Ligações anônimas podem auxiliar na busca pelo desaparecido (Foto/PCMG/Divulgação e Redes Sociais/Reprodução/@PacíficaLopes)
Desde o dia 22 de julho, quando acorda ou coloca a cabeça no travesseiro para tentar dormir, Elesvânia Lopes, de 35 anos, moradora de Mato Verde, no Norte de Minas, se faz a mesma pergunta: “Onde está meu filho?”. A dona de casa vive a angústia da espera por notícias que levem ao paradeiro de Jhonatan Raffael Lopes, de 14 anos, que fugiu de casa após um desentendimento familiar. O caso é investigado pela Polícia Civil.
“É muito difícil não saber a resposta. Ele sempre foi um menino amável, dócil, atencioso, cuidadoso e amoroso comigo e com toda a família. Não tá sendo fácil não ter nenhuma notícia”, lamenta Elesvânia.
O sofrimento da dona de casa é também o de muitas outras famílias mineiras. De acordo com dados da Polícia Civil de Minas Gerais, de janeiro a setembro deste ano, um de cada quatro casos de desaparecimento registrados no Estado envolveu jovens com idades entre 12 e 17 anos. Dos 4.869 casos, 1.137, ou seja, 23,2%, são de pessoas nessa faixa etária, e o principal fator relatado como o motivo do desaparecimento é o conflito familiar. A preocupação é que após três anos em queda (entre 2019 e 2022), o percentual de jovens dessas idades que desaparecem em relação ao total de casos registrado cresce pelo segundo ano seguido – em 2022 eram 22,4% e, no ano passado, foram 22,6%.
A delegada chefe da Divisão de Referência da Pessoa Desaparecida da Polícia Civil e Minas Gerais, Ingrid Estevam, explica que o conflito intrafamiliar faz com que muitos desses jovens fujam de casa. Segundo Ingrid, adolescentes têm um desejo de independência e querem mostrar que podem tomar as próprias decisões, o que, muitas vezes, os leva a agir sem pensar. A delegada aponta para essa nova geração, que tem acesso à internet e, por isso, sofre a influência de diversas pessoas ou acabam se viciando em telas, o que torna os conflitos mais comuns.
“Temos observado um aumento significativo no uso de telas e acesso cada vez mais precoce às redes sociais. Esses jovens são influenciados por outras pessoas. Os pais não sabem com quem e onde os filhos navegam na internet. E isso piora quando eles resolvem punir pelo excesso do uso. Já atendemos um caso de uma criança de 8 anos que fugiu de casa porque os pais cortaram o uso do telefone. No caso de meninas, por exemplo, acontece muito de elas fugirem pela vontade de namorar e os pais não permitirem”, conta a delegada. Ingrid afirma que, na grande maioria dos casos os “desaparecidos” acabam voltando para casa por conta própria.
Ainda conforme a delegada, uma forma de reduzir esses casos é uma aproximação dos pais com os filhos. “Eles devem se mostrar acolhedores e amigos, dar liberdade e proteção para os adolescentes. A prevenção é o melhor caminho para evitar desaparecimentos. Saiba com quem seu filho anda e conversa, fique atento”, orienta.
Polícia segue sem pistas
Após fugir de casa, Jhonatan Lopes, de 14 anos, excluiu as contas que tinha nas redes sociais e parou de atender os telefonemas da mãe e de outras pessoas. Apesar disso, a família suspeita que ele esteja sendo ajudado por uma pessoa próxima.
Mãe do garoto, Elesvânia Lopes conta que o menino fugiu após um desentendimento dela com a ex-companheira, situação que seria recorrente e que ela acredita que possa ter contribuído para a fuga dele. A dona de casa lembra que o filho sempre foi um jovem tranquilo, mas que mudou de comportamento desde que ela e a ex passaram a viver juntas: “Ela começou a coagir meu filho a não conversar comigo e foi afastando ele de mim, ele falava que não ia mais ficar comigo. Até os 12 anos era muito amoroso”, afirma.
De acordo com a Polícia Civil, o caso está em investigação, mas não há pistas concretas de onde Jhonatan possa estar. Mais detalhes do caso não foram informados. O garoto teve sua imagem publicada na lista de desaparecidos que é divulgada pela corporação. Quem tiver informações sobre o jovem pode ligar para 0800 28 28 197.
Ranking
Segundo o Anuário de Segurança Pública de 2024, Minas Gerais é o terceiro Estado do Brasil que mais registra casos de desaparecidos. Em 2023, último ano com dados completos, dos 80.317 casos no país, 7.194 aconteceram em terras mineiras, ficando atrás apenas de São Paulo (18.508) e Rio Grande do Sul (7.424). Segundo a Polícia Civil, a maioria dos desaparecidos corresponde a um perfil: homem, de 12 a 17 anos (23,2%), pele parda e em conflitos intrafamiliares.
Fonte: O Tempo