GUERRA

Tensão entre Israel e Hezbollah tem escalada; Irã faz ameaças

Redação O Estado de S. Paulo
Publicado em 16/10/2023 às 06:29
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Escombros após ataque aéreo israelense na Faixa de Gaza (Foto/HASHEM ZIMMO/THENEWS2/ESTADÃO CONTEÚDO)

Escombros após ataque aéreo israelense na Faixa de Gaza (Foto/HASHEM ZIMMO/THENEWS2/ESTADÃO CONTEÚDO)

A tensão regional em torno da guerra entre Israel e o Hamas cresceu neste domingo, 15. Foi o dia de maior violência entre a facção libanesa Hezbollah e os israelenses. Um ataque do grupo libanês matou uma pessoa na cidade israelense de Shtula, no norte o país.

Mísseis antitanque e foguetes foram lançados ao longo do dia, e no começo da noite caças de Israel bombardearam posições do grupo no sul libanês, enquanto soldados de ambos os lados trocavam fogo.

Ao todo, as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) contaram cinco ataques com mísseis antitanque, nove com foguetes e diversos disparos com morteiros e armas leves. As ações continuaram durante a noite, com a inclusão do poderio aéreo israelense na equação.

O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, afirmou neste domingo em um vídeo que seu país não tem interesse em um novo conflito com o Hezbollah, mas que o grupo precisava estar atento às consequências se o fizesse.

Troca de ameaças

Principal patrocinador do Hezbollah e um dos maiores aliados do Hamas na região, o Irã também fez ameaças. "Se a agressão sionista não parar, as mãos de todos os envolvidos estão no gatilho", afirmou o chanceler do Irã, Hossein Amirabdollahian, segundo a imprensa estatal iraniana, em referência à retaliação do Estado judeu contra Gaza, dominada pelo grupo terrorista Hamas desde 2007.

Depois, à rede de televisão Al Jazeera, o chanceler iraniano disse que seu país "não pode ser só um observador": "Se o escopo da guerra se expandir, danos significativos serão infligidos aos EUA".

A escalada deste domingo vem um dia após o chanceler iraniano encontrar-se com o líder político do Hamas, Ismail Haniye, no Qatar.

Em resposta, o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, afirmou que o país procurou o Irã por canais informais para alertar que não deveria haver envolvimento na crise de Israel. "Há um risco de escalada, com a abertura de uma segunda frente no norte e, claro, o envolvimento do Irã", disse à rede CBS.

Para responder à ameaça, o Pentágono está dobrando rapidamente a quantidade de poder de fogo americano implementado no Oriente Médio, em um esforço para impedir uma guerra regional mais ampla e realizar possíveis ataques aéreos para defender os interesses americanos, disseram autoridades dos EUA no domingo.

O secretário de Defesa dos EUA, Lloyd J. Austin III, disse no sábado (14) que havia deslocado um segundo porta-aviões para o Mediterrâneo oriental "para impedir ações hostis contra Israel ou quaisquer esforços para ampliar essa guerra" após o ataque terrorista do Hamas a Israel no último fim de semana. Espera-se que o segundo porta-aviões, o Dwight Eisenhower, chegue nos próximos dias.

A Força Aérea também está enviando aviões de ataque terrestres adicionais para a região do Golfo Pérsico, dobrando o número de esquadrões de F-16, A-10 e F-15E em terra. Combinados com os quatro esquadrões de jatos F/A-18 a bordo de cada porta-aviões, os Estados Unidos terão uma armada aérea de mais de 100 aviões de ataque, segundo as autoridades.

O Pentágono também enviou uma pequena equipe de forças de Operações Especiais a Israel para auxiliar na inteligência e no planejamento de quaisquer operações para ajudar a localizar e resgatar os cerca de 150 reféns que o Hamas mantém em seu poder, incluindo alguns americanos.

Por enquanto, segundo as autoridades americanas, o envio de forças adicionais tem o objetivo de impedir que o Irã, a Síria ou qualquer grupo de representantes apoiados pelo Irã, como o Hezbollah, participem do conflito.

No entanto, enquanto as tropas israelenses se aglomeravam perto da fronteira com Gaza no domingo, preparando-se para uma provável invasão terrestre, os comandantes americanos expressaram o temor de que os Estados Unidos pudessem ser arrastados para o conflito.

As autoridades de inteligência do Pentágono e dos EUA estão monitorando de perto as forças do Hezbollah no Líbano, bem como as milícias apoiadas pelo Irã no Iraque e na Síria, que periodicamente realizam ataques contra militares americanos baseados em ambos os países.

Depois que um cidadão americano foi morto e seis outros ficaram feridos em março no nordeste da Síria por um drone que as autoridades dos EUA disseram ser de "origem iraniana", o presidente Biden ordenou que dois caças F-15E retaliassem lançando ataques aéreos contra locais de militantes ligados ao Corpo de Guardas Revolucionários Islâmicos do Irã. Isso fez com que as milícias apoiadas pelo Irã lançassem uma série de ataques com foguetes e drones que feriram outro americano.

Os aviões de guerra dos EUA estavam prontos para realizar uma segunda rodada de ataques de represália, mas a Casa Branca se conteve. Desde então, as ameaças da milícia contra os americanos diminuíram. Mas isso pode mudar com uma invasão israelense em Gaza, segundo autoridades americanas.

O porta-aviões Gerald R. Ford já estava no Mediterrâneo quando Austin, na semana passada, ordenou que o navio de guerra fosse para a parte leste do mar, mais perto de Israel. O Ford transporta quatro esquadrões de caças F/A-18 Super Hornet, bem como aeronaves de guerra eletrônica e de comando e controle. O porta-aviões também é acompanhado por navios de guerra armados com mísseis de cruzeiro Tomahawk. O Eisenhower tem um grupo semelhante de aviões de ataque e navios de guerra.

A promessa de mais poderio militar foi feita pelo governo Biden para tranquilizar os israelenses quanto ao compromisso dos EUA com sua segurança e para demonstrar determinação ao Hamas e aos outros adversários de Israel na região. Isso ocorre apesar de meses de tensão entre Biden e Binyamin Netanyahu, sobre a busca do primeiro-ministro de Israel por reformas judiciais que os críticos dizem ser antidemocráticas.

Os destacamentos adicionais também revigoram o poderio americano na região, pelo menos temporariamente. A presença militar dos EUA na região vem diminuindo com o fim das guerras no Iraque e no Afeganistão e em resposta ao chamado "pivô para a Ásia", declarado pelo governo Biden para se concentrar nas ameaças de longo prazo da China, bem como na guerra na Ucrânia.

Austin se reuniu com líderes israelenses na sexta-feira e reafirmou o apoio dos EUA a eles na primeira semana de sua guerra contra o Hamas.

Austin, que chegou de Bruxelas, onde estava participando de uma reunião dos ministros da defesa da Otan, viu em primeira mão algumas das armas e da ajuda à segurança que o governo Biden enviou às pressas para Israel. Uma segunda remessa de armas chegou na sexta-feira, disseram autoridades israelenses.

O Pentágono enviou a Israel interceptadores para seu sistema de defesa antimísseis Domo de Ferro, bem como "bombas de pequeno diâmetro" projetadas para reduzir a possibilidade de vítimas civis em um campo de batalha urbano denso como Gaza, projéteis de artilharia e outras munições, disseram as autoridades.

Questionado sobre a probabilidade de vítimas civis em Gaza, já que as tropas israelenses se preparam para um grande ataque terrestre no local, Austin disse que Israel tem o direito de se defender. Ele acrescentou que havia trabalhado com as forças israelenses ao longo dos anos, quando era um general do Exército.

"Elas são profissionais, disciplinadas e estão focadas nas coisas certas", disse ele aos repórteres depois de se reunir por quase duas horas com seu colega israelense, Yoav Gallant, e o gabinete de guerra israelense.

Os Estados Unidos fornecem a Israel mais de US$ 3 bilhões em assistência militar todos os anos, e o Secretário de Estado Antony J. Blinken disse que grande parte do equipamento proveniente desse financiamento já está "em fase de preparação" para ser enviado a Israel.

O Pentágono também posicionou estoques de armas e munições no valor de aproximadamente US$ 2 bilhões em cerca de seis locais em Israel. Os estoques fornecem armas e munições para o Pentágono usar em conflitos no Oriente Médio, e os Estados Unidos também deram a Israel acesso aos suprimentos em emergências.

O uso dos estoques é estabelecido em um acordo de "mão dupla", no qual ambos os países autorizam seu uso. Por exemplo, o Pentágono, com a permissão de Israel, utilizou o vasto, mas pouco conhecido, estoque para ajudar a atender à extrema necessidade da Ucrânia de projéteis de artilharia na guerra contra a Rússia.

Austin disse em Bruxelas que os Estados Unidos não imporiam condições sobre como as tropas israelenses usariam as armas americanas em sua luta contra o Hamas. "Nosso foco é garantir que Israel receba o que precisa para se proteger", disse ele. (Com agências internacionais).

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