Quem deseja, ou precisa, trocar o transporte terrestre pelo aéreo já notou que os preços das passagens também estão nas alturas. E isso não é apenas uma percepção individual. De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o valor das passagens aéreas subiu 19,26% no acumulado do último ano. E a perspectiva não é das melhores. De acordo com o IPCA-15, uma prévia de setembro, as passagens aéreas registraram aumento de 4,51%.
O IPCA é um indicador mensal calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que mede a variação de preços de produtos e serviços.
Para Marcus Quintella, diretor da FGV Transportes, o preço do dólar - que fechou nesta sexta-feira (27) a R$ 5,43 - é um dos fatores que encarecem a passagem. Isso porque, cerca de 60% dos custos das companhias aéreas - como combustível, aluguel e manutenção - estão atrelados à moeda.
“O pós-pandemia, que fez a busca por viagens aumentar, e a falta de aeronaves para atender a toda essa demanda são elementos que também colaboram para os preços subirem. E a tendência é que o preço aumente mais no final do ano, por conta da temporada de férias e das datas festivas”, analisa.
Já o economista Leonardo Cassol, do site Melhores Destinos, plataforma focada em promoções de passagens aéreas, observa que o preço “mais salgado” é ainda mais perceptível quando analisamos viagens para certas regiões do país.
“Quem vai do Sudeste para o Nordeste nota que os preços estão bastante altos. Já os trechos mais curtos aumentam as chances de encontrarmos valores melhores. Quem vai de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro ou para São Paulo, por exemplo, enxerga uma queda de preço em algumas ocasiões”, aponta.
Luz no fim do túnel?
Apesar do aumento observado no último ano, alguns sinais mostram - por incrível que pareça - que os preços podem sim começar a cair. Quando observamos o acumulado apenas de 2024, de janeiro a agosto, o IPCA mostra que houve queda de 34,48% no valor das passagens. Talvez ainda não seja o suficiente para que o consumidor sinta uma diminuição expressiva nos preços, mas não deixa de ser um bom sinal.
Para o professor da área de gestão do Centro Universitário Una, Stenio Afonso, essa redução nos últimos meses reflete uma “possível volta à normalidade” após um período de grandes elevações nos preços. “O pós-pandemia fez com que as passagens aumentassem muito, por conta da demanda. E agora, com a redução no preço do querosene e a oferta de outras opções de voos, que não existiam anteriormente, tem havido uma redução nos valores. Então, não é que as passagens estejam ficando necessariamente baratas. Mas, acredito que os preços estejam tentando voltar a uma normalidade que existia antes da pandemia”, reflete.
Outro fator, que pode dar esperança de “dias melhores” aos viajantes, é que a Petrobras anunciou, nessa quinta-feira (26), um corte de 9,1% no preço do QAV (querosene de aviação), já como resposta à queda das cotações internacionais do petróleo nas últimas semanas. Com o querosene mais barato, pode ser que a tendência de queda nos preços das passagens continue - uma vez que o combustível representa 25 a 40% do custo total da operação.
“Qualquer redução no preço do querosene pode ser facilmente percebido pelas companhias aéreas e isso pode significar uma redução de preço. Entretanto, será que as empresas vão repassar esse ganho para o consumidor? Isso é uma outra questão que precisa ser analisada”, questiona o professor.
Não existe almoço grátis
Enquanto não percebe uma redução significativa no preço das passagens, o consumidor precisa estar atento para não cair em ciladas ao buscar “vantagens” no mercado. “Não existe almoço grátis. É preciso tomar muito cuidado com sites que não são de companhias e que oferecem preços muito baratos. Vimos o que aconteceu com o 123milhas. É melhor comprar de sites oficiais, pois ali sim haverá possíveis promoções que realmente serão cumpridas pelas empresas”, alerta Marcus Quintella, diretor da FGV Transportes.
Ele também não recomenda que os consumidores comprem as passagens com muita antecedência - um ano, por exemplo - uma vez que nem as próprias companhias têm uma noção exata de como o mercado estará no futuro. “Um prazo de dois a quatro meses antes da viagem é mais recomendado, pois assim é mais fácil encontrar melhores ofertas”, diz.
Fonte: O Tempo