De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a depressão deverá ser a doença mais comum em 2030, afetando mais pessoas do que qualquer outro problema
Segundo o psicólogo Sérgio Henrique Marçal, depressão é uma palavra usada
frequentemente para descrever sentimentos de tristeza vivenciados em algum momento da vida
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a depressão deverá ser a doença mais comum em 2030, afetando mais pessoas do que qualquer outro problema de saúde, como câncer e doenças cardíacas. E o Brasil é o país com a maior prevalência da patologia no último ano, com 10,8% da população apresentando o distúrbio mental.
Segundo o psicólogo Sérgio Henrique Marçal, depressão é uma palavra usada frequentemente para descrever sentimentos de tristeza vivenciados em algum momento da vida. Entretanto, é importante destacar que essas emoções podem ser positivas se significarem a elaboração de lutos, encerramento de ciclos e crescimento emocional. “Deste ponto de vista, vivificar o sofrimento é normal”, posiciona o psicólogo. É necessário, porém, atentar quando essa tristeza passa a ser constante e a interferir no cotidiano da pessoa, afetando a qualidade das relações e implicando negativamente na rotina produtiva que cada um tem para si. “É importante dizer que a depressão é uma doença mental e, como qualquer outra, precisa de tratamento adequado para que se tenha qualidade de vida e se evite agravos”, esclarece Sérgio.
Para caracterizar o diagnóstico de depressão foi criada a tabela do DSM IV, O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, sendo que, para se fechar esta análise, cinco ou mais dos sintomas relacionados devem estar presentes. Dentre eles, um é obrigatóri estado deprimido ou falta de motivação para as tarefas diárias há pelo menos duas semanas. Outros indícios também são avaliados, como anedonia, que é o interesse diminuído ou perda de prazer para realizar as atividades de rotina, sensação de inutilidade ou culpa excessiva, dificuldade de concentração, fadiga ou perda de energia, distúrbios do sono – insônia ou hipersônia praticamente diárias, problemas psicomotores, perda ou ganho significativo de peso na ausência de regime alimentar e ideias recorrentes de morte ou suicídio.
O psicólogo pontua que o corpo também dá sinais de que o paciente está em depressão. Normalmente, são relatadas sensações de desconforto no batimento cardíaco, boca ressecada, constipação, dores de cabeça, dificuldades digestivas acompanhadas de enjoos, entre outros. “Períodos de melhoras e pioras são comuns, o que cria a falsa impressão de que se está curando sozinho. Até o diagnóstico, praticamente todas as pessoas possuem explicações para o que está acontecendo com elas, julgando sempre ser um problema passageiro”, retrata.
Em relação às causas, Sérgio Henrique explica que não é possível atribuir a depressão a um fator exclusivo. A explicação mais provavelmente correta é o desequilíbrio bioquímico dos neurônios responsáveis pelo controle do estado de humor. “Esta afirmação se baseia na comprovada eficácia dos antidepressivos. Uma vez que se trata de uma condição chamada de multifatorial”.
Marçal opina que eventos desencadeantes são estudados constantemente. De fato, há relação entre certos acontecimentos traumáticos na vida das pessoas e o início de um episódio depressivo. Contudo, tais situações não podem ser responsabilizadas pela manutenção da depressão. Na prática, a maioria das pessoas que sofrem um revés se recupera com o tempo. “Se os contratempos da vida causassem depressão, todas as pessoas a eles submetidas estariam deprimidas, e não é isso o que se observa”, relata o psicólogo, acrescentando que situações estressantes provavelmente disparam a depressão em pessoas predispostas, vulneráveis.
A influência genética, como em toda medicina, é muito analisada. Trabalhos recentes mostram que, mais do que a hereditariedade, o ambiente durante a infância pode predispor mais as pessoas. Outro fator são os medicamentos de uso continuado. Entre eles estão os anti-hipertensivos, as anfetaminas (incluídas em diversas fórmulas para controlar o apetite), os benzodiazepínicos, as drogas para tratamento de gastrites e úlceras (cimetidina e ranitidina), os contraceptivos orais, cocaína, álcool, anti-inflamatórios e derivados da cortisona.