Um estudo realizado pela agência classificadora de risco Austin Rating mostra que o real é a sétima moeda que mais perdeu valor frente ao dólar em 2024. O estudo foi feito com dados do Banco Central do Brasil (BC).
A moeda brasileira ocupa a sétima posição do ranking de um total de 121 países. A desvalorização, computada até o dia 11 de junho, foi de 9,5%.
Nesta quarta-feira (12), o dólar comercial abriu o dia a R$ 5,40. Esse é o maior valor registrado desde novembro do ano passado e segue a tendência de alta da moeda, que já subiu quase 10% apenas neste ano. Segundo a Austin Rating, o ranking foi feito utilizando como referência a taxa Ptax, onde o dólar abriu o dia de hoje cotado a R$ 5,35.
Segundo Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, a indefinição quanto a nova taxa de juros nos Estados Unidos é um dos fatores que culminou na desvalorização da moeda brasileira. “O principal indicador que move a flutuação e locação de recursos em todo o mundo é a taxa de juros dos Estados Unidos. É um país extremamente seguro para investimentos, com menores riscos. Em geral, países emergentes tendem a sofrer um pouco mais porque eles têm um risco maior. O Brasil é um país emergente, com uma democracia já estabelecida. Dentre esses países, a taxa aqui é a mais elevada. O primeiro motivo que faz com que o real se desvalorize é porque a taxa de juros nos EUA subiu bastante. Além disso, há um discurso do Banco Central americano que está muito preocupado com a atividade econômica forte e com a persistência da inflação em não voltar a meta de longo prazo da taxa de juros, de 2% ao ano”, explica o economista.
Alex também conta que os conflitos geopolíticos que acontecem no mundo atualmente também têm sua influência nas moedas. “Os conflitos geopolíticos também tem seu impacto. Sofremos no início da guerra da Rússia contra a Ucrânia, mas depois estabilizou. Agora, o ataque do Hamas e Israel. Tudo isso gera preocupação com os investidores e tem um impacto muito grande na moeda. O investidor tira o dinheiro do lugar de maior risco, como o Brasil, e o coloca em um país mais seguro”, diz.
Para o economista, as atuais políticas públicas do governo contribuem para a desvalorização da moeda. “No caso do Brasil, passamos por um problema de fragilidade fiscal. O Brasil sinalizou para o mercado financeiro que não está comprometido em ter um controle dos gastos públicos. Também teve a tragédia no Rio Grande do Sul, que vai ter que gastar mais, mas não é só isso. É utilizar essa ajuda para ampliar os gastos. Sabemos que isso tem um efeito negativo na economia, quando se tem um descontrole dos gastos públicos. Quando temos esse cenário, temos uma desvalorização muito forte”, explica Alex.
A moeda que mais perdeu valor em 2024 foi o Naira, da Nigéria, desvalorizando quase 42,80%. Seguida das moedas do Egito (35%), Sudão do Sul (29,90%) e Gana (20,10%).
O levantamento também mostrou as moedas que mais valorizaram até aqui em 2024. O Xelim, do Quênia, teve um salto de 21,2%, seguido da moeda do Sri Lanka (6,8%) e da Armênia (4,3%).
Apesar do número assustar, Alex diz que o Brasil não passa por uma crise e que a situação pode melhorar com uma mudança das políticas do atual governo. “Não estamos falando de uma crise monetária. São preocupações relacionadas ao ambiente macroeconômico. No caso dos próximos meses é porque existe o risco de continuar a desvalorização caso o governo não consiga apresentar um bom plano de controle de gastos públicos, coisa que o mercado aguarda. Também esperar a taxa de juros nos Estados Unidos. Se tiver uma sinalização de corte, vai ter uma melhora na moeda. Ficamos condicionados a esses dois eventos”, conta.
Fonte: O Tempo