Comércio de Uberaba (Foto/Jairo Chagas)
A partir deste mês, há no cenário econômico a perspectiva de uma injeção de renda na vida dos brasileiros. O governo federal anunciou nesta semana a antecipação da primeira parcela do 13° salário dos aposentados e pensionistas, que será paga no fim de maio, já considerando o novo salário mínimo de R$ 1.320. Em Minas, a estimativa é do pagamento de cerca de R$ 7 bilhões de reais. O bolsa família também foi antecipado. De acordo com o novo calendário de repasses, os beneficiários já começam a receber a partir do próximo dia 18. Além disso, em 31 de maio sai o 1° lote de restituição do imposto de renda.
De acordo com Diogo Santos, economista do Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead/UFMG), há sinais que apontam em direções contrárias em relação ao consumo. Se, por um lado, as famílias elevaram a massa salarial de meados do ano passado para cá e há uma maior confiança do índice de emprego e inflação, por outro, vivemos uma fase de endividamento recorde, com o maior patamar de juros do cartão dos últimos seis anos.
Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), em fevereiro, 29,8% das famílias relataram ter dívidas em atraso e 78,3% das famílias tem alguma dívida.
Dados de maio do IPEAD/UFMG, apontaram que o Índice de Confiança do Consumidor (ICC-BH), que já estava em patamar pessimista, caiu em relação ao mês anterior. No mês de abril, o ICC-BH foi de 40,72 pontos, queda de 1,99% em relação a março. O maior responsável pela queda do índice foi a retração da pretensão de compras da população, de 6,53%.
“Acredito que o resultado dessa injeção de renda possa sim ser a elevação de consumo, porém não na mesma magnitude que poderia ser se não houvesse esse nível alto de endividamento. É difícil comprar um eletrodoméstico ou automóvel. Impede todo esse potencial de consumo”, explica.
Uma pesquisa recente do Ipead/UFMG mostrou que o preço médio de intenção de compra de presente para o Dia das Mães, por exemplo, aumentou de R$ 95 para R$ 98. “Percebemos uma elevação gradual. Podemos esperar um consumo reprimido, mas a renda não vai ser totalmente repassada para as compras”, diz.
Para o economista, os consumidores devem manter um comportamento mais cauteloso diante dessa injeção temporária de renda. “Eles podem optar por quitar dívidas, se livrar do parcelamento rotativo do cartão”, indica.
Ana Paula Bastos, economista da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), observa que a injeção de renda nos próximos meses traz um fôlego para a economia da capital, mas lembra que uma tendência já apontada em estudos é que as pessoas aproveitem essa primeira parcela do 13° salário para quitar dívidas. “Contudo, isso abre crédito e incentiva o consumo”, destaca.
O Dia das Mães tem um apelo tradicional grande e há a perspectiva de uma injeção de R$ 2,19 bilhões na economia de Belo Horizonte. “A gente está com a perspectiva positiva, mas vamos esperar o comportamento da taxa de juros no mercado e aprovação do arcabouço fiscal para fazer análises mais concretas de consumo”, explica.
Fonte: O Tempo