Dados do Ministério da Saúde apontam a violência infantil como a segunda principal causa de mortalidade no país, que só fica atrás das mortes de crianças provocadas por doenças do sistema circulatório. Em razão disso, em junho é celebrado o Dia Internacional das Crianças Vítimas de Agressão. A data foi criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) com o objetivo de prevenir a violência. Embora seja apenas uma data, a questão exige reflexão diária.
Segundo o psicólogo Fernando Silva Teixeira Filho, a família é fundamental para o desenvolvimento saudável da criança, pois é a partir do convívio com pais, irmãos e outros parentes que ela aprende boa parte das capacidades essenciais para a vida adulta. Porém, grande parte das agressões acontece dentro de casa ou é praticada por algum familiar próximo. “O que é importante observar do tipo de especificidade da violência, e não exatamente daquela que será objeto da violência, é que, quando ela se dirige à criança, em geral a criança não é socialmente constituída como um ser de direitos. Tanto não é que foi preciso se produzir um Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), para que ela pudesse ter voz. Então, os adultos precisam observar o modo como a criança, de certa maneira, vai reagir a esse tipo de violência”, afirma.
O especialista explica que a violência contra a criança, em geral, é intrafamiliar, vai acontecer nas quatro pareces da casa da família e é silenciosa, porque a criança é ameaçada. “Essa é uma importante diferença entre a agressão destinada ao adulto e à criança. De um adulto para outro, é mais difícil esse adulto ameaçado ficar em silêncio, não é impossível, mas com a criança isso se torna mais comum. Por isso é preciso prestar atenção a essa especificidade da violência infantil e a data se torna importante para que as pessoas possam lembrar que esse tipo de violência existe, é recorrente, é mais comum do que as pessoas imaginam e necessitamos de atitudes, bem como de estratégias políticas contundentes, para de alguma forma ser erradicada”, alerta o psicólogo.
Fernando Silva ressalta que este é um trabalho complexo de reconstrução do conceito de família e das relações humanas, ainda que já existam leis que tratem do problema quando ele já aconteceu. Para o psicólogo, é preciso que existam ainda ações e medidas em médio e longo prazo e de forma preventiva, para que não ocorram novas agressões contra crianças. (TM)