O conhecimento sobre como determinadas células do cérebro funcionam como uma espécie de GPS interno pode levar a novas terapias para doenças que comprometem a orientação espacial, como o Alzheimer, de acordo com o neurocientista Jaderson Costa da Costa, diretor do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul, da PUCRS. Na segunda-feira, 6, três cientistas foram laureados com o prêmio Nobel de Medicina por suas descobertas sobre as células do cérebro que permitem que as pessoas se localizem no espaço.
“Esta descoberta é de extrema importância para a neurociência, pois permitiu começar a compreender como nos orientamos no espaço e como memorizamos as posições e coordenadas”, diz Costa, acrescentando que esse conhecimento pode ser usado tanto na avaliação e diagnóstico quanto no desenvolvimento de terapêuticas para pacientes que têm comprometimento da orientação espacial e que se perdem com frequência.
O pesquisador brasileiro já participou de estudos que só foram possíveis graças às descobertas que renderam o Nobel. É o caso de uma pesquisa que chegou a um novo instrumento de avaliação para quantificar o comprometimento da memória de orientação espacial de pacientes com Alzheimer. Esse instrumento baseou-se justamente nas pesquisas experimentais com ratos, feitas por John O’Keefe, um dos pesquisadores laureados com o Nobel, na segunda-feira.
“Neste estudo, os pacientes com a doença de Alzheimer inicial, quando comparados a idosos saudáveis, apresentaram média de acertos baixa (48,13%), enquanto o grupo controle teve média de 89,35%, indicando que o teste de memória de orientação espacial proposto foi sensível à identificação de déficits desse tipo de memória. Por outro lado, nosso estudo também sugere que, ao contrário dos roedores, a memória de orientação espacial humana não é função exclusiva do hipocampo”, explica o pesquisador.
À Reuters, a pesquisadora Uta Frith, professora de desenvolvimento cognitivo do University College London, disse que O’Keefe mostrou que “é possível literalmente mapear a mente”. “Ele fez muito mais do que descobrir mecanismos neuronais no cérebr ele descobriu os mecanismos cognitivos que explicam como seres humanos e outros animais se localizam”, disse. “Esse belo trabalho anunciou uma nova era na exploração do cérebro e da mente.”
Sobre o trabalho do casal May-Britt e Edvard Moser, que complementou a pesquisa de O’Keefe, o professor de fisiologia, desenvolvimento e neurociência da Universidade de Cambridge Bill Harris disse que ele “não apenas revolucionou nossa compreensão sobre esse quebra-cabeça incrível que é o cérebro, mas também abriu as portas para os problemas sobre memória de orientação espacial, sobre como aprendemos e lembramos de rotas de percursos e sobre o que o sono e os sonhos podem estar fazendo para nossa memória e performance”.