Toda medicação pode causar reação anafilática ou alérgica, e farmácias não têm estrutura para oferecer suporte de emergência no caso de uma ocorrência
Por determinação da 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, um estabelecimento do Rio Grande do Sul deve pagar indenização por danos morais a paciente que perdeu a mobilidade de um dos braços após uma injeção. Segundo o Recurso Especial interposto pela mulher, ela recebeu aplicação de uma injeção do remédio Voltaren na região do antebraço esquerdo. Mas as advertências contidas na bula do medicamento não foram observadas. O procedimento resultou na necrose dos tecidos, na deformação da região, perda de parte da função motora do braço lesionado da cliente, que fez diversas cirurgias corretivas. Além disso, o fechamento de uma farmácia este mês, em Campo Grande, onde o dono do estabelecimento estaria aplicando injeções sem ter um curso especializado, chamou a atenção para um perigo à saúde da população e deixou um pergunta no ar: Quem pode aplicar uma injeção?
De acordo com o enfermeiro Paulo André Lacerda Alves, a questão é polêmica, já que toda administração de medicamentos incorre em algum risco à saúde. “Toda medicação é um corpo estranho que, ao ser colocado em nosso organismo, pode causar uma reação intensa, conhecida como reação anafilática. E as farmácias não têm estrutura para oferecer o suporte de saúde de emergência no caso de ocorrências como essa”, revela.
O especialista destaca que, segundo a Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) nº 44 de 2009, os estabelecimentos farmacêuticos podem emitir parâmetros fisiológicos através da aferição de pressão arterial ou teste de glicemia e o farmacêutico é habilitado a aplicar medicações desde que ele tenha um curso de aprimoramento nesta área e desde que a farmácia ofereça estrutura física para realizar o procedimento. “Algumas medicações, porém, são de uso e administração exclusivos do ambiente hospitalar. Creio que a falta de cuidado com a administração de alguns medicamentos específicos seja um dos grandes problemas. Sabemos que em muitos estabelecimentos esse algoritmo de cuidados não é seguido à risca”, alerta o enfermeiro.
Por isso, Paulo André Lacerda Alves recomenda que, ao receber a prescrição médica de um medicamento injetável, a população procure um local que possua as condições necessárias para o bom atendimento. “Quando uma pessoa precisa da aplicação de um medicamento, o mais fácil seria que ela fosse até uma unidade de saúde. Porém, quando a pessoa opta por utilizar o serviço da farmácia, ela precisa verificar se há uma sala adequada para a aplicação do medicamento e questionar o profissional farmacêutico a respeito de sua habilitação para administrar esse medicamento. A farmácia deve ter essas informações disponíveis de forma acessível ao cliente”, completa o enfermeiro.