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Projeto “Pacificação de Galos de Rinha” tem como objetivo reabilitar a saúde física e mental dos galos de briga, apreendidos em fiscalizações da Polícia Militar Ambiental de Uberaba. São realizados tratamento das aves feridas, ressocialização e, posteriormente, encaminhamento para locais selecionados pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), para servirem como reprodutores. Na última semana, o Hospital Veterinário de Uberaba (HVU) recebeu 22 galos provenientes de duas rinhas, recolhidos pela Polícia Ambiental há 15 dias.
Um orçamento de R$40.412,00 foi disponibilizado para ser utilizado em dois anos no uso de medicamentos (analgésicos, antibióticos, anestésicos), materiais para curativos e cirurgias, ração para as aves e serviço de exames para avaliar o grau de bem-estar durante a readaptação das aves. Todos os recursos são para o tratamento, exames periódicos e alimentação. A coordenação do projeto espera que em dois anos 300 aves sejam ressocializadas.
O processo de ressocialização é difícil e demorado. Requer uma grande mudança nos hábitos dos animais resgatados, que pode ser ainda mais complexo por causa dos genes dos galos. O gerente clínico do Hospital Veterinário de Uberaba, Cláudio Yudi, explica que as aves vindas da rinha de galo vivem isoladas, portanto, não sabem viver em comunidade com outras aves, além de não saberem alguns comportamentos normais da espécie como empoleirar, ciscar e procurar comida.
“Pacificar é fazer com que as aves fiquem sociáveis. Esse termo pacificar é legal porque realmente dá paz para a ave, mas o termo mais prático seria ressocialização. Quem ensina o galo são as galinhas, nós temos quase 80 galinhas, e elas ensinam esses galos a ciscar a empoleirar, a procurar comida que não seja em um pote. E outra coisa é que, se colocar esses galos num lugar sem ninguém para vigiar, eles brigam. Então, tem que ficar sempre alguém policiando para que esse galo não volte a brigar”, explica Yudi.
Ainda segundo Cláudio, alguns galos são muito agressivos, e se brigam demais ficam isolados até o comportamento melhorar e ele poder sair de novo. Algumas gaiolas são colocadas no ambiente aberto em que as aves ficam, de forma que, com esse galo vendo a liberdade, ele queira esta experiência. “Quando nós voltamos a soltá-los e eles ficam felizes. Hoje nós fizemos esse experimento, soltamos dois galos que estavam presos e eles pararam de brigar, eles eram muito agressivos e agora estão bem. Só que eles estão muito condicionados a ficar num cantinho, nós estamos ensinando-os a andar, através das galinhas”, afirma.
Este será o segundo local de pacificação de galos criado no estado de Minas Gerais. O primeiro projeto e modelo que será utilizado em Uberaba encontra-se no município de Formiga/MG.
Das 22 aves resgatadas pela Polícia Ambiental, duas passaram por cirurgia para tratar as feridas presentes no peito e pés, locais mais comuns de ferimentos durante as rinhas. Estão em recuperação, isoladas, recebendo medicamentos para dor e antibióticos.
Crime ambiental. As rinhas ou brigas de galos são eventos de combate entre animais adultos que envolvem apostas em espécie. As rinhas são proibidas desde a década de 20, pelo Decreto Federal 19.650 de 1924, mas apesar da lei a prática ainda é perpetuada desde os dias atuais. As lutas entre galos envolvem agressividade física e que, quando não resulta em morte, acarreta a inutilização de partes do corpo, como olhos, pernas, asas, entre outros órgãos destas aves.
Atualmente a rinha de galo é uma prática considerada crime ambiental por meio da legislação que protege os animais. O artigo 32 da lei da Lei nº 9.605/98 condena “o ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos” e prevê pena de detenção de três meses a um ano, além de multa.
Os galos utilizados nestas práticas, são mantidos em locais insalubres, pequenos e sem espaço para comportamentos naturais, que caracterizam maus tratos por negligência, além dos animais normalmente se apresentarem feridos e mutilados. Muitas aves perderam a capacidade de viver em conjunto com demais aves, inclusive com as fêmeas da própria espécie.
O projeto é uma parceria entre o Hospital Veterinário, do Curso de Medicina Veterinária da Universidade de Uberaba, com a participação da Polícia Militar Ambiental de Uberaba, além de contar com a Coordenadoria Estadual de Defesa da Fauna (Cedef) do MPMG e a Coordenadoria Regional das Promotorias de Justiça do Meio Ambiente das Bacias dos Rios Paranaíba e Baixo Rio Grande da MPMG, gerida pela Fundação de Ensino e Pesquisa de Uberaba (Funepu), por onde os recursos para o projeto foram repassados.