Comer fast-food é algo corriqueiro na vida de pelo menos oito em cada dez pessoas no mundo. Segundo estudo da Kantar, em média, os consumidores visitam restaurantes fast-food duas vezes ao mês. Ou seja, são pelo menos 24 refeições ao ano. O estudo mostra ainda que, entre 2019 e 2023, a modalidade apresentou 30% de alta em valor e cresceu 5% em lealdade. Vale lembrar que, durante a pandemia da Covid-19, o “boom” de pedidos de delivery beneficiou o segmento de fast-foods.
Em Belo Horizonte, além das grandes franquias de fast-food, restaurantes menores também apostam na modalidade e tentam trazer o conceito de rapidez para o paladar mineiro. De acordo com o consultor de negócios de bares e restaurantes Pedro Henrique Oliveira, para ser fast-food, basta que seja um atendimento rápido.
“O fast-food para o americano é comida rápida, seja ela qual for, pode ser, inclusive, alta gastronomia. Nós temos, em Nova York, o Masa, o melhor sushi três estrelas Michelin, e ele tem uma parte que é fast-food. E como é? Ele tem uma janelinha que você chega, pega e ‘vaza’”, ilustra.
O consultor explica que o fast-food faz sucesso porque, além de ser algo rápido e pensado para quem precisa de um lanche prático, pode ainda ser consumido em qualquer lugar. E é uma comida que pode ser também previsível. Isso porque, em geral, as grandes redes de fast-food trabalham com sabores pré-definidos, o que permite que sejam procurados por turistas em outros países.
Ele cita, por exemplo, a situação em que o turista tem receio de experimentar a culinária local, por ser uma cultura muito diferente, e recorre às grandes redes de fast-food. “Você sabe que é pão, carne, queijo e molho. Ou seja, você já sabe o que vai vir no lanche”, comenta.
Característica de fast-food com sabor original
Em BH, um dos restaurantes que adota o conceito de fast-food é O Burguin, localizado no Prado, que aposta em sabores de hambúrgueres diversificados (o próprio cliente escolhe os ingredientes), com opções que agradam ao paladar do mineiro. Desde que inaugurou, em 2021, O Burguin viu um crescimento exponencial.
Segundo a gestora da hamburgueria Larissa Moura, no início, o faturamento com as entregas via aplicativo de delivery, por exemplo, girava entre R$ 50 mil e R$ 70 mil por mês. Hoje, esse número saltou para R$ 150 mil. Além disso, a empresa deve abrir, no próximo semestre, a segunda unidade loja, que tem local, mas precisa ainda de uma reforma e adaptação.
Ela conta ainda que, durante o Carnaval neste ano, a hamburgueria viu um “boom” no movimento presencial, com 200 a 220 pessoas atendidas por dia de folia. “Os foliões realmente queriam ir de um bloco para o outro e comer rapidinho para não perder a apresentação, para não perder o show. Teve gente que pedia no bloco mesmo, ficava na esquina esperando já com um pacote para dividir para todo mundo”, comenta.
Por lá, as refeições ficam prontas em 7 minutos - só o tempo de cocção da carne. Sem ingredientes industrializados, a casa tem uma proposta de fast-food mais saudável.
Larissa Moura explica que o local aposta na proposta de hambúrguer “smash” - do Inglês, esmagar. São hambúrgueres feitos a partir de bolinhas de carne que são esmagadas na chapa e, por isso, saem com formatos diferentes (não são colocados em forminhas redondas) e são mais finos. “A gente trabalha com a carne fresca, e faz o preparo dessas bolinhas de 80 gramas. Essa carne é prensada na chapa, esmagadinha mesmo”, diz.
Ela explica que esse processo ajuda a tirar a gordura da carne. “Em um blend mais grossinho, normalmente fica uma concentração maior de gordura, tanto que, quando você morde, escorre até uma gordurinha, né? Mas, quando vocês ‘smesha’, você automaticamente escorre a gordura em excesso e, além disso, propicia ali uma cocção ao ponto”, explica.
Investimento
O consultor Pedro Henrique Oliveira explica que, para se ter um restaurante que se encaixe na categoria fast-food, é necessário investir na mecanização. Ela vai permitir que se siga o conceito de atendimento rápido.
“Uma coisa que configura o fast-food é a industrialização, ela é a base do fast-food. É aquela coisa muito rápida, não tem como você inventar muito a roda. Enquanto você está pagando, já está pegando a comida e andando. Você pega, come ali no descartável, dispensa na lata de lixo e vai embora”, diz.
Investir em maquinário, no entanto, pode ser algo muito caro. Ele cita, por exemplo, o preço de uma lâmpada usada por várias redes de fast-food para manter as batatas fritas quentes e crocantes (afinal, no fast-food, o cliente não pode esperar enquanto fritam as batatas, elas têm que estar à disposição e frescas). “Aquela lâmpada que você fica ali vendo aquele tanto de batata amarelinha, que fica fica sempre quentinha, é R$ 2.000 cada, ela é cara”, exemplifica.
Outro produto que ele cita é a chapa usada nos grandes fast-foods para grelhar a carne, elas podem chegar a custar R$ 400 mil. “Mas é uma chapa que faz hambúrguer em um minuto, 30 segundos cada lado, você faz 50 de uma vez”, diz. Outra questão é o risco de ser pressionado pelas grandes redes, que conseguem produzir muito mais por preços mais atrativos.
Aliás, a questão dos preços merece uma crítica, no ponto de vista de Pedro Henrique. Ele diz que as empresas de fast-food têm reduzido seu produto ao preço e não à qualidade, banalizando o próprio produto. “Todo mundo banalizou seu produto, diminuiu tudo a carne, queijo e molho. O sushi virou sushi de R$ 1, você escolhe a quantidade de peça, aí vem um arroz com cheiro de peixe”, critica.
“Virou uma coisa monstruosa, você não tem fast-food com chopp artesanal, você não tem fast food de picanha, você não tem fast-food de camarão, você não tem fast-food de defumados. Você não tem fast-food de produto com valor agregado", finaliza.
Fonte: O Tempo