Na última semana, o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) informou que o início de outubro tem sido de altas no preço da carne
Carne bovina foi retirada dos cardápios da universidade de Coimbra (Foto/Pixabay)
O preço da carne bovina pode passar por um aumento, nas próximas semanas, nos açougues Brasil afora. O valor pago pelos consumidores pode ser impactado por uma alteração do ciclo pecuário, em que se tem tido uma menor disponibilidade de animais para abate. Outra situação que pode refletir é o período de estiagem que chega ao final em outubro, mas historicamente gera reflexos ao setor.
Na última semana, o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (USP), informou que o início de outubro tem sido de altas no preço da carne. O cenário foi observado no estado paulista e nas demais regiões de pesquisa. “O tempo seco e a falta de pasto tornam muito baixa a oferta de animais de pasto”, atestou o Cepea.
A analista de agronegócio da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Sistema Faemg Senar), Mariana Simões, ressalta que o período de estiagem, em cenários habituais, pode resultar em uma maior oferta de animais para abates, em função das dificuldades de manejo do gado durante a seca. Na temporada sem chuva, os pastos ficam mais áridos, comprometendo a alimentação do gado.
Como alternativa para garantir os níveis proteicos e energéticos, ela cita que o fornecimento de alimentos como ração à base de milho e soja podem amenizar o impacto. “Mas temos produtores que não conseguem se planejar para ofertar alguns alimentos durante esse período e acabam enviando os animais para abate como estratégia. Então, historicamente, a gente tem épocas do ano que a gente tem uma oferta maior do produto”, cita.
Simões ressalta, porém, a mudança do ciclo pecuário neste ano, que leva a uma menor oferta de gado. “Tivemos em 2024 até o primeiro semestre de 2025 abates recordes de fêmeas e que se tem uma menor oferta de bezerros e de animais disponíveis para abate. Nesse momento, a gente tem uma expectativa de uma possível recuperação de preços ao produtor, mas que também pode refletir para o consumidor em uma alta no preço do produto”, detalha.
O cenário deve se manter, inclusive, ao longo de 2026. “Havia uma expectativa de que esse ciclo já tivesse virado até o primeiro semestre de 2025 e não foi o que aconteceu. Tivemos uma recuperação de preços em relação ao ano passado, em que a carne esteve a preços bem abaixo do seu histórico, mas a expectativa é que a gente tenha esse início gradual da recuperação dos preços da carne bovina”, acrescenta.
Qualidade pode cair?
O coordenador de bovinocultura da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), Nauto Martins, diz que em 2025 houve um volume mais regular e distribuído de chuva, cenário que pode ajudar no manejo do gado, mesmo com a menor qualidade do pasto. “E isso acaba afetando também a qualidade da carne que vai para o mercado e do leite também. Tem alguns mercados que pagam por qualidade, então esse produto pode ter um menor valor porque terá uma menor concentração de gordura intramuscular, aquele marmoreio que a gente já fala”, ilustra.
No caso do leite, Nauto Martins cita que a aridez reduz os sólidos do produto, levando a uma queda de qualidade do produto. “O produtor tem dificuldade de produzir com quantidade e qualidade, porque a maioria dos rebanhos leiteiros também são a pasto aberto. E assim o consumidor é prejudicado nessa época de seca, porque tem menos leite disponível. A captação diminui pelos laticínios, cooperativas e o preço sobe”, assinala.
Fonte: O Tempo