O Comitê de Enfrentamento do Novo Coronavírus da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) elencou uma série de argumentos, pautados em teses cientificas. O parâmetro reforça a necessidade do isolamento social e refuta a flexibilização do mesmo.
O grupo de defende a tese em um artigo, com base em nove argumentos científicos calcados em critérios da Organização Mundial de Saúde (OMS), estudos de instituições renomadas, como a Imperial College, além da experiência de países como Alemanha e Singapura.
Ainda segundo o comitê, a retomada gradual das atividades econômicas proposta pelo Programa Minas Consciente – protocolos disponibilizados pelo estado às prefeituras mineiras desde 30 de abril – é prematura e pode anular os benefícios proporcionados pela quarentena, como redução da taxa de mortalidade e de contaminação pelo novo coronavírus.
No estado, os especialistas recorrem à trajetória da pandemia no interior para demonstrar o descontrole da disseminação. Números da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) citados pelos pesquisadores mostram que, em 6 de abril, 56% dos óbitos confirmados em Minas eram procedentes de cidades de menor porte. Um mês depois, em 6 de maio, o índice já era de 76%. Por que ainda não é o momento para flexibilizar o isolamento social? 9 argumentos da UFMG
• A transmissão do vírus no Brasil ainda não está controlada;
• Nosso sistema de saúde ainda não está detectando adequadamente as pessoas com COVID-19 em Minas Gerais;
• Ainda não há um planejamento para a realização de testes em amostra representativa da população;
• É necessário aprimorar a sistematização e a transparência das informações relativas aos serviços de saúde (profissionais, disponibilidade de leitos, insumos de EPI, respiradores);
• Os protocolos com as medidas preventivas e de controle em ambientes de trabalho, espaços públicos e escolas ainda não foram amplamente divulgados e debatidos nos diversos setores da nossa sociedade.;
• É insuficiente ainda o investImento em campanhas que promovam o engajamento da população e conscientização para adesão às medidas preventivas;
• É preciso esclarecer como será a vigilância e o controle de possíveis novos casos importados de outras cidades e estados;
• A “imunidade de rebanho” não irá acontecer tão cedo;
• Ainda não há suficiente alinhamento da política de prevenção entre o nível federal e estadual para garantir ações coordenadas e efetivas.
A primeira razão alegada para manutenção das medidas restritivas é o fato de que a transmissão do vírus tanto no Brasil, como em Minas, não está controlada. Com mais de dez mil mortos por COVID-19, o país ocupa o 6° lugar no ranking mundial de óbitos pela doença, cuja propagação ocorre em proporções exponenciais.
A publicação também alerta para a capacidade de esgotamento hospitalar no interior. Em 4 de maio, 6 das 14 macrorregiões mineiras já estariam com 90% dos leitos de terapia intensiva ocupados.
Rebanho
Outro tópico levantado pelos membros do comitê é que a polêmica “imunidade de rebanho”. No caso do novo coronavírus, os estudiosos ressaltam que o custo humano e social dessa solução poderia ser altíssimo em Minas. A imunidade em massa, afinal, só pode ser alcançada quando mais de 70% da população é infectada. Uma projeção feita no artigo mostra que, aplicando nesse contexto a letalidade média da COVID-19 de 1%, observada em países com como a Alemanha, pelo menos 145 mil mineiros teriam que morrer para a medida ter “êxito”.
Não há garantias de que os anticorpos adquiridos pelo contágio do Sars-CoV-2, o vírus da COVID-19, seja uma garantia duradoura contra a infecção.
Testagem
A subnotificação casos e a ausência de um planejamento de testagem para o estado também preocupam a UFMG. Segundo o comitê, o estado testa, efetivamente, 11% dos casos suspeitos de coronavírus, o que faz da amostra pouco representativa da real expansão da pandemia. Diante desse cenário, a flexibilização do isolamento ocorreria no escuro, uma vez que, sem testes, não há como monitorar a medida, ou mesmo acompanhar a evolução do surto.
O governador Romeu Zema (Novo) admitiu recentemente à imprensa que a testagem em massa está descartada em Minas, alegando falta de recursos para financiar o método - posicionamento reiterado pelo Secretário de Estado de Saúde, Carlos Eduardo Amaral em 29 de abril durante reunião remota com deputados na Assembleia Legislativa.
*Com informações do Estado de Minas