O estudo chamado de Brace é realizado em Toulouse, no sul da França e tem como objetivo entender os efeitos de exercícios físicos na rotina de astronautas no espaço
Voluntários deitados para estudo sobre os efeitos da gravidade em clínica no sul da França (Foto/AFP)
Cerca de 12 voluntários estão participando de um experimento da Agência Espacial Europeia que paga cerca de R$ 100 mil reais (18 mil euros) para as pessoas ficarem dois meses em uma cama.
O estudo chamado de Brace é realizado em Toulouse, no sul da França e tem como objetivo entender os efeitos de exercícios físicos na rotina de astronautas no espaço, além de também poder servir para tratamento de idosos ou pessoas acamadas.
Segundo a agência espacial, os participantes deverão ficar em uma cama inclinada em um ângulo de 6 graus. Nesta posição, eles farão suas refeições, tomarão banho e deverão fazer as necessidades fisiológicas — tudo sem levantar os dois ombros da cama, no máximo dá para ficar de lado. Esta posição é a que melhor recria os efeitos da ausência de gravidade, a que os astronautas são submetidos no espaço.
"Entramos na fase exploratória espacial. Estamos realmente tentando ir à Lua e a Marte. Não é ficção. E isso implica voos de longa distância, de dois a três anos", explica Audrey Bergouignan, do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS).
"A exposição à microgravidade tem impacto no conjunto dos sistemas fisiológicos (...) e provoca alterações que tentamos entender e prevenir", mediante protocolos testados primeiro em terra, afirma a pesquisadora.
Assista como funciona:
Exercícios em uma centrífuga
Na clínica, tudo está organizado para que os 12 voluntários possam permanecer deitados. Cerca de 100 pessoas estão encarregadas de acompanhá-los ao longo do estudo, de profissionais de saúde a pesquisadores.
"Temos condições muito favoráveis para permanecermos deitados. Sempre que precisamos de alguma coisa é só chamar a equipe médica", conta Matthieu, um horticultor de 39 anos que foi convencido pela namorada a participar do experimento, remunerado com 18 mil euros, quase R$ 97.272 na cotação atual, por três meses de presença no local.
Para comparar a evolução do organismo em função do exercício físico realizado, os voluntários são divididos em três grupos: um, deitado, que faz 30 minutos de bicicleta todos os dias; outro, que não pratica nenhuma atividade física; e um terceiro, que deve pedalar dentro de uma centrífuga humana em movimento.
"O objetivo é ver se a gravidade artificial criada pela centrífuga, ao girar, melhora os efeitos do exercício físico da bicicleta", explica Marie-Pierre Bareille, chefe da clínica espacial, à qual o CNES e a Agência Espacial Europeia confiaram o experimento.
Se os resultados forem favoráveis, essa gravidade artificial poderá ser reproduzida a bordo de missões de longa duração no espaço, uma vez resolvidas as dificuldades técnicas.
Torneios de games
"A questão é que as equipes estejam em forma e sejam capazes de trabalhar durante as partidas extraveiculares", nas quais poderão ter de realizar tarefas muito físicas, acrescenta Bareille.
“Em uma viagem a Marte, os astronautas podem perder até 15% de sua massa corporal”, diz Audrey Bergouignan.
Os participantes se revezam nas atividades previstas, tanto na bicicleta, projetada para pedalar deitado, quanto na centrífuga, entre risadas com a equipe técnica que compartilha o dia a dia com eles.
"Aqui não fico entediado, todos são muito legais", afirma Alejandro, um engenheiro aeronáutico espanhol de 26 anos que mora em Toulouse.
"Estamos em contato com as outras salas. Organizamos torneios de jogos, Mario Kart ou Fifa", diz, sorrindo, enquanto pedala sob o olhar atento de um treinador.
Para todos eles, o experimento será concluído com um retorno supervisionado à vida normal no início de julho. Outros 12 voluntários passarão pelas mesmas condições de vida em 2024.
A clínica selecionou apenas homens para "limitar as variáveis" entre os voluntários, segundo os organizadores, e obter os resultados mais "homogêneos" possíveis.
As conclusões do estudo realizado nesta cidade do sul da França não se limitarão ao campo espacial.
"O conhecimento de um estilo de vida hipersedentário ajudará todo o mundo a saber como a falta de exercício físico afeta o corpo", observa Marie-Pierre Bareille, referindo-se aos idosos, ou a portadores de patologias como a osteoporose. (Com informações de AFP)
Fonte: O Tempo