Gurinhatã, com pouco mais de 5 mil habitantes, destinou R$ 1,5 milhão a festas, quase R$ 300 por morador
Um levantamento do Núcleo de Dados do Estado de Minas, com base em informações do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE-MG), da Assembleia Legislativa e do Congresso Nacional, mostra que municípios mineiros já destinaram R$ 29 milhões a atrações musicais financiadas por emendas Pix desde 2023. No Triângulo Mineiro, os repasses chamam atenção pela relação entre verba recebida e número de habitantes, com destaque para Gurinhatã, que lidera o ranking proporcional da região.
Com pouco mais de 5 mil habitantes, Gurinhatã recebeu R$ 1,5 milhão para eventos, o que representa cerca de R$ 291 por morador. Em São Francisco de Sales, a verba de R$ 113 mil corresponde a R$ 19,72 per capita. Capinópolis, com 15 mil habitantes, recebeu R$ 240 mil (R$ 15,70 por pessoa). Já Ituiutaba, a maior cidade da região com 106 mil moradores, recebeu R$ 1,75 milhão, equivalente a R$ 16 por habitante. Tupaciguara teve acesso a R$ 58 mil, ou R$ 2,27 por morador.
Em Gurinhatã em 2025 houve a festa de 63 anos de emancipação política, com cinco dias de programação. O evento incluiu cavalgada, corrida de rua, desfile cívico e shows musicais, entre eles apresentações de Fred & Fabrício e DJ Lavie. Segundo o prefeito Douglas Valente (PP), a festa foi organizada com apoio do Sindicato Rural, da Câmara Municipal e de parceiros locais.
Ituiutaba, administrada pela prefeita Leandra (Avante), também aparece com destaque no cenário estadual. A cidade figura entre as dez que mais gastaram com shows musicais em Minas Gerais desde 2020, com um total de R$ 10,8 milhões no período — valor inferior apenas ao de Itabirito, que destinou R$ 11,3 milhões.
Os dados do TCE-MG indicam que quase metade dos recursos aplicados em shows foi concentrada em 2024, ano eleitoral. Foram R$ 424 milhões neste ano, contra R$ 306 milhões em 2023 e R$ 185 milhões em 2022. O número de repasses também saltou: de 40 depósitos em 2023 para 153 no ano atual. Como as emendas Pix não exigem detalhamento do parlamentar responsável, a prestação de contas dos municípios indica apenas a origem federal ou estadual dos recursos.Entre os artistas mais contratados pelos municípios mineiros com esse tipo de verba estão Eduardo Costa, que recebeu R$ 19,1 milhões em cachês no período, Leonardo (R$ 16,4 milhões), Fernando & Sorocaba (R$ 16 milhões) e César Menotti & Fabiano (R$ 15,3 milhões).
A movimentação financeira elevada em shows e eventos tem levantado debates sobre transparência e prioridades no uso de recursos públicos. Especialistas em contas públicas ressaltam que, embora os repasses sejam legais, a aplicação em eventos festivos pode gerar questionamentos, especialmente em anos eleitorais.