Da violência doméstica ao divórcio; do desemprego ao empreendedorismo. A pandemia traz à tona alguns dos problemas sociais latentes na população brasileira.
Desde o início da pandemia de Covid-19, a rotina e os hábitos de vida mudaram drasticamente não somente para os brasileiros, mas também para a população mundial. Tarefas diárias como idas ao supermercado ou um jantar em família na pizzaria da esquina foram ressignificadas. O que exigiu muita disposição, criatividade, e resiliência nos mais diversos aspectos da nossa vida cotidiana.
No percurso de tantas mudanças, vieram à tona alguns dos obstáculos mais comuns enfrentados por famílias ao redor do mundo. Problemas estes que estavam escondidos em uma rotina sobrecarregada de tarefas e que se expressam agora através de estatísticas preocupantes das quais revelam desde a carência de políticas públicas para medidas de suporte familiar até a capacidade quase infinita que o brasileiro tem de reinventar. Motivos de preocupação
Há pouco mais de um mês do início do isolamento social no Brasil as denúncias de violência doméstica manifestaram um aumento significativo. O número de casos quase dobrou a cada mês a mais no avanço do confinamento e, temendo represália por parte dos seus parceiros, muitas vítimas recorrem aos aplicativos que simulam atividades cotidianas e assim denunciá-los.
Um exemplo são as plataformas disfarçadas de sites para compras online ou camuflados em vídeos de automaquiagem. Estas plataformas visam criar um acesso seguro para que pessoas confinadas possar denunciar seus agressores enquanto seus parceiros despendem algumas horas de distração no online cassino.
Ainda assim, é preocupante que, embora o número de denúncias dos casos de violência doméstica tenha aumentado, o número de boletins de ocorrências para estes casos não aumentou na mesma proporção. Isto mostra a ineficiência do Estado em proteger as vítimas que se encontram ainda mais vulneráveis à coerção dos seus agressores e reféns da violência doméstica no contexto da pandemia. Consequências que não surpreendem
Apesar de muitos ainda não contarem com uma saída rápida e segura para se proteger da violência doméstica, outra estatística surpreende: o número de divórcios! Parece que no contexto do confinamento, muitos parceiros descobriram que dividir o mesmo teto não era tão suportável assim.
Houve um aumento de mais de 10% em interrupções matrimoniais em 2020 quando comparados ao ano anterior. Como fatores propulsores estão a facilitação dos processos de divórcios extrajudiciais, que pode ser feita em Cartório de Notas desde 2007; a desburocratização de processos de interrupção matrimonial, que podem ser feitos online; e o confinamento forçado entre parceiros, revelando a incompatibilidade entre casais.
Outra estatística interessante, e que não surpreende, é o aumento da ocorrência de acidentes que vitimizam crianças e idosos. Com o início de pandemia, creches, escolas e lares de idosos tornaram-se locais de alta probabilidade disseminação do vírus. Assim, com a interrupção das atividades escolares presenciais ou com a remoção de entes queridos de lares onde o fluxo de visitas os vulnerabiliza, crianças e idosos tornam-se vítimas da falta de cuidado especializado.
Sem dúvidas que a criançada vem desafiando a habilidade dos pais em mantê-los ocupados e ao mesmo tempo seguros. Mesmo com toda a dedicação parental, acidentes como queimaduras, cortes ou machucados tem ocorrência cada vez mais elevada. A situação não é muito diferente em relação aos idosos, onde é comum acidentes oriundos de tropeços e escorregões, já que muitas casas convencionais não estão devidamente adaptadas para receber a rotina de um idoso com segurança. Lobo mau disfarçado de vovozinha
O índice de empreendedorismo é outro que aumentou significativamente com o início da pandemia. Por um lado, é uma estatística que pode nos encher de orgulho por revelar a versatilidade do brasileiro em meio à crise econômica, certo? Errado! Este é um dado preocupante e que é constantemente utilizado com maestria no contexto político para camuflar a inexistência de políticas públicas que amenizem as consequências da pandemia na economia do País.
O aumento do empreendedorismo é um jeito pomposo de dizer que a economia está naufragando e, sem saber como prover o sustento de suas famílias, o brasileiro ‘empreende’. Aqui é importante lembrar que muito do que chamamos de empreendedorismo não passa de trabalho informal, que suga as horas de trabalho dos brasileiros sem garantias de bons salários, arrecadações tributárias ou perspectiva de melhores salários.