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O que é bed rotting e quais são os alertas para quando o 'apodrecer na cama' se torna prejudicial

Prática é defendida como autocuidado, mas hábito pode indicar sintomas de depressão e de isolamento

Laura Maria/O Tempo
Publicado em 24/04/2025 às 10:17
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Basta rolar o TikTok para conferir que bed rotting é rotina entre alguns jovens (Foto/Tiktok/reprodução)

Sabe aqueles dias em que tudo o que você mais quer é passar o dia inteiro na cama? Para algumas pessoas, especialmente entre os jovens da Geração Z – nascidos entre 1995 e 2012 – essa vontade virou hábito.

A prática ganhou até um nome, bed rotting (“apodrecer na cama”, em tradução literal). A ideia é simples: realizar todas as atividades do dia “na horizontal”, como dormir, trabalhar, comer e até curtir momentos de lazer, saindo do aconchego apenas para ir ao banheiro ou para buscar o lanche entregue pelo aplicativo.

Uma busca rápida pelo termo no TikTok revela uma infinidade de vídeos de pessoas deitadas, compartilhando suas rotinas de “vida na cama”, com conteúdos em português e inglês.

Em muitos desses vídeos, o bed rotting é apresentado como uma forma de autocuidado e uma maneira de lidar com o estresse do dia a dia.

Em uma dessas gravações, com quase 200 mil visualizações, uma jovem até ensina as “regras” da prática, como trocar a roupa de dormir, evitar assistir a conteúdos deprimentes, levantar de vez em quando para levar pratos e copos para a cozinha e garantir que o edredom esteja sempre esticado.

Por trás desse comportamento que, à primeira vista, pode parecer preguiça ou procrastinação, há fatores mais profundos que ajudam a explicar por que tantos jovens têm passado longos períodos na cama.

Depressão, isolamento social e sensação generalizada de desesperança em relação ao futuro estão entre as possíveis causas.

Pesquisa publicada em 2023 na revista “The Lancet” apontou que os jovens da Geração Z têm apresentado problemas de saúde mental mais cedo que os millennials (nascidos entre 1981 e 1996). Além disso, a pandemia também obrigou todas as pessoas a ficarem em casa – o que, para muitos jovens, representou limitação na capacidade de socialização e maior dependência do uso de smartphones.

E quando o assunto é trabalho ou estudo, a situação fica ainda mais preocupante: o Brasil é o segundo país, de um total de 37, com maior proporção de jovens, com idade entre 18 e 24 anos, que não estudam e não trabalham, segundo relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) de 2023.

Dessa maneira, a cama se tornou um “refúgio seguro” para esses jovens. No entanto, esse hábito está longe de ser positivo, uma vez que fazer várias atividades do dia deitado pode ser prejudicial para a saúde física e mental, como explica a psicóloga e arteterapeuta Daniele Castelani.

“Ao passar longos períodos na cama, sem se movimentar, alongar ou caminhar, o indivíduo pode ter vários problemas de saúde física: não só estruturais, tais quais dores no corpo, problemas posturais, má circulação e afins, como também fisiológicos, ao deixar de se alimentar direito, ir ao banheiro ou realizar a higiene pessoal. No quesito mental, uma pessoa que ‘apodrece na cama’, por escolher não viver mais atividades sociais, pode ter mais isolamento, aumentando os sentimentos de solidão, além de pensamentos destrutivos, ansiedade, sintomas depressivos e outros”, argumenta.

A especialista indica, no entanto, que passar mais do que o tempo necessário fisiologicamente na cama, em menor grau, pode ser uma maneira de descompressão e de autocuidado, como tirar um cochilo, assistir a algo na TV, ler um livro e conversar com os amigos nas redes.

“São atividades que podem ser feitas na cama e, quando por um curto período, são muito saudáveis e indicadas para qualquer pessoa. Depois dessas atividades é comum se sentir mais leve, mais descansado, satisfeito e de bom humor”, aponta. 

O problema é quando esse comportamento passa a ser diário e prolongado.

“‘Apodrecer na cama’ ultrapassa os limites do que é saudável, pois se torna algo excessivo. É errado chamar esse comportamento de autocuidado, visto que é um comportamento que gera prejuízos na saúde tanto física quanto mental do indivíduo. Se uma pessoa sente necessidade de passar longos períodos na cama, abdicando de outras atividades sociais e físicas, utilizando somente das redes sociais e tecnologias para se comunicar e evitando ao máximo usar o corpo (permanecendo grande parte deitado), ela pode não estar bem e precisa buscar ajuda profissional imediatamente”, aponta.

Atenção à depressão

Sentir vontade de “apodrecer na cama” pode ser um sintoma de depressão. Quando uma pessoa está com a doença, ela tende a perder o ânimo e o interesse em atividades antes prazerosas e a se isolar do resto do mundo. Logo, a cama torna-se um “lugar perfeito.”

Portanto, é importante entender se a vontade de passar o dia todo na horizontal está relacionada com algum sintoma da doença. Na dúvida, procure por ajuda. “Quando você sente e percebe esses sintomas em você, busque uma ajuda especializada com profissionais de saúde que te acolham e ajudam nesse momento”, orienta a psicóloga Daniele Castelani.

Mas se você conhece alguém que esteja nessa situação, a especialista orienta ter atenção a alguns comportamentos.

“Perceba se ela demonstra sinais como mudança repentina de humor, cancelamentos excessivos de convites e atividades no qual antes essa pessoa gostava muito, mudança na alimentação (falta de ou excesso), tristeza aparente, irritabilidade, uso excessivo do celular e computador e isolamento. Ao constatá-los, forneça suporte e peça para que ela entre em contato com um profissional especializado. Em caso de resistência ou negativa (que também é parte do sintoma), junto com as pessoas mais próximas, indique e contate um profissional que possa ajudá-la nesse momento. Uma pessoa que compartilha uma rotina bed rotting nas redes pode precisar de uma atenção especial e de ajuda, mesmo que ela nem perceba”, aponta.

Dicas para descansar sem apodrecer na cama

Geralmente, associamos o descanso ao ato de dormir. Essa atividade, fisiológica, é necessária para uma sobrevivência saudável, mas não deve ser a única para os momentos de pausa.

“Não é só dormindo que conseguimos recuperar nossas energias. Existem outras atividades que podem descansar uma mente cansada ou um corpo cansado. Afinal, podemos sentir necessidade de descansar fisicamente, mentalmente, criativamente, socialmente e outros. Para cada necessidade, pode se utilizar de um recurso de descanso diferente”, ressalta a psicóloga Daniele Castelani. 

Confira as dicas da profissional para cada tipo de repouso:

  • Descanso de uma sobrecarga do corpo, sensorial e social: ler um livro, deitar na grama de um parque, quintal ou na natureza, ouvir uma música sentado ou deitado, ficar em silêncio enquanto contempla algo que goste
  • Descansar a mente do trabalho: assistir filmes ou séries sozinho ou acompanhado, praticar esportes, jogar com os amigos, pintar, dançar, contemplar ou produzir arte, cozinhar, receber uma massagem, ir para um local que goste ou conhecer novos lugares, consumir conteúdos diversos que não tenha ligação com o trabalho.

“Não existe uma forma correta de descanso, por isso, é importante se conhecer para entender cada vez mais o que o corpo e a mente necessitam para se autorregular e se manterem bem e saudável”, destaca.

Fonte: O Tempo

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