. A técnica é chamada de Manejo Integrado do Fogo (MIF), que consiste em um conjunto de técnicas que usam o fogo como ferramenta para prevenir os incêndios florestais, como a queima do excesso de vegetação seca que é propícia a se tornar combustível de incêndios de grandes proporções.  

“Usamos ele para reduzir a biomassa, temos biomas que precisam do fogo, como o Cerrado, e outras que são sensíveis, como a Mata Atlântica. As queimas prescritas são feitas quando ainda temos uma boa umidade. Essa umidade presente no material vegetal combustível faz com que o incêndio tenha uma velocidade de propagação menor. Dessa forma usamos a técnica para impedir que o fogo possa atingir biomas importantes", explica Bueno Belo.

As ações são definidas através de análise integrada entre gestores das unidades de conservação e técnicos do IEF. O manejo do fogo leva em conta a relação de dependência evolutiva do fogo nos biomas onde será empregado, adotando medidas prévias de proteção dos recursos hídricos, da fauna e da flora existentes na área. “São feitas geralmente por brigadistas, voluntários e pelo Corpo de Bombeiros. Neste ano, por exemplo, abrimos o cadastramento para 280 brigadistas que vão atuar em ações preventivas e de combate”, pontua. 

De acordo com o gerente do IEF, parques estaduais como do Rio Preto e do Biribiri, na região do Alto Jequitinhonha, já executaram a queima prescrita nas últimas semanas. Com cobertura vegetal predominantemente de Cerrado, os gerentes têm um planejamento integrado entre as duas unidades e trabalham de forma conjunta no manejo do fogo.

Gerente do parque estadual do Rio Preto há 30 anos, Antônio Carlos Godoy, o Tonhão, já viu grandes incêndios e inúmeras formas de tentar combatê-los e preveni-los. Para ele, o a prática de queima prescrita é até agora o método mais acertado."O fogo que acontece de agosto a outubro, que as secas prolongam mais, carboniza tudo. O Manejo Integrado do Fogo veio para nos dar a liberdade de fazer planos de queimas prescritas dentro das unidades de conservação, preservando muito mais esses parques", pontua.

Queima gera décadas de prejuízo

O bioma Mata Atlântica é mais sensível às chamas, exigindo um planejamento detalhado para uso do fogo. O analista ambiental do IEF, Gabriel Ávila, que atua no Parque Estadual de Rio Doce, explica que, uma vez queimada a floresta, é preciso décadas para que ela retorne ao que era.

"Nosso Manejo do Fogo aqui é feito para evitar que haja ignição na floresta. Nós trabalhamos na forma de construção de aceiros, que são áreas livres de vegetação e que interrompem a progressão do incêndio florestal. Se o fogo vem caminhando pelo combustível, que é material vegetal seco, ao encontrar essa faixa desprovida de vegetação ele naturalmente se extingue", detalha.

Embora a técnica demande trabalho e envolvimento de várias forças, o analista conclui que todo o esforço da ação preventiva vale a pena. "É muitas vezes menor do que a logística necessária para extinguir o incêndio que a gente teve nessa mesma área em 2019, onde a gente teve muito mais pessoas e equipamentos empenhados durante quase um mês para conter o problema que um incêndio gerou", avalia. 

Fonte: O Tempo

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