Pesquisadores descobriram que bebês expostos a cães durante o primeiro ano de vida têm menor probabilidade de desenvolver dermatite atópica, especialmente aqueles com predisposição genética para a condição. A pesquisa foi publicada na revista Allergy. O estudo identificou que a proteção não se aplica à exposição a gatos.
Cientistas observaram que micróbios trazidos pelos cães podem "treinar" o sistema imunológico infantil. A investigação mostrou que uma região genética ligada à inflamação aumenta o risco de dermatite atópica, mas esse risco diminui em pessoas que conviveram com cachorros na primeira infância.
Testes em laboratório confirmaram que alérgenos caninos reduziram a inflamação em células da pele portadoras do gene de risco para a condição. Os pesquisadores sugerem que a exposição precoce a uma variedade maior de micróbios ajuda o sistema imunológico a reagir adequadamente, sem respostas exageradas, conceito conhecido como "hipótese da higiene".
O estudo inicial analisou a relação entre a dermatite atópica e sete fatores de estilo de vida, incluindo animais de estimação, irmãos, tabagismo, antibióticos e higiene. Ao expandir a pesquisa para 255.000 participantes, os cientistas encontraram dados relevantes sobre a interação entre genes e ambiente.
A pesquisa beneficia principalmente crianças com predisposição genética à dermatite atópica que ainda não manifestaram a condição. Para crianças que já apresentam a dermatite atópica, a caspa de animais pode piorar os sintomas.
O trabalho foi conduzido por pesquisadores da Universidade de Edimburgo, na Escócia, e do Helmholtz Munich, na Alemanha, que estudaram como fatores genéticos e ambientais interagem no desenvolvimento do eczema.
Estudos anteriores já haviam identificado outros benefícios da convivência com cães. Um estudo de 2019 da Suécia associou a posse de cachorros ao aumento na atividade física, maior apoio social e menor risco de morte prematura após ataques cardíacos ou derrames. Uma revisão de 2022 sobre animais de estimação, doenças cardíacas e hipertensão mostrou que tanto idosos quanto crianças apresentam redução na pressão arterial alta quando convivem com um animal de estimação.
A pesquisa atual foca apenas na prevenção da dermatite atópica através da exposição precoce a cães, não abordando tratamentos para a condição já existente.
"As perguntas mais difíceis que me fazem na clínica são sobre por que seus filhos têm eczema e como podem ajudar", disse Sara Brown, dermatologista do Instituto de Genética e Câncer da Universidade de Edimburgo, em comunicado à imprensa.
"Sabemos que a composição genética afeta o risco de uma criança desenvolver dermatite atópica e estudos anteriores mostraram que ter um cão de estimação pode ser protetor, mas este é o primeiro estudo a mostrar como isso pode ocorrer em nível molecular", afirmou Brown.
Marie Standl, epidemiologista do Helmholtz Munich na Alemanha, comentou sobre a importância da pesquisa: "Este estudo lança luz sobre por que algumas crianças desenvolvem dermatite atópica em resposta a exposições ambientais enquanto outras não".
"Nem todas as medidas preventivas funcionam para todos — e é precisamente por isso que estudos de gene-ambiente são cruciais", declarou Standl. "Eles nos ajudam a avançar em direção a estratégias de prevenção mais personalizadas e eficazes."
Fonte: O Tempo.