INVESTIGAÇÃO

'Só parou de abusar de mim porque não conseguia mais ter ereção', diz vítima de pastor

Crimes de estupro, abuso e importunação sexual estariam acontecendo há pelo menos 20 anos e há, ao menos, sete vítimas, segundo Polícia Civil

Raquel Penaforte/O Tempo
Publicado em 20/05/2025 às 15:56Atualizado em 20/05/2025 às 15:56
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Polícia Civil apresentou o caso envolvendo o pastor evangélico (Foto/Videopress Produtora)

“Ele nos ensinou que deveríamos amar e respeitar nossa liderança no ministério. Então, me levava para a parte superior da igreja, com a desculpa de querer saber como era minha experiência com Deus e abusar de mim. Eu era uma criança, tinha 16 anos. Graças a Deus, depois de um tempo, ele não conseguia mais ter ereção, e aí as conjunções pararam”. O relato é de uma mulher, de um grupo de pelo menos outras sete, que procurou a Polícia Civil de Minas Gerais para prestar queixa contra um pastor evangélico, de 51 anos. Ele é suspeito de abusar sexualmente delas. Os crimes estariam acontecendo há pelo menos 20 anos dentro da igreja, localizada no Jardim Vitória, região Nordeste de Belo Horizonte. O homem foi indiciado, mas o pedido de prisão preventiva foi negado pela Justiça. Os detalhes da investigação foram repassados à imprensa na manhã desta terça-feira (20).

“Ele sempre dizia que todas as ações dele eram conduzidas pelo Espírito Santo, que ele era ungido por Deus e que sabia o que estava fazendo. Falava que eu não precisava ter medo, nem vergonha. Um dia, ele pediu para me ver sem roupa, eu neguei, mas ele insistiu, e, sem perceber, acabei me despindo. Ele me deitou na cama e penetrou em mim. Eu chorei, pedi para parar, mas ele não parou. Depois, me levou à farmácia e me fez tomar uma pílula do dia seguinte. Eu perdi minha virgindade ali”, contou.

Segundo as investigações da polícia, que começaram tão logo a primeira denúncia foi feita, no início deste ano, a forma de agir do suspeito era sempre a mesma. “Ele usava desse poder de liderança para persuadir e abusar das vítimas fazia citações religiosas. As que negavam ou, após o abuso, indicavam que fariam uma queixa contra ele, ele iniciava as ameaças”, disse a delegada Larissa Mascotte, responsável pelas investigações. Uma das vitimas seria uma menina de 12 anos, que teria tido os seios acariciados pelo pastor. "A mãe também era uma das vítimas, e a criança contou para o pais, e a família deixou de frequentar a igreja", completou.

Ao mesmo tempo em que estaria cometendo os abusos, o homem supostamente iniciava uma série de difamações contra as vítimas para os outros membros da igreja. “A ideia era que, caso alguma contasse o que estava acontecendo, ele já havia espalhado algo negativo sobre elas, dizendo que se tratava de uma pessoa louca, que havia se perdido no mundo, se afastado de Deus, e assim, conseguia ficar impune”, completou a delegada.

Foi assim com a vítima, que, após anos de abusos e torturas psicológicas, resolveu pôr um fim na história. “Eu descobri que uma amiga da escola, que também ia à igreja, também estava sendo vítima dele. Decidimos juntas buscar uma pessoa de dentro da igreja, que acabou procurando o pastor para contar sobre o que havíamos denunciado. Tudo piorou”, relembrou a mulher, que hoje tem 35 anos. Segundo a vítima, a partir daí, o pastor, além de cometer mais abusos, passou a fazer ameaças, dizendo que caso alguém soubesse, todos iriam acreditar nele, e não nelas. “Ele me pagou um curso técnico anos depois, e passou a usar isso contra, dizendo que eu me prostituía para ele”, contou.

De acordo com a vítima, o suspeito teria parado de estuprá-la por volta de 2018. “Ele não conseguia mais ter ereção, acho que foi Deus cobrando dele todo mal que ele cometeu", afirmou. Contudo, segundo ela, as ameaças psicológicas só terminaram há dois anos, em 2023.

Inquérito

Após a denúncia da primeira vítima, outras mulheres se sentiram encorajadas a procurar a polícia para prestarem queixas contra o suspeito. Segundo a delegada, provas contundentes levaram ao indiciamento por três crimes: seis vezes por estupro, cinco vezes por violação sexual mediante fraude e duas vezes por importunação sexual. 

“Pedimos pela prisão preventiva dele, mas o pedido não foi aceito pela Justiça. Em depoimento, ele preferiu ficar calado, e alega estar doente”, completou a delegada. A reportagem questionou o Tribunal de Justiça de Minas Gerais sobre a decisão e aguarda posicionamento.

Fonte: O Tempo

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