Senadores se mobilizam para apurar supostos conflitos de interesse envolvendo conversas do ministro com presidente do BC e contratos milionários do banco
A polêmica em torno do caso Banco Master ganhou um novo capítulo no final de 2025 após a divulgação de relatos de que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), teria procurado o presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, para tratar da situação da instituição financeira. A informação é da colunista Malu Gaspar, do jornal "O Globo".
Apesar de o Banco Master já estar sob investigação por supostas fraudes bilionárias, o episódio causou reação no Congresso. Parlamentares de oposição e do centro se mobilizam para coletar assinaturas e instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar possíveis conflitos de interesse envolvendo autoridades e o banco.
Em nota, Alexandre de Moraes afirmou que os encontros com Gabriel Galípolo trataram exclusivamente das sanções previstas na Lei Magnitsky, e não de assuntos relacionados ao Banco Master. O posicionamento do ministro pode ser lido ao final desta reportagem.
O senador Carlos Portinho (PL-RJ) afirmou que as conversas podem ser a ponta de um problema maior, sugerindo que uma eventual CPI no Senado seria mais ampla do que a investigação do caso específico. “Uma comissão teria o potencial de apurar a relação entre familiares de todos os ministros do STF que advogam na mais alta Corte e suas vantagens”, disse Portinho, acrescentando que o episódio poderia aumentar os pedidos de impeachment.
O senador Alessandro Vieira (MDB-SE), considerado mais moderado, anunciou que vai se empenhar na coleta de assinaturas para criar uma CPI. Segundo ele, a investigação deve apurar os supostos contatos de Moraes com Galípolo, bem como um contrato milionário entre o Banco Master e o escritório de advocacia da família do ministro, que estaria “fora dos padrões da advocacia”, além de outros indícios de atuação direta do magistrado em favor da instituição.
Segundo relatos ouvidos por Malu Gaspar, Moraes teria mantido ao menos quatro contatos com Galípolo em julho, três por telefone e um presencial. O ministro teria buscado informações sobre o andamento da transação do banco e defendido argumentos favoráveis à instituição controlada pelo empresário Daniel Vorcaro.
As supostas conversas ocorrem no contexto de uma investigação mais ampla contra o Banco Master, que acabou tendo sua liquidação extrajudicial decretada em novembro pelo Banco Central, após a descoberta de indícios de irregularidades na emissão de créditos. Na mesma data, a Polícia Federal prendeu Daniel Vorcaro e outros executivos envolvidos no caso.
Além dos contatos, a reportagem lembra que o escritório da esposa de Moraes, Viviane Barci de Moraes, teria mantido um contrato de R$ 3,6 milhões mensais com o Banco Master, previsto para três anos, totalizando cerca de R$ 129 milhões. O acordo previa que o escritório representasse os interesses do banco, embora órgãos reguladores afirmem não haver registros de pedidos formais ou reuniões feitos em nome da instituição.
Outro lado
Em posicionamento, Moraes esclareceu que, em razão da aplicação da Lei Magnitsky, participou de reuniões com autoridades e executivos do setor financeiro, incluindo o presidente do Banco Central, a presidente do Banco do Brasil, o presidente e o vice-presidente jurídico do Itaú, além de encontros com representantes da Confederação Nacional das Instituições Financeiras (CNF), Febraban, BTG, Bradesco e Itaú.
Segundo o ministro, todos os encontros trataram “exclusivamente das graves consequências” da lei americana, em especial questões como a manutenção de movimentação bancária, contas correntes e cartões de crédito e débito.
A Lei Magnitsky impõe sanções econômicas e restrições financeiras a indivíduos e entidades penalizados pelo governo dos Estados Unidos. Entre as medidas estão o congelamento de bens e a proibição de transações financeiras e comerciais com empresas ou bancos norte-americanos. Nas últimas semanas, o governo de Donald Trump retirou o ministro da lista de sancionados.
Até o momento, o Banco Central e o presidente Gabriel Galípolo não se manifestaram sobre os relatos. O espaço para resposta permanece aberto, e a reportagem será atualizada assim que novas informações ou notas oficiais forem recebidas.
Fonte: O Tempo