Na contagem regressiva para a Black Friday, que em 2024 acontece no dia 29 de novembro, as lojas se enchem de promoções e os consumidores se preparam para aproveitar ofertas irresistíveis. No entanto, por trás da euforia das compras, existe um complexo jogo psicológico que pode influenciar nossas decisões, já que a pressão social e as estratégias de marketing moldam o comportamento dos consumidores.
Segundo o neuropsicólogo e especialista em TCC (Terapia Cognitivo Comportamental), Sérgio Marçal, a pressão social desempenha um grande papel no comportamento do consumidor. “Existe um sentimento de fazer parte de um grupo. Para você se sentir incluído, você precisa aderir ao que está na moda. Esse é um conceito de ‘felicidade imediata’ associado a ‘possuir’, que gera uma sensação de pertencimento e uma busca que não tem fim”, afirma.
Esse fenômeno, conhecido como efeito manada, leva muitas pessoas a fazerem compras impulsivas, sem considerar a real necessidade dos produtos. Além disso, as estratégias de marketing usadas durante a Black Friday são projetadas para provocar um senso de urgência. Termos como “estoque limitado” e “ofertas por tempo determinado” geram uma resposta emocional nos consumidores, forçando-os a agir rapidamente.
Ainda, conforme o especialista em comportamento, “essas estratégias publicitárias, principalmente para aqueles que já têm pré-disposição ao consumismo, são um gatilho para o pensamento imediatista e um fator de tropeço para as compras compulsórias”.
Embora a emoção do momento possa ser estimulante, muitos consumidores enfrentam o arrependimento após a compra, principalmente quando esta ação gera dívidas que comprometem o orçamento dos brasileiros.
"O conceito de vida plena e ideal, inatingível, acaba por motivar as pessoas a fazerem buscas externas ao invés de se preocuparem com o equilíbrio interno. Trata-se de uma constante busca pelo prazer de novas conquistas que logo se esvazia, resultando em problemas financeiros e sociais, e até insatisfação com aquilo que foi comprado”, revela Marçal.
COMO EVITAR COMPRAS IMPULSIVAS
O Mapa da Inadimplência e Negociações de Dívidas, produzido mensalmente pela Serasa (Serviços de Assessoria S.A.), aponta um crescimento no volume de dívidas no país. Segundo dados, o Brasil registrou a quarta maior marca do ano, no mês de setembro, em número de pessoas com contas não pagas, totalizando 72,64 milhões de endividados. Somente em Uberaba, este número chega a quase 130 mil pessoas.
Ainda de acordo com o levantamento, a maior parcela da população com restrições no nome é composta por pessoas entre 41 e 60 anos, e um dos motivos para isso são as compras por impulso.
Um estudo recente, também realizado pela unidade de crédito Serasa, mostra que cerca de 7 em cada 10 consumidores já fizeram compras de forma não planejada e destes, 72% se arrependeram dos produtos adquiridos logo em seguida.
Por isso, Sérgio recomenda que os consumidores reflitam sobre suas atitudes e pensamentos. “É possível controlar o impulso refletindo se o consumo é realmente necessário, se o produto vai agregar valor à sua vida e se a compra pode ser adiada para outro momento. O impulso inicial tende a passar rapidamente, então é fundamental resistir a ele e tomar decisões que favoreçam o bem-estar e o crescimento pessoal, evitando arrependimentos futuros”, aconselha o psicólogo.
Neste ano, é importante pensar duas vezes no que realmente importa. A Black Friday pode ser uma oportunidade de adquirir um produto mais em conta do que em outras épocas, mas entender as dinâmicas psicológicas por trás desse fenômeno é essencial para fazer escolhas mais conscientes.
O PAPEL DO ONLINE
A Cyber Monday, que este ano será na segunda-feira, 2 de dezembro, é uma campanha focada em ofertas de e-commerce, especialmente para produtos eletrônicos e de tecnologia. Assim como a Black Friday, essa data traz descontos atraentes e preços que podem caber no bolso do consumidor.
Apesar de não ser tão conhecida entre os brasileiros, a Cyber Monday tem ganhado força, especialmente agora que estamos cada vez mais conectados e habituados a fazer compras online. Com a facilidade de adquirir produtos com apenas alguns cliques, muitos consumidores acabam aproveitando a data para garantir itens com valores reduzidos.
Por outro lado, essa praticidade também pode levar a um consumo impulsivo. As redes sociais e as campanhas virais na Internet afetam a forma como enxergamos essas ofertas, principalmente se há a presença constante de influenciadores digitais, que amplia o desejo de estar sempre atualizado com as tendências.
“O conceito de felicidade plena que é vendido pelas marcas e lojas, não existe. O que existe, na verdade, são instantes de felicidade. É preciso entender que aquilo que nos falta pode ser conquistado aos poucos”, finaliza Marçal.