Devido à Covid-19, Roberval Ferreira, de 53 anos, teve 25% do pulmão comprometido e enfrenta dificuldade na retomada do ritmo de exercícios de antes. Ele foi a um hospital do Governo Federal vinculado à Rede Ebserh/MEC – o Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB), em Belém – e, por meio de jogos de videogame que captam movimentos do corpo, encontrou atividades especializadas para recuperar o seu condicionamento físico.
A gameterapia, que já é utilizada como tratamento há cerca de um ano pelo Ambulatório de Reabilitação Pulmonar e Oncológica do HUJBB, atua em conjunto com os exercícios aeróbicos e de resistência e, dependendo da necessidade do paciente, jogos de diversas modalidades – como tênis, boxe, ou boliche – são inseridos na rotina. “Eu fiz [gameterapia] semana passada e senti o impacto no corpo, sinal de que estou sedentário e preciso fazer mais atividade física”, comenta Roberval. Ele intercala o videogame com atividades na bicicleta ergométrica e treinos com halteres e faixas elásticas. “O atendimento aqui é muito bom, me sinto melhor a cada sessão”, afirmou.
Dentre as principais sequelas no pós-Covid estão fadiga, declínio de qualidade de vida, fraqueza muscular, dor nas articulações, dispneia, tosse, necessidade persistente de oxigênio, ansiedade, depressão, perturbação do sono, transtorno de estresse pós-traumático, entre outras perturbações. Na maioria das vezes, os sintomas são causados pela internação prolongada, que impede o paciente de se movimentar por muitos dias, e pelo uso excessivo de medicamentos.
Já o motoboy Francisco José Lima, de 38 anos, foi diagnosticado com Covid-19 em junho deste ano. Ficou 29 dias internado e precisou ser intubado durante 17 dias. Quando recebeu alta, percebeu que continuava fraco, sem forças para realizar atividades diárias. Por isso, foi encaminhado para o programa de reabilitação pulmonar pós-Covid do Hospital Universitário de Brasília (HUB-UnB), unidade que também faz parte da Rede Ebserh/MEC, e já percebeu melhora. “Me sinto vitorioso por estar vivo. Estou batalhando pela minha saúde e só tenho a agradecer”, contou Francisco.
O programa de reabilitação do HU-UnB/Ebserh/MEC tem oito semanas de duração, com atividades três vezes por semana, sendo duas no hospital e uma em casa, com orientação do fisioterapeuta responsável. No HUB, os exercícios são realizados no ginásio da Unidade Multiprofissional, em horários exclusivos para pacientes do projeto. Para garantir a segurança de todos, a capacidade do espaço foi reduzida pela metade e a higienização foi reforçada. O local conta com aparelhos para exercícios aeróbicos e de musculação, que trabalham carga e resistência. O HUB também oferece suporte de oxigênio por cateter nasal para quem ainda depende do oxigênio durante a realização das atividades (veja o vídeo ao final da matéria).
Equipe multiprofissional
No Núcleo Pós-Cuidados Intensivos do HC-UFPE/Ebserh/MEC, no Recife (PE), o paciente passa, em um dia, pela avaliação de uma equipe multiprofissional formada por médicos, enfermeiros, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, nutricionistas e psicólogos. “A partir daí, já com os resultados dos exames colhidos no início da manhã, discutimos o caso e montamos um plano terapêutico para cada paciente, além de um cronograma de retornos ao hospital para as diversas etapas da reabilitação. Tudo isso num único dia”, explica a médica intensivista do HC, Renata Beltrão, que coordena o Núcleo.
Essa agilidade na reabilitação do paciente é muito importante para devolver a qualidade de vida o mais rápido possível. “O objetivo é que o paciente reduza o seu tempo de busca pela assistência no sistema de saúde e receba suporte para marcação das consultas e exames, promovendo reabilitação física, cognitiva e psicossocial, devolvendo suas capacidades funcionais após a alta da UTI”, afirma Renata Beltrão.
Outro hospital da Rede Ebserh/MEC a oferecer atendimento pós-Covid é o Hospital Universitário Júlio Bandeira (HUJB-UFPB/Ebserh/MEC), em Cajazeiras (PB). A unidade conta com fisioterapeutas em escala de revezamento para dar suporte a pessoas com sequelas pós-Covid 19. O objetivo é melhorar a qualidade de vida dos pacientes, oferecendo um programa de reabilitação pulmonar baseado em técnicas de expansão do pulmão e remoção de secreção, fazendo com que ele volte a realizar as atividades diárias normalmente.
Pioneirismo
O ambulatório pós-Covid-19 do Hospital Universitário da Rede Ebserh/MEC na cidade de Rio Grande (HU-Furg/Ebserh/MEC), no Rio Grande do Sul, ultrapassou a marca de 600 atendimentos. O serviço foi o pioneiro no Rio Grande do Sul, implantado em 5 de outubro de 2020, e conta com a participação de 22 profissionais do HU e da Residência Integrada Multiprofissional Hospitalar com Ênfase na Atenção à Saúde Cardiometabólica do Adulto (RIMHAS), prestando atendimento nas especialidades de infectologia, clínica médica, reabilitação física e respiratória, psicologia, pneumologia, cardiologia, neurologia, nefrologia, pediatria e nutrição.
Já na cidade de Pelotas, o Hospital Escola (HE-UFPel/Ebserh/MEC) conta com o primeiro ambulatório de Pelotas para o cuidado multidisciplinar dos sobreviventes da doença. O ambulatório conta com equipe formada por médicos pneumologista e fisiatra, além do atendimento multiprofissional de fisioterapia, terapia ocupacional, psicologia e educação física. De acordo com a chefe da Divisão da Gestão do Cuidado do hospital, Patrícia Noguez, o encaminhamento dos pacientes para a reabilitação com a equipe multiprofissional será feito conforme a necessidade percebida durante a primeira consulta com o médico pneumologista.
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) foi criada em 2011 e, atualmente, administra 40 hospitais universitários federais.