Candidato a vice-prefeito votou na manhã de hoje na escola onde estudou na infância (Foto/Júnia Garrido/Campanha Fuad Noman)
Com 53,73% dos votos, o prefeito Fuad Noman (PSD) foi eleito neste domingo (27 de outubro) para mais um mandato à frente da Prefeitura de Belo Horizonte. A reeleição dele mostra a força da máquina, da costura política bem feita com as bases, além de comprovar a resiliência da propaganda eleitoral de rádio e televisão diante das redes sociais. E essa eleição ainda esclarece que o perfil do eleitor da capital é de centro-direita, ao ponto de rejeitar um candidato de posturas extremadas e de não se render a uma campanha ideológica pesada nos últimos dias com base no conteúdo de um livro.
Fuad teve o mérito de conseguir se manter ao centro – como sempre foi –, mesmo precisando fazer acenos ao eleitorado de esquerda e sem recusar diretamente o apoio do presidente da República. Foi sim, claro, herdeiro natural de grande parte desse eleitorado, mas sem colocar a estrela vermelha no peito e afastar os votos dos eleitores mais à direita.
Desconhecido pela metade da população até antes do início da campanha, o prefeito conseguiu, em especial por mérito da propaganda bem feita e bem planejada, colocar sua marca nas obras em execução na cidade. Ao longo da campanha teve êxito – até por não ter tido opção – em se desvencilhar do ex-prefeito Alexandre Kalil (sem partido) e se apresentar com uma imagem de um experiente gestor.
Apostou em pintar seu adversário Bruno Engler (PL) como um deputado ausente na Assembleia Legislativa, sem preparo para o cargo no Executivo e da direita extremada. Expôs falas e projetos antigos do parlamentar contra o lockdown na pandemia, contra o uso da máscara, anti-vacina e a favor da cloroquina no tratamento contra o coronavírus.
A estratégia deu certo a ponto de ele não desidratar até uma derrota diante da aposta da campanha adversária com foco no eleitorado conservador, com ataques ao livro “Cobiça”, escrito por ele, com descrição de cenas de sexo.
Rejeição. Engler, por sua vez, que havia concluído o primeiro turno com 99 mil votos a mais que Fuad, termina em segundo lugar, com 46,27% da preferência do eleitorado. O prefeito conseguiu reverter a diferença e terminou a eleição com 93 mil votos a mais que o deputado.
O deputado na primeira etapa da eleição tentou fazer uma campanha mais propositiva, fez muitos acenos ao eleitor de centro e mostrou preparo diante das câmeras, com uma evolução reconhecida pelas campanhas adversárias, desde 2020, quando disputou a PBH pela primeira vez. Naquela ocasião, ele também terminou em segundo lugar, mas perdendo no primeiro turno para Kalil por 63,36% a 9,95%.
O deputado angariou apoio, apesar de discreto, do governador Romeu Zema (Novo) e contou com ajuda até mesmo do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Seu principal apoiador, o deputado Nikolas Ferreira (PL), foi às ruas pedir votos e usou suas poderosas redes sociais para atingir o eleitorado da capital. O mesmo fez o ex-presidente Bolsonaro (PL) e o senador Cleitinho (Republicanos).
Mas Engler teve dificuldade para explicar suas ausências na Assembleia Legislativa e não conseguiu vencer a resistência do eleitorado diante de um candidato tão jovem (de 27 anos).
E acabou mudando de estratégia no segundo turno, quando viu as pesquisas de intenção de votos mostrarem uma inversão de cenário, colocando o prefeito à frente na corrida eleitoral. Com seu lado bolsonarista puxado à superfície e de olho no eleitorado conservador, explorou o livro escrito por Fuad na propaganda eleitoral e nas redes sociais suas e de aliados. Foi punido pela Justiça Eleitoral, mas o estrago para Fuad já estava feito e Engler parecia ter conseguido um fôlego na chegada às urnas.
Só que acabou não conseguindo convencer o eleitorado de centro que o mesmo político que chegou a processar prefeituras para barrar o lockdown na pandemia seria – por convicção pessoal e por força do grupo que representa – por exemplo, um prefeito que incentivaria a vacinação infantil. E venceu o candidato que conseguiu conquistar a confiança desse mesmo eleitor naquela que foi uma das disputas mais acirradas pela Prefeitura de Belo Horizonte nos últimos tempos.
Fonte: O Tempo