A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) anunciou, nesta quinta-feira (15), a conclusão bem-sucedida da fase 2 dos testes clínicos da vacina SpiN-TEC contra a Covid-19. Desenvolvida inteiramente no Brasil, a vacina representa um avanço promissor no enfrentamento da pandemia com tecnologia nacional e está agora a um passo da fase 3, a última antes da aprovação definitiva.
Produzida nos laboratórios do CTVacinas da UFMG, a SpiN-TEC se destaca por sua ampla proteção contra variantes do vírus, aliada a um custo reduzido para o sistema de saúde público. Além disso, utiliza uma abordagem inovadora ao priorizar a indução da imunidade celular, o que representa uma mudança de paradigma em relação às vacinas atualmente em uso no país.
“A SpiN-TEC está ensinando o Brasil a fazer vacinas nacionais. Enfrentamos vários gargalos nessa jornada chamada de ‘vale da morte’, que se situa entre a pesquisa e a aplicação prática. Estamos alcançando soberania na inovação de vacinas”, destacou Ricardo Gazzinelli, coordenador do CTVacinas.
Testes com sucesso e envolvimento da população
A fase 2 dos testes foi realizada com 320 voluntários monitorados rigorosamente por um período de 12 meses. Entre eles, Maria Adelaide, de 61 anos, foi a última a concluir o acompanhamento. Comerciante e residente em Belo Horizonte, ela comemorou a participação no estudo e a aplicação da SpiN-TEC.
“Estou muito orgulhosa de participar desse marco histórico. O Brasil precisa fabricar suas próprias vacinas. E eu não tive nenhuma reação, nenhuma dor, nada ao tomar a SpiN-TEC”, relatou.
Nesta etapa, metade dos participantes recebeu a SpiN-TEC, enquanto a outra metade foi imunizada com a vacina Pfizer bivalente, como controle. Os dados indicam que a SpiN-TEC é segura e imunogênica, com desempenho superior frente às variantes da Covid-19 — um ponto crítico à medida que o vírus continua a evoluir.
Acessível e adaptada ao Brasil
Outro diferencial relevante é a estabilidade da vacina. De acordo com Helton Santiago, diretor de ensaios clínicos do CTVacinas, a SpiN-TEC pode ser armazenada por até dois anos em temperatura de geladeira comum e manter sua eficácia por até 15 dias em ambiente natural. Isso representa uma enorme vantagem para a logística de distribuição, especialmente em regiões mais remotas.
“O custo de fabricação é mais barato porque usamos uma tecnologia com a qual já temos expertise e infraestrutura no Brasil, seja em laboratórios estatais ou privados”, explicou Santiago.
Desde a fase 1, que envolveu 36 voluntários, a vacina demonstrou segurança e eficácia. “Tivemos 100% de sucesso nos testes clínicos. Não enfrentamos maiores problemas técnicos, científicos ou éticos”, afirmou o diretor.
Imunidade celular: uma nova estratégia
Enquanto vacinas tradicionais se baseiam em anticorpos neutralizantes, a SpiN-TEC foca na imunidade celular, especialmente por meio dos linfócitos T. Essa abordagem oferece maior proteção contra casos graves da doença, mesmo diante de novas variantes que escapam dos anticorpos.
“A imunidade celular não impede a infecção, mas evita formas graves. Muitas vezes a pessoa nem percebe que foi infectada. É como as vacinas anuais contra a gripe”, explicou Gazzinelli.
No cenário mundial, apenas uma vacina com tecnologia semelhante foi licenciada, na Rússia. A SpiN-TEC, porém, segue os padrões exigidos por agências internacionais como a Anvisa, a FDA e a EMA. A expectativa é que a fase 3 dos testes, com aproximadamente 5.300 voluntários de todo o país, tenha início em 2026.
Caminho até o Programa Nacional de Imunizações
Com a conclusão da fase 3 e a devida aprovação da Anvisa, a meta da equipe da UFMG é incorporar a SpiN-TEC ao Programa Nacional de Imunizações (PNI), garantindo ao Brasil uma alternativa autossuficiente e estratégica no enfrentamento da Covid-19.
Se todas as etapas ocorrerem dentro do previsto, a vacinação com a SpiN-TEC poderá começar em 2028 — uma conquista científica e tecnológica de grande importância para a saúde pública nacional..