Paralisia do sono (Foto/Ilustrativa)
Quase todo mundo já passou por isso: depois de um dia atarefado, você encosta a cabeça no travesseiro, mas não consegue pregar o olho. Seus pensamentos parecem estar a mil por hora e você segue ligado nas preocupações, nas tarefas inacabadas e nos compromissos intermináveis de sua rotina. Você até tenta reagir e faz o possível para relaxar: recorrer àquela música que te calma ou imagina o som das ondas do mar, mas tudo parece inútil. Seu cérebro não se acalma e te convence que dormir nessas condições é praticamente uma missão impossível.
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É quando uma pergunta invade nossa mente: por que minhas ansiedades pioram justamente na hora do sono?
Um estudo feito em 2003 pelo psiquiatra Luc Staner, do Rouffach Hospital, na França, indicou que 36% das pessoas propensas à ansiedade notam que os sintomas se intensificam à noite.
“No geral, nossos pensamentos preocupantes ocorrem o tempo o todo enquanto estamos acordados, mas acabam mais evidentes à noite quando estamos com menos foco numa coisa específica – como o trabalho, os estudos ou atividades esportivas”, explica Marco Túlio de Mello, doutor em psicobiologia, especialista em medicina do sono e professor titular da UFMG.
Ele diz que isso acontece porque as situações do cotidiano seguem alimentando nossa cabeça mesmo na hora de dormir.
“Durante o dia, costumamos inverter nossa atenção para todo o lado. Mas no instante em que a mente fica mais quieta, tudo aquilo volta à tona”, afirma.
Marco Túlio reforça que ainda que normal, a constante privação de sono provocada pela ansiedade noturna pode causar irritabilidade, falhas de memória e atenção, queda imunológica e outros prejuízos.
“Estar preocupado com algo que você precisa resolver é natural contanto que esse pensamento não se transforme em algo recorrente. A primeira coisa que a privação de sono provoca é o mau-humor. A pessoa passa a ter um comportamento de irritabilidade constante. Depois, a médio prazo, ela começa a ter perda de memória, de atenção e concentração, e não lembra mais com quem conversou nem o que fez. Já a longo prazo, vai notar um déficit imunológico considerável. A pessoa vai ficar doente com mais facilidade, pois é durante o sono que recuperamos todo nosso processo imunológico”, alerta Marco Túlio.
A psicóloga Érika Miranda sugere que quanto menos dormimos bem, mais a nossa saúde fica comprometida.
“A insônia pode fazer o corpo e o cérebro doentes, além de impactar nossa memória e concentração. Uma boa noite de sono é o momento em que o cérebro 'recarrega sua bateria' para o próximo dia. Por isso precisamos de seis a oito horas de sono para o funcionamento saudável do cérebro”, observa ela.
Segundo a psicóloga Laís Ribeiro, o estado de vigília anormal pode também levar a doenças crônicas como a depressão e o estresse.
“A ansiedade é um mecanismo de proteção que temos que ajudar a nos prepararmos para lidar com dificuldades futuras. No entanto, quando nossas preocupações são excessivas, elas acabam causando prejuízos à nossa qualidade de vida e comportamentos disfuncionais, como é o caso do estresse e da depressão”, argumenta ela.
Insônia e ansiedade
Diante disso, é possível afirmar que exista uma relação entre a insônia e a ansiedade?
"Sim, pessoas mais ansiosas e deprimidas costumam também apresentar um quadro de insônia secundária", esclarece Marco Túlio de Mello,
Érika Miranda concorda e acrescenta:
"Ansiedade e insônia 'andam bem próximas', e uma pode desencadear a outra. Por isso é muito importante estarmos atentos aos pensamentos que surgem antes de dormir para descobrirmos quais são os gatilhos impactando nessa falta de sono", recomenda ela.
Para evitar que nossas preocupações estraguem nosso sono, especialistas prescrevem uma rotina de mudanças pequenas, mas significativas, que pode melhorar nossa saúde mental.
“Ocupar o tempo com pensamentos positivos, ter atividades sociais e praticar esportes podem fazer a diferença para que as preocupações não se transformem em inimigas do nosso sono e bem-estar”, indica Marco Túlio.
Ele enfatiza que o convívio com pessoas que nos tragam 100% de positividade e 0% de preocupações também é fundamental.
“Bons relacionamentos humanos fazem toda a diferença, assim como o autocontrole. Nada melhor do que sermos humildes para buscar ajuda quando o problema sair do nosso domínio. Tudo isso pode fazer a diferença não só na hora de dormir, mas em todo tempo da vida”, conclui o médico
Confira abaixo outras dicas para enfrentar o problema da ansiedade noturna:
* Fazer higienização do sono – organizar seu quarto, vestir pijamas mais confortáveis, não utilizar o celular depois que estiver na
* Ter horários fixos para deitar e acordar
* Evitar a ingestão de cafeína antes de dormir
* Criar uma rotina relaxante antes de dormir, como ler um livro ou praticar mindfulness
* Desconectar as telas e notícias antes de dormir, como técnicas de relaxamento
Fonte: O Tempo