Ministro decide deixar o Supremo antes da idade limite, cita o peso das pressões a familiares e defende serenidade e diálogo em tempos de intolerância política
O ministro Luís Roberto Barroso anunciou nesta quinta-feira (9/10) que vai deixar o Supremo Tribunal Federal (STF), antecipando sua aposentadoria. Aos 67 anos, ele decidiu encerrar o ciclo oito anos antes do prazo legal, afirmando que deseja se afastar da exposição pública e dedicar-se “à vida, à literatura e à poesia”.
“Sinto que agora é hora de seguir outros rumos, ainda não definidos. Gostaria de viver um pouco mais da vida que me resta sem a exposição pública, as obrigações e exigências do cargo”, declarou Barroso, em pronunciamento no plenário do Supremo.
O ministro explicou que a decisão foi amadurecida diante do clima de radicalismo político que atinge o país e dos ônus do cargo, que, segundo ele, acabam se estendendo a familiares e pessoas próximas.
“Os ataques e as campanhas de desinformação não atingem apenas os ministros. Alcançam também quem está em volta, em um ambiente de ódio que precisa ser superado”, disse, em referência às agressões e sanções externas impostas a integrantes do tribunal e seus parentes durante os últimos anos de tensão institucional.
A saída de Barroso ocorre pouco depois do fim de seu mandato como presidente do STF, em 29 de setembro, marcado por discursos de defesa do equilíbrio entre os Poderes e da democracia como valor civilizatório. Ele também foi uma das principais vozes da Corte na reação a ataques às urnas eletrônicas e à legitimidade do processo eleitoral.
Indicado ao Supremo em 2013 pela então presidente Dilma Rousseff, Barroso deixa uma trajetória de 11 anos marcada por decisões de forte impacto social, como o reconhecimento da união estável entre pessoas do mesmo sexo, o debate sobre direitos reprodutivos e a defesa de uma Justiça mais próxima da sociedade.
Com sua saída, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) abrirá sua terceira indicação ao STF no atual mandato. Ao todo, o petista indicou quatro dos atuais integrantes da Corte: Cármen Lúcia em 2006, Dias Toffoli em 2009, Cristiano Zanin em 2023 e Flávio Dino em 2024.
Barroso deixa a Corte com o discurso de que a serenidade e o diálogo são as únicas respostas possíveis a tempos marcados por intolerância, desinformação e ataques à democracia.
Esta é a última sessão plenária de Barroso no STF. Ele informou que fica mais algumas semanas no tribunal para encerrar pedidos de vista e concluir pendências até a entrega do cargo.
Fonte: O Tempo.