Dados preliminares de pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) indicam que apenas 45% das mulheres que dão à luz no país realmente planejam a gravidez. Um inquérito sobre parto e nascimento está sendo produzido desde fevereiro de 2010 pelo Projeto Nascer no Brasil, em âmbito nacional. Com o objetivo de conhecer as complicações maternas e as dos recém-nascidos brasileiros, o projeto já entrevistou 22 mil mulheres, ou seja, 92% do total a ser pesquisado, em 191 municípios e 266 estabelecimentos de saúde do país. O estudo aponta ainda que 53% dos partos no Brasil são cesáreos, especialmente no Centro-Oeste e Sudeste.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, de 4.610 nascimentos ocorridos no município, sendo mães de Uberaba e de cidades da região, 3.071 foram por cesariana. No ano passado, de 4.769 nascimentos, apenas 1.604 foram partos naturais. Na avaliação do obstetra da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), João Ulisses Ribeiro, esse é um número importante e preocupante. Do total de mulheres atendidas pelo Hospital de Clínicas, referência na área, 70% são de gestações de alto risco, das quais em torno de 48% terminam em cesarianas.
No entanto, o médico ressalta que o número de cesarianas tem crescido nos últimos tempos devido ao aumento de complicações nas gestantes da região. “Daí a necessidade da pesquisa da Fiocruz, recomendada pelo Ministério da Saúde. A cesariana não deixa de ser considerada um fato de evolução dentro da resolução da gestação, desde que seja bem indicada. Se o médico tentar um parto normal em uma gestação de alto risco, há perigo tanto para a mãe como para a criança. Na verdade, se a cesariana é bem indicada, ela é salvadora. No entanto, há um detalhe: à medida que o médico indica a cesariana, diminui a mortalidade até certo ponto. Depois, a mortalidade começa a aumentar quando é desnecessária”, esclarece.
Por isso, o obstetra alerta que a Organização Mundial de Saúde estabeleceu um limite, e o índice de cesarianas deve ser de apenas 15% do total de nascimentos no Brasil. Em Uberaba, o índice está em cerca de 50%. Na avaliação do especialista, a gravidez tardia seria um dos motivos para o aumento do número de cesarianas. “Primeiro as mulheres procuram se estabelecer na carreira profissional, na vida financeira e cultural, para depois pensar em construir uma família. Com isso, o parto será mais tarde, o que consequentemente trará repercussões, primeiro porque após os 35 anos a incidência de doenças como diabetes, hipertensão e lúpus é muito maior. São doenças que aparecem no ciclo reprodutivo da mulher e que interferem na incidência de cesarianas”, frisa João Ulisses Ribeiro.
Aspectos preocupantes. Além de revelar esse alarmante percentual de falta de planejamento reprodutivo, o estudo já dispõe de informações sobre aspectos como interrupção na gravidez, assistência pré-natal, local e acompanhamento de parto. Os resultados da pesquisa apontam que apenas 1,2% das mulheres em todo o país não realizam assistência pré-natal, sendo 2,2% delas na região Norte e 0,6% na região Sul. Em torno de 86% das mulheres realizam o pré-natal no sistema público - sendo 43% delas somente no SUS e 43% no sistema misto - e 14% no sistema privado, sendo 22% no Sudeste, 5% no Norte e 6% no Nordeste. Com relação a como o parto foi pago, quase 84% foram pagos pelo Sistema Único de Saúde, e 16% pelos Planos de Saúde.